11 ANOS DE ESPERA

Em meio a rachaduras, moradores do Abençoada por Deus recebem título de posse de apartamentos

Mais de 10 anos depois de ganhar apartamentos, moradores vão receber as escrituras dos imóveis. Problemas estruturais dos prédios já são visíveis

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Publicado em 06/11/2019 às 14:44
Foto: Filipe Jordão/ JC Imagem
Mais de 10 anos depois de ganhar apartamentos, moradores vão receber as escrituras dos imóveis. Problemas estruturais dos prédios já são visíveis - FOTO: Foto: Filipe Jordão/ JC Imagem
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Já são 11 anos morando no Conjunto Habitacional Abençoada por Deus, no bairro da Iputinga. Antes, Andrea Maria da Silva morava com filhos em uma comunidade de mesmo nome, na Torre, Zona Norte do Recife. Lá as casas eram de palafita ou de barro. Apesar de ser proprietária - por direito - do apartamento onde mora, doado pela Prefeitura do Recife em 2008, a dona de casa só vai receber a escritura do imóvel hoje. O título de posse chega com uma década de atraso e desperta nos moradores o medo de que os diversos problemas que atingem os 32 blocos também virem propriedade deles. 

Quando Andrea e outras 427 famílias receberam os apartamentos prometidos a situação era diferente. Não havia rachadura, infiltração ou esgoto entupido. A proposta era o recomeço. O problema é que o tempo foi passando e a sensação entre quem vive lá é de esquecimento. “A Prefeitura abandonou a gente. São muitos problemas, muitas reclamações e nenhuma solução. Eu cheguei aqui encantada, mas hoje em dia me pergunto se não seria melhor estar na favela. Era ruim mas ninguém tinha medo do prédio desabar na cabeça”, desabafa Andrea. Segundo ela, nem quem mora no térreo escapa das água da chuva. “Tem dia que quando chove a gente se molha menos na rua do que dentro de casa. Não importa o andar, tem água minando da parede em todo canto”, diz. 

São 428 apartamentos abrigando cerca de duas mil pessoas. Pelas ruas do habitacional não faltam sinais do esquecimento. Sem nunca terem recebido pintura nova, os prédios são reflexo da ação da água por dentro e por fora. Para quem vive no Abençoada por Deus,  o inverno é, sem dúvidas, a pior época do ano. Depois que ele passa, ficam os problemas para resolver. “Já pintei umas três vezes, já botei massa corrida, já botei gesso. A gente faz as coisas, mas quando chove estraga tudo”, conta o capinador Nildo Alexandrino da Silva, que mora no conjunto desde 2011. No apartamento dele, que fica no terceiro andar, parte do reboco já caiu e os móveis precisaram ser levados para outro local para não estragarem com a água. 

No térreo, o apartamento de Michele Kátia Henrique também sofre com o problemas estruturais. Por causa das infiltrações, as rachaduras se intensificaram e a porta do imóvel já não fecha com facilidade. “A porta emperra e a rachadura, que vem do terceiro andar, só aumenta. Já chamei a Defesa Civil, eles tiraram foto e nada foi resolvido”, frisa. “Fica todo mundo com medo, é absurdo, mas se não temos condições de ir para outro lugar… Eu agradeço muito pela minha casa, só que tem coisas que a gente fica indignada. Espero que com o recebimento do título a Prefeitura não fique ainda mais displicente com a situação”. 

Uma vistoria foi feita pela Defesa Civil em 2017. Em alguns blocos, segundo o órgão, foi identificada a necessidade de intervenções na infraestrutura. As demandas foram repassadas para a Secretaria de Habitação do Recife, que não se pronunciou sobre o assunto.

Posse

Apesar dos problemas, as famílias que vivem lá estão animadas com a ideia de receber, finalmente, a escritura dos imóveis onde vivem. O processo foi lento, mas deve beneficiar todos os proprietários de um única vez. A demora, segundo a secretária de Habitação do Recife, Isabella de Roldão, se deu por causa dos trâmites. “Hoje é exigência da Caixa que o título seja entregue junto com a chave, mas antigamente não era. O problema é que isso depende de várias análises de cadastro e trabalhos de cartório que burocratizaram ainda mais o processo”, explica. Até dezembro, a expectativa é que moradores de outros quatro habitacionais, que não foram divulgados, deixem de ter apenas a posse e passem a ter o título de proprietários. 

Nestes 11 anos, segundo a presidente da Associação de Moradores do Habitacional Abençoada por Deus, Edleuza Maria de Lima, os proprietários tinham apenas um termo de entrega de chaves. A demora para a oficialização também nunca foi explicada. “Ninguém aqui sabe porque nunca deram. Demoramos anos para conseguir ter esse lugar para viver e parece que depois que entregaram lavaram as mãos e esqueceram da gente. Finalmente vou sentir que é nosso”, diz. Agora, para o estudante Rivaldo Albuquerque, a sensação de segurança é maior. “Nossa vida mudou completamente, mas faltava esse documento para atestar que realmente é um bem nosso, que ninguém poderá tirar da gente”, comenta. O evento de entrega acontece nesta quarta-feira (6), às 19h, 

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