FOLIÕES MIRINS

Carnaval na infância ajuda a manter viva tradição do Frevo

A ida dos pequenos foliões para os festejos carnavalescos não só diverte, mas ajuda a formar senso democrático e manter vivas tradições seculares

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Publicado em 02/03/2019 às 7:40
Foto: Felipe Ribeiro/ JC Imagem
A ida dos pequenos foliões para os festejos carnavalescos não só diverte, mas ajuda a formar senso democrático e manter vivas tradições seculares - FOTO: Foto: Felipe Ribeiro/ JC Imagem
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Eles se fantasiam, se pintam, pulam, brincam, cantam e se aprontam. Por vezes, o amor pelo Carnaval é herança dos pais, dos primos, dos avós... Ou, em outros casos, já nasce com eles e só cresce a cada ano de folia. Independente de como seja, os pequenos, enquanto se divertem, têm papel importante na preservação da tradição carnavalesca de Pernambuco.

Desde os seus seis anos, Vinícius Arthur Zacarias, 16 anos, leva o estandarte do Pinto da Madrugada. A tradição é de família e começou com seu avô, José Fernando Zacarias, que carrega o estandarte do Galo da Madrugada desde o início do bloco. O garoto diz que esta é a melhor parte do Carnaval. “Eu espero o ano todo por esta festa. Desde pequeno carrego o estandarte do Pinto da Madrugada e me divirto muito, mesmo sendo uma responsabilidade”, conta. Para o avô, Sr. Zacarias, é um orgulho ver o neto seguindo seus passos e continuando a tradição. “O menino tem jeito. Um dia vai me substituir”, registra. O desejo é compartilhado por Vinícius, que está crescendo e já se vê sendo porta estandarte do Galo depois que o avô se aposentar.

Para Nicole Costa, antropóloga e gerente-geral do museu Paço do Frevo, as versões mirins das agremiações, como no caso do Pinto da Madrugada, são de extrema importância na continuidade dos festejos. “É um trabalho muito importante porque pensam nas crianças como portadoras dessas tradições. As agremiações, com seu estímulo ao Carnaval, tem participação importante no mantimento do frevo, desde seu surgimento no século XIX. Tudo está em constante mudança, até o que é tradicional, e nesse aspecto, as crianças são o veículo propulsor dessas mudanças e das novas interações com o universo carnavalesco”, pontua.

E Frevo é o que não falta na casa da dona de casa Juscia Sampaio. Lá, a folia fica por conta de três Marias. As meninas, filhas dela e do gerente operacional Ronaldo Araújo, são apaixonadas pelos festejos de momo. As gêmeas Maria Eduarda e Maria Julia, de oito anos, adoram o Carnaval. A mais nova, Maria Rita, vai no mesmo pique das irmãs.

Ansiosas, as meninas já pularam e brincaram nas prévias do mês de fevereiro. E, se depender delas, não vai faltar disposição para a brincadeira nos dias oficiais de Carnaval. “Elas são verdadeiras foliãs. Adoram dançar e gostam de Frevo, inclusive pedem que a gente coloque vídeos para que elas aprendam todos os passos”, comenta a dona de casa, destacando que essa paixão é de família, já que o pai das meninas é folião e até já teve bloco de carnaval. “Tá no sangue”, diz.

Para quem é folião, a relação com o carnaval é sempre muito forte, mas quando isso acontece ainda na infância e com a participação da família, essa ligação se torna ainda mais especial, como explica a historiadora e pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Rita de Cássia Barbosa. “A criança se envolve naquela situação com muito afeto, muita emoção e isso cria um sentimento de pertencimento à festa. E quando isso é feito pela família, é passado de geração, cria uma ligação ainda maior. Isso é notado secularmente quando analisamos as agremiações, que tinham muita base familiar e que seguem até hoje passando essa atividade de geração em geração. Ainda que a pessoa não compreenda, mantém por ser uma prática tradicional da família”, analisa.

Além de ser peça fundamental na preservação e consolidação das manifestações carnavalescas, para Rita de Cássia, a ida dos pequenos aos festejos de momo também contribui formação social da criança. “O Carnaval é uma oportunidade para educar as crianças para a (con)vivência democrática, para formar cidadãos e para que elas comecem a formar o sentido de cidadania e a exercê-la. Isso quando a festa é vivenciada nos espaços públicos, que permitem a convivência entre os iguais e os diferentes sociais, culturais, raciais, geracionais”, acrescenta.

Ou seja, não faltam motivos para levar os pequenos para brincarem na folia. No Recife e em Olinda, por exemplo, não faltam atrações para a criançada se divertir nos dias de momo

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