Especialistas de trânsito não aprovaram a extensão do horário sem multas para motoristas que avançarem o sinal vermelho em vias do Recife. A mudança, publicada no Diário Oficial da cidade no último sábado (18), prevê que, das 22h às 5h, os condutores que avançarem o sinal vermelho e forem flagrados por meios eletrônicos não serão multados. Anteriormente, o período tinha início a partir das 23h. Apesar da alteração a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) informou que caso o condutor seja visto cometendo a infração por um agente de trânsito poderá ser multado.
Para Renato Campestrini, advogado especialista em trânsito, a mudança pode ocasionar o aumento no número de acidentes de trânsito. De acordo com ele, como às 22h é um horário em que alunos do turno da noite de instituições de ensino costumam largar, os pedestres também podem sofrer com a mudança. "Os pedestres irão ficar mais vulneráveis, assim como quem está nos automóveis. Alguns condutores vão entender que vão poder passar pelo sinal vermelho sem consequências. A pessoa vai querer ganhar tempo, vai querer passar. O brasileiro ainda não tem a cultura da segurança do trânsito como algo bem fortalecido", ponderou.
O especialista questiona, também, se algum tipo de estudo foi realizado para motivar a mudança. "Seria interessante observar o número de roubos nessas ocasiões. Existe uma estatística em relação a isso? Esses dados têm que ser confrontados, para afirmar que a medida é necessária. Se você tem dados que nessa localidade tem roubo, você direciona a ação para lá, por exemplo", pondera Renato. O Jornal do Commercio entrou em contato com o Serviço de Defesa Social (SDS) para solicitar os números de assaltos a veículos na cidade, mas foi informado que o órgão não disponibiliza tais tipos de dados.
Leonardo Meira, professo do Departamento de Engenharia Civil na Área de transporte da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), entende que a proposta visa diminuir o risco de assaltos em cruzamentos da cidade. Porém, ele alega que a medida pode pôr a segurança pública acima da segurança viária. "Como cidadão e especialista da área, eu entendo a lógica do legislador, mas o ideal era que a gente melhorasse a segurança pública. Acredito que os pedestre devem ficar mais atentos com a mudança", aconselha o especialista.
Diante das ponderações dos especialista, a reportagem do JC procurou o autor da proposta, o vereador Carlos Gueiros (PSB), para esclarecer as razões que o levou a elaborar o projeto. De acordo o vereador, a ação foi motivada para evitar que motoristas fiquem "disponíveis a certo marginais" em cruzamentos das avenidas da cidade. Para o político, a mudança não afetará o pedestre. "O pedestre é outra história. Se alguém que, indevidamente, ultrapassar a sinalização e cometer um acidente, o sinal mostra quem foi o culpado, quem atropelou alguém", explicou.
Confira a entrevista completa:
Jornal do Commercio - Qual o objetivo do projeto?
Carlos Gueiros - A intenção foi a seguinte: não podíamos desligar o semáforo, porque você corre o risco de batida em alta velocidade. Portanto, a gente está propondo que, quando o motorista estiver em lugar ermo e ficar disponível a certo marginais, ele possa por conta própria avançar o sinal. Com isso, ele não dará sopa para o assaltante e não será multado.
JC - Como que ocorreu a elaboração do projeto, houve algum estudo ?
CG - Eu fiz um levantamento com meu pessoal, sobre o problema. Perguntamos aos motoristas "olha,o que você acha de estar parado aqui, com movimento nenhum? Eles responderam que tinham que parar, porque a multa é cara. Mas todos disseram que avançavam o sinal se o local não tivesse câmera. Foi apenas uma pesquisa, com a intenção de diminuir o risco. Conversamos com o pessoal da CTTU e eles apenas ponderaram que não desligariam o sinal.
JC - Você acredita que, com a mudança, os pedestres ficarão mais vulneráveis?
CG - O pedestre é outro história. Se alguém que indevidamente ultrapassar a sinalização e cometer um acidente, o sinal mostra quem foi o culpado, quem atropelou alguém. Até porque o código de trânsito diz que o pedestre tem preferência. Se eu estou dirigindo e vem um pedestre, eu paro e deixo passar, independente, se ele atravessa na faixa ou não. Eu tenho que dá preferência segundo o código. Quando você diz que o sinal não gerará multa, o cidadão (motorista) que vem, ele olha antes no sinal e diminui a velocidade, se não ver ninguém, ele avança.
JC - Como o senhor avalia a repercussão da mudança entre a população?
CG - Eu só tenho recebido no meu Facebook, meu Instagram, todas as minhas redes, congratulações pelo que tenho feito. Se algum grupo quiser fazer essa pesquisa, e conseguir provar o contrário, eu desmancho. Se provarem que é o resultado é maléfico, mais do que benéfico, eu mudo. Eu fiz isso em cima de uma pesquisa feita, pedido dos amigos e dos eleitores, e só enho recebido resposta positiva. Estou aberto a quem provar o contrario, estou aberto para mudar caso fique provado.