Doenças

Migrações favorecem mais esquistossomose

Obras da transposição do Rio São Francisco têm atraído muita gente para o Sertão pernambucano

Veronica Almeida
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Publicado em 14/04/2011 às 16:15
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A vigilância no Sertão de Pernambuco para a esquistossomose aumentou em razão das obras de transposição do Rio São Francisco, que têm atraído à região trabalhadores de áreas endêmicas da doença, como a Zona da Mata. A história mostra que a disseminação da enfermidade no Estado acompanha a mobilidade das pessoas. Infectadas, elas passam a morar em áreas sem saneamento e com o caramujo transmissor, abrindo caminho para que outros tenham contato com a doença.

Infográfico

Esquistosomosse  - a doença, o caramujo e a prevenção

Exames de fezes realizados em grupos da população, no ano passado, encontraram mais de nove mil infectados pelo Schistosoma mansoni, conforme a Secretaria Estadual de Saúde. Em Alagoas foram mais de dez mil casos e, em, Minas Gerais, 17.161, conforme o Ministério da Saúde.

A coordenadora do programa de controle da esquistossomose no Estado, Bárbara Silva, explica que são 99 municípios endêmicos em Pernambuco, onde 25% ou mais das pessoas examinadas têm o parasita no corpo. “A doença não está disseminada em todo o território dessas cidades, mas em localidades rurais”, esclarece.

Os endêmicos, onde há transmissão permanente da doença, estão no litoral, na Zona da Mata e no Agreste. Há ainda outras dez cidades onde há presença do caramujo e menos de 25% da população examinada está infectada. E áreas vulneráveis, como municípios do Sertão e Fernando de Noronha. “Já detectamos a presença do caramujo no ambiente, mas como não há água nessa região de seca, ainda não verificamos a transmissão às pessoas”, diz Bárbara Silva. Têm ocorrido surtos agudos da doença em praias do Grande Recife. Foi assim em Ipojuca na década passada e, no ano passado, em Pau Amarelo, em Paulista, Litoral Norte da RMR.

A médica Ana Lúcia Coutinho, gastroenterologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco acompanha há 40 anos a doença, tratando pessoas e desenvolvendo pesquisas. Herdou a missão do pai, Amaury Coutinho. “Os casos diminuíram, mas a doença se espalha porque há muitos alagados e rios no Estado”, avalia.

Embora numa proporção menor que no passado, Ana Lúcia continua recebendo doentes em estágio avançado das complicações. Há semanas que são três casos. Talvez isso explica o grande número de mortes: foram 153 em 2009.

Maria Dias Victor, 62 anos, nascida em Nazaré da Mata, Zona da Mata, viveu na sua cidade até os 20 anos, tomando banho no Rio Tracunhaém. Descobriu só em 1993 que tinha pego o verme, quando já sofria de problemas sérios. Tem varizes no esôfago e sofreu hemorragia digestiva. O pedreiro Edivaldo Pereira, 42, morador do Cabo de Santo Agostinho, passou dez anos sofrendo até descobrir, em 2001, quando operou o baço, que tinha esquistossomose. “Sinto dor, perdi peso, tenho problema no pulmão e ainda não consegui me aposentar.”

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