urbanismo

Bairro do Recife funcionará como laboratório para ações urbanísticas da próxima gestão municipal

Além de câmeras de segurança, embutimento da fiação elétrica e wi-fi com cobertura em todo o bairro, um investimento em calçadas e vias deverá garantir melhor mobilidade ao local

Diogo Menezes
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Diogo Menezes
Publicado em 15/12/2012 às 16:29 | Atualizado em 07/03/2020 às 2:21
Foto: Bernardo Soares/JC Imagem
Além de câmeras de segurança, embutimento da fiação elétrica e wi-fi com cobertura em todo o bairro, um investimento em calçadas e vias deverá garantir melhor mobilidade ao local - FOTO: Foto: Bernardo Soares/JC Imagem
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Inicialmente batizado de Freguesia de São Frei Pedro Gonçalves, o Bairro do Recife é o mais antigo da capital pernambucana. Para além do simbolismo de abrigar o Marco Zero da cidade, o bairro é carregado por uma afetiva relação com os recifenses, que se sentem pertencentes ao bairro, apesar de não estarem lá as suas residências. Servindo de “cemitério de carros” durante o dia – como os transeuntes do lugar costumam dizer –, a ilhota do Recife Antigo sintetiza os grandes problemas do município hoje, desde a questão da violência ao desafio da mobilidade. E é dela que deverão partir as mudanças necessárias para toda a cidade.

 

Com pequena extensão territorial, cerca de 270 hectares, o Bairro do Recife funcionará como laboratório para as ações da próxima gestão municipal, e quem garante isso é a própria equipe do prefeito eleito, Geraldo Julio (PSB). “Não existe projeto para a cidade que não tenha o Bairro do Recife como âncora. Tudo terá origem no coração da cidade”, afirma Antônio Alexandre, que assumirá a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Planejamento Urbano em janeiro. Além de câmeras de segurança, embutimento da fiação elétrica e wi-fi com cobertura em todo o bairro, um investimento em calçadas e vias deverá garantir melhor mobilidade ao local. O objetivo é reduzir a quantidade de veículos que trafegam e, principalmente, que ficam estacionados nas ruas. Hoje, existem nas ruas do bairro 776 vagas para carros e 60 para motos. Quem trabalha na ilha, conta que é preciso chegar muito cedo para conseguir estacionar.

 

De acordo com Antônio Alexandre, haverá estudos para limitar a circulação de veículos no Bairro do Recife: “O bairro tem que ser devolvido aos cidadãos. Não é para ser tomado por carro, mas por gente. Esse é o princípio.” O uso de transporte coletivo e de bicicletas será estimulado. “A longa permanência deve ser resolvida com transporte público”, opina Milton Botler, presidente do Instituto Pelópidas Silveira. Mas nem todos veem o ônibus como uma opção. “Se o transporte coletivo funcionasse, eu não viria de carro. Mas a realidade não é essa”, justifica Erika Nóbrega, executiva de contas. As queixas de quem não abre mão do carro incluem a demora, o calor e a lotação dos ônibus. Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Geraldo Marinho aponta a crescente oferta de estacionamento privado no Bairro do Recife como sintoma de que as coisas não estão indo bem.

 

A intermodalidade é vista como a única solução para o problema do trânsito no bairro e na cidade. O arquiteto César Barros, ex-presidente da Empresa de Urbanização do Recife (URB), acredita ser necessário “acabar com os binários do bairro”. E, diante da pequena área territorial da localidade, ele aposta numa circulação de ônibus condensada no Cais do Apolo (em frente à prefeitura). Assim, as demais ruas ficariam livres para ciclovias, passeios e baixo fluxo de veículos individuais. “É preciso diminuir a quantidade de carros, ampliar as alternativas de sombra, alargando calçadas e estreitando vias”, comenta, fazendo referência ao recente projeto que produziu para a mobilidade no Bairro do Recife. Hoje, 56 linhas de ônibus percorrem as principais ruas da ilha. Ideias consonantes com a do arquiteto estão mencionadas no programa de governo do novo prefeito, que contempla também a adoção de BRT (Transporte Rápido por Ônibus). Não está no programa, mas Antônio Alexandre também fala sobre a possibilidade de restringir a circulação de veículos no bairro durante os domingos e da utilização do estacionamento da prefeitura nesses dias, por exemplo, como uma medida que liberará as ruas para circulação de pessoas. “O conceito está firmado, mas os detalhes ainda precisam ser estudados”, afirma.

 

Enquanto as condições não mudam, cada um faz o que pode para ter acesso ao Bairro do Recife. Desde acordar mais cedo para garantir uma vaga na rua, até utilizar bicicleta associada aos barcos que fazem a travessia do Marco Zero ao Parque das Esculturas, alternativa adotada pelo designer Guilherme Botelho há um ano e meio. Morador de Boa Viagem, ele não utiliza nenhuma das quatro pontes que dão acesso à ilha. Prefere aproveitar a ciclovia da beira-mar, pegar um barco até Marco Zero e, de lá, pedalar poucos metros até o seu local de trabalho. Apesar da recente aquisição de um carro, manterá a rotina de ciclista. Tanto para evitar o trânsito quanto para poupar gasto com estacionamento.

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