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O lixo e o bom exemplo que vem da população

A coleta seletiva no Recife é uma ação tímida e isolada. Depende mais do trabalho de catadores e da vontade dos moradores do que de iniciativa do poder público. Das 2,5 mil toneladas de lixo produzido na cidade, todo dia, só duas toneladas são recolhidas como material reciclável

Do JC Online
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Publicado em 11/11/2013 às 1:56
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Numa cidade que produz 650 toneladas de lixo potencialmente reciclável por dia e a prefeitura faz a coleta seletiva diária de apenas duas toneladas, a população precisa se virar para dar uma destinação correta ao papel, plástico, vidro e metal descartados. A saída encontrada por moradores do Recife que não contam com o serviço oferecido pelo município, mas querem contribuir com um ambiente saudável, é separar os materiais e entregar a cooperativas, associações ou catadores individuais.

A iniciativa, na maioria das vezes, parte dos catadores. Eles procuram os condomínios e se prontificam a recolher o lixo reciclável. Foi assim que a coleta seletiva entrou nos Edifícios Míriam Esteves (Casa Forte, Zona Norte), Versailles e Cote D’Azur (Boa Viagem, Zona Sul), áreas nobres da capital. “Começamos com uma cooperativa de catadores, há seis anos, mas hoje entregamos a carroceiros”, diz Dennis Manchester, síndico do Míriam Esteves.
Como os catadores sabem que o condomínio faz a separação, passam e recolhem os sacos, diz ele. Cada pavimento do prédio tem dois baldes, um para os moradores depositarem resíduos de cozinha e banheiro, outro para os recicláveis.

Os Edifícios Versailles e Cote D’Azur fazem a doação a uma associação de catadores, há quase cinco anos. “O volume de recicláveis é bem maior, quando comparado com o lixo orgânico. Fazendo a separação, estamos ajudando os catadores a ter uma renda”, declara Antônio Manoel Silva, porteiro do Cote D’Azur. “A gente se envolve no trabalho, quando o morador não separa o lixo por produto, o zelador faz isso”, completa José Manoel da Silva, porteiro do Versailles.

Antônio Manoel defende mais compromisso da prefeitura com a coleta seletiva. “O município poderia ser um parceiro dos prédios e dos catadores, fortalecendo o trabalho das cooperativas”, declara. “Enquanto a prefeitura recolhe, por dia, duas toneladas de material reciclável, os dois mil catadores do Recife tiram 200 toneladas diariamente”, diz o engenheiro Bertrand Sampaio, do Instituto de Tecnologia de Pernambuco, que trabalha com lixo desde 1984.

A prefeitura tem quatro caminhões para a coleta seletiva. Cada um pode carregar 10 toneladas por viagem, fazendo 30 toneladas por dia. “Tem caminhão que traz só 200 quilos” constata Laudiceia Maria Santos, da Cooperativa de Trabalho de Catadores de Material Reciclável, que recebe uma parte do lixo seco recolhido pelo município. “A coleta seletiva deveria ser feita pela prefeitura com as cooperativas, o catador tem o olhar diferenciado sobre o lixo. Porém, falta sensibilização, educação e vontade política”, diz José Cardoso, da Cooperativa de Trabalho de Catadores Profissionais do Recife (Pro Recife).

Criada há quase cinco anos, a Associação de Catadores O Verde é Nossa Vida trabalha na Zona Sul e faz a coleta de sete mil quilos de papelão por mês, em cinco prédios residenciais e duas empresas fixas, além de outras coletas avulsas, de acordo com o catador Edoaldo Francisco de Souza. O material coletado pelas cooperativas é vendido a empresas que fazem reciclagem.

A situação não é diferente em outros municípios do Grande Recife. Dois grupos existentes em Abreu e Lima recebem material reciclável de oito mil casas cadastradas. “A cidade tem 95 mil habitantes e alcançamos apenas 5% da população, sem apoio da prefeitura”, informam Vânia Maria da Silva (Cooperativa de Trabalho de Catadores) e Lindaci Maria Gonçalves (Cooperativa de Catadores Erick Soares).

“O trabalho funciona bem, desde 2007, tiramos nosso sustento da coleta. Nós fomos de porta em porta para convencer os moradores. Entregamos sacos para eles colocarem o lixo e botamos um adesivo no muro ou portão, indicando que a casa pratica a coleta seletiva”, diz Lindaci. “Com espaço e apoio da prefeitura, poderíamos chegar a 80% da cidade”, acrescenta.

Morador de Caetés II, em Abreu e Lima, Cláudio José dos Santos aderiu ao programa e disse que a separação do lixo é feita no bairro desde 2003, por iniciativa da esposa dele, Ivete Maria de Carvalho Santos. “Já está incorporada ao nosso dia a dia, contribuímos com o meio ambiente gerando emprego e temos a certeza da destinação correta do lixo”, destaca.

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