Atualizado às 12h30
A luta dos moradores da Comunidade Construindo Sonhos por moradoria é antiga. O local - que faz parte da Ilha do Joaneiro, no bairro de Campo Grande, Zona Norte do Recife - foi ocupado há nove anos. Aguardando pela liberação de recursos do poder público para construção de habitacionais do Minha Casa Minha Vida (uma promessa que se arrasta há anos), mais de 120 famílias perderam tudo no incêndio de grandes proporções na noite desta sexta (13). Neste sábado (14), pela manhã, em protesto, a comunidade bloqueou os dois sentidos da Av. Agamenon Magalhães, em frente à Construindo Sonhos.
Os moradores afirmam que a assistência que estão recebendo depois do incêndio não é suficiente, além de ter demorado para chegar pela manhã, só tendo a ajuda aparecido, segundo relatam, às 9h. A intenção dos moradores foi também chamar a atenção do novo ministro das Cidades, o pernambucano Bruno Araújo (PSDB), para o problema.
A população chegou a se articular para ir até a casa do prefeito do Recife, Geraldo Julio, mas decidiu dar um voto de confiança ao poder municipal depois que da abertura de um canal de diálogo e do agendamento de uma reunião ainda neste sábado (14) no final da tarde.
Ficou acordado que uma comissão de moradores será recebida pelo secretário municipal de Governo e Participação Social e presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, e pelo secretário estadual de Habitação e Obras e presidente da Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab), Marcos Baptista. O compromisso é também para que o prefeito os receba na segunda (16).
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"Nós somos vítimas do descaso e da omissão do poder público, nós exigimos do governo do Estado e do governo federal a liberação de recursos imediatos para o programa de habitação da Minha Casa Minha Vida (...) Vamos transformar a dor em luta", explicou Paulo André de Araújo, coordenador do Movimento Nacional de Luta Pela Moradia (MNLM).
Segundo a Defesa Civil, os que não puderam ser alocados para a casa de parentes passaram a noite na associação de moradores da ilha do Joaneiro, também em Campo Grande, próximo à comunidade. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros foram acionados para liberar a via. Não há mais retenção no local.
O secretário de Mobilidade e Controle Urbano da Prefeitura do Recife, João Braga, que chegou ao local do incêndio por volta das 11h, disse que está sendo feita uma nova contagem das famílias para que o município possa prestar assistência. Segundo Paulo André, do MNLM, um cadastro foi realizado pela Cehab há seis anos. "Queremos que o governo do Estado e a prefeitura intervenham junto ao governo federal, na pessoa do ministro Bruno Araújo, para acessar os recursos do Minha Casa Minha Vida", frisa.
Através de nota, a Secretaria Estadual de Habitação disse que "a comunidade Construindo Sonhos já está cadastrada pela equipe técnico social da secretaria e inserida em um projeto habitacional que será construído no bairro de Nova Descoberta destinado a comunidade. O Governo do Estado já cedeu o terreno e abriu o processo de chamada pública para a construção do habitacional que será executado através do Programa Minha Casa Minha Vida, na modalidade Entidades". Além disso, a passa afirmou que "está analisando e estudando medidas para minimizar os transtornos para as famílias até a entrega do habitacional".
Em nota, a prefeitura afirma que desde a noite da sexta-feira (13) se fez "presente no local com as secretarias de Defesa Civil, Desenvolvimento Social e Direitos Humanos e Governo e Participação Social dando assistência aos moradores que tiveram suas residências atingidas pelo fogo. No primeiro momento, as pessoas foram levadas para a associação de moradores. Lá, a Prefeitura distribuiu 130 colchões. Hoje pela manhã (sábado) a gestão municipal serviu café da manhã e nesse momento está sendo providenciado o almoço."
INCÊNDIO - Segundo a Defesa Civil, 126 famílias ficaram desabrigadas depois do incêndio, que teve início por volta das 20h dessa sexta-feira (13) e só foi controlado por volta das 00h deste sábado. Ainda não se sabe a causa do fogo, mas os moradores afirmam que o incidente aconteceu depois de um pequeno foco na entrada do conjunto, que se alastrou rapidamente.
Os moradores também afirmam que só um carro do Corpo de Bombeiros chegou ao local por volta das 20h e não conseguiu apagar o fogo sozinho e que só depois de 1h30 de espera o reforço chegou. Relatam ainda que a estrutura para combater o fogo era precária, com muitas mangueiras furadas, por exemplo. Segundo o Corpo de Bombeiros, a central recebeu a primeira chamada às 21h59, chegando ao local às 22h07. Sessenta homens do Corpo de Bombeiros trabalharam na ocorrência, onde 18 viaturas e pelo menos 95 mil litros de água foram utilizadas.