Patrimônio

Arquivo Joaquim Nabuco é ampliado no Recife com novas doações

A família do abolicionista Joaquim Nabuco entregará à Fundaj 5.641 documentos para complementar o acervo da instituição

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 25/07/2018 às 8:08
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A família do abolicionista Joaquim Nabuco entregará à Fundaj 5.641 documentos para complementar o acervo da instituição - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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O abolicionista pernambucano Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo (1849-1910) aprendeu com o pai a importância de reunir documentos e deixar para as gerações futuras uma história a ser escrita e divulgada. Fez isso a vida inteira e juntou mais de 20 mil textos, livros, diários, cartas, cartões-postais, fotografias, testamentos e inventários. Parte desse acervo foi doado à Fundação Joaquim Nabuco em 1974. Na manhã dessa terça-feira (24/07), ao celebrar 70 anos de vida, a Fundaj ganhou mais 5.641 peças para unificar o Arquivo Joaquim Nabuco.

“Demoramos a fazer a segunda doação porque é lento o trânsito do afeto da família quando se trata da entrega de acervo pessoal”, afirma o documentarista Pedro Nabuco, 50 anos, bisneto do abolicionista. Ele mora no Rio de Janeiro e veio ao Recife nessa terça-feira (24) para assinar o termo de doação do material. Na mesma solenidade realizada na sede Fundaj, em Casa Forte, bairro da Zona Norte da cidade, foram apresentadas as logomarcas comemorativas dos 70 anos da fundação e dos 40 anos de criação do Museu do Homem do Nordeste.

Os 5.641 documentos guardados no Rio de Janeiro chegarão à capital pernambucana até o fim de 2018 e se somarão aos 15.411 bens que compõem o Arquivo Joaquim Nabuco, considerado Memória do Mundo pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) desde 2008. “É um patrimônio do Brasil e expressa a nossa história, com a nova doação estamos cumprindo a tradição da família de tornar os documentos acessíveis as próximas gerações”, declara Pedro Nabuco.

Consulta

De acordo com o documentarista, parentes revelaram que já doente, em Washington, onde faleceu, Joaquim Nabuco teria dito à esposa: Se Pernambuco pedir os meus ossos tu não podes negar. “Ele está enterrado como foi seu desejo, no Cemitério de Santo Amaro (área central da capital). É um dever da família trazer os documentos ao Recife”, reforça. A presidente da Fundaj, Ivete Lacerda, estima em um ano o tempo necessário para liberar o acervo a consulta pública, depois de o material ser tratado, limpo, higienizado, catalogado e digitalizado.

A nova documentação está mais focada na vida pessoal de Joaquim Nabuco, representante parlamentar dos abolicionistas, diplomata, historiador e jurista. “Há, também, material referente à vida pública, porém a ênfase são as cartas trocadas com figuras importantes nacionais e internacionais; correspondências com a esposa, Evelina Torres Ribeiro (1865-1948); álbuns de fotos da família; diários de Nabuco, de Evelina e de Carolina (filha do casal)”, declara Rita de Cássia Araújo, pesquisadora da Fundaj.

O diário pessoal de Joaquim Nabuco, diz ela, não traz intimidades, mas as articulações políticas e as vivências culturais dos anos passados na Europa. As cartas resgatam uma rede de relações intelectuais, políticas e culturais. “O acervo contém muita documentação sobre o Engenho Massangana e o testamento de Ana Rosa (Falcão de Carvalho), madrinha de Nabuco e proprietária do engenho (Cabo de Santo Agostinho). Ao falar da vida pessoal ele traz, no contexto, todo um processo social e questões agrárias”, informa a pesquisadora.

Doação

Rita de Cássia destaca no material a fotografia de Maria Luiza, a mãe Rosa, ama seca do abolicionista e escrava de Ana Rosa. “É tão emblemática quanto a foto da escrava Mônica (famoso retrato de uma ama-de-leite ao lado de um menino branco do banco de imagens da Fundaj)”, compara. “Esse é um acervo importante e que chega num momento de crise política, social, institucional e ética sem precedentes no mundo e sobretudo no Brasil. Ao fazer a doação, a família confia numa instituição pública federal”, observa.

O acervo transferido para a Fundaj em 1974 motivou a criação do Centro de Documentação da História Brasileira (Cehibra), guardião dos 15.411 documentos referentes ao movimento abolicionista, à vida pública de Nabuco, obras que ele escreveu, produção intelectual, parte da biblioteca particular do diplomata, fotos e nove objetos museológicos. Com a ampliação, o Arquivo Joaquim Nabuco terá 21.052 peças.

Pedro Nabuco trouxe, simbolicamente, documentos que foram expostos na solenidade dessa terça-feira (24). Um deles é uma carta de agradecimento de Joaquim Nabuco aos deputados pernambucanos Hermilo Coutinho e Joaquim Francisco de Melo Cavalcanti, que abriram mão da candidatura em favor do abolicionista, no ano de 1887. “Ele tinha sido eleito e os escravocratas anularam o resultado”, diz o bisneto.

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