SAÚDE

Atitudes de Gildo sugerem psicopatia

Psiquiatra Kátia Petribú fala sobre a personalidade de pessoas que praticam assassinatos de forma tão cruel e reforça que é impossível dar qualquer diagnóstico a suspeitos sem antes analisá-los

Do JC Online
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Publicado em 27/06/2015 às 8:00
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Psiquiatra Kátia Petribú fala sobre a personalidade de pessoas que praticam assassinatos de forma tão cruel e reforça que é impossível dar qualquer diagnóstico a suspeitos sem antes analisá-los - FOTO: Tiago Calazans/Acervo JC Imagem
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Crimes cometidos de forma premeditada chamam a atenção de especialistas da área de saúde mental. Professora da Universidade de Pernambuco, a psiquiatra Kátia Petribú fala sobre a personalidade de pessoas que praticam assassinatos de forma tão cruel e reforça que é impossível dar qualquer diagnóstico a suspeitos sem antes analisá-los. 

JC – Como a psiquiatria considera a personalidade de pessoas como a de Gildo Xavier? 

KÁTIA PETRIBÚ – Não podemos dar diagnóstico nem fazer uma real análise de personalidade sem antes analisar bem uma pessoa. De qualquer maneira, pelo o que tenho acompanhado pela mídia, não vejo o episódio como consequência apenas de um caso de ciúme patológico isolado. Acredito que o comportamento de Gildo Xavier sugere traços de transtorno de personalidade antissocial, conhecido popularmente como psicopatia. É um distúrbio que tem muitas causas envolvidas, como questões neurobiológicas e genéticas, além de fatores relacionados com o meio em que a pessoa vive. Ainda assim, friso que não é possível dar qualquer diagnóstico. 

JC – Quais as características apresentadas por pessoas com psicopatia? 

KÁTIA – Geralmente podem ser pessoas frias, insensíveis, arrogantes, prepotentes indiferentes a situações que tendem a comover qualquer ser humano. Ao mesmo tempo, são pessoas que aparentam ser, à primeira vista, sedutoras e encantadoras, mas com características agressivas marcantes. São indivíduos que pensam muito em si mesmos e não sentem remorso quando passam por cima de alguém. Na verdade, em muitos casos, são pessoas que podem até sentir algum grau de prazer ao praticar um ato de crueldade. É bom frisarmos que existem vários tipos e graus de psicopatia e que nem todos os casos estão relacionados à prática de crimes tão cruéis. 

JC – Pessoas que se enquadram num quadro de psicopatia e chegam a praticar algum tipo de crime podem ter a punição aliviada? 

KÁTIA – Em linhas gerais, a psicopatia não é um atenuante de pena. O raciocínio é que as pessoas com esse tipo de transtorno têm real consciência do que praticaram. Elas geralmente premeditam ações e têm noção das atitudes que cometem. Outro detalhe importante: ao praticar algum crime, indivíduos com transtorno de personalidade antissocial imaginam que o ato jamais possa vir à tona porque se consideram onipotentes. É uma situação diferente de pessoas com outros transtornos mentais e que praticam algum tipo de crime porque ouvem vozes, por exemplo. 

JC – Qual é a prevalência da psicopatia? 

KATIA – Na nossa prática clínica, quando consideramos todos os tipos e níveis do transtorno de personalidade antissocial, falamos numa prevalência entre 10% e 15%. Mas não são todas essas pessoas que chegam a cometer crimes. A maioria tem condutas sociais mais ligadas à frieza, privação de emoção diante de situações comoventes e falta de remorso por ter maltratado alguém, por exemplo. E mais: são indivíduos que têm uma boa lábia. Socialmente, temos contatos com vários no dia a dia. 

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