A Polícia Civil de Pernambuco deflagrou, na manhã desta quarta-feira (5), a operação Terra Vermelha, para combater uma organização criminosa armada que praticava crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico, sequestro seguido de morte e tortura seguida de morte. A organização, inclusive, é suspeita de ter cometido o sequestro e o assassinato da comerciante Jussara Maria da Silva Pereira, de 33 anos, que foi retirada de dentro de sua casa, em Paudalho, na Mata Norte de Pernambuco e mantida em cativeiro. O caso aconteceu em fevereiro deste ano.
Vídeos da comerciante sendo ameaçada de morte pelos criminosos foram enviados para a família de Jussara. O corpo de Irmã Jussara, como era conhecida, nunca foi encontrado, mas a polícia considera que ela está morta. "O corpo não foi encontrado, mas houve confissão do crime. A confissão dos investigados, tivemos serviço de inteligência. Isso nos faz crer que ela foi morta e o corpo ainda não foi localizado, mas será em breve", relatou o delegado Jean Rockfeller, diretor da Diresp.
Segundo o delegado, o motivo da morte de Jussara seria uma briga interna dentro da organização criminosa, da qual o marido dela, o presidiário Marcos Rafael Pereira, fazia parte. "O motivo seria retaliação e disputa interna pelo controle da organização", completou Jean. A polícia conta, ainda, que o grupo teria atuação em todo o Estado, com destaque para as cidades de Barreiros e Paudalho. Dos 13 mandados expedidos, seis foram cumpridos contra detentos do sistema prisional e cinco contra pessoas em liberdade.
"Prendemos diversas pessoas que estavam na rua tentando executar as ordens que vinham do presídio. Conseguimos desarticular o núcleo que estava dentro do presídio. É um grupo muito forte, muito violento e que comandava o tráfico de drogas em parte de Pernambuco", declara Rockfeller. Ele explica que a investigação está em andamento e que a polícia está tentando localizar mais duas pessoas vinculadas ao crime, além do corpo de Jussara. Dos 13 mandados de prisão, pelo menos cinco destas pessoas tinham ligação direta com o sequestro e assassinato da comerciante. A operação Terra Vermelha aconteceu em 12 cidades simultaneamente, com a participação de cerca de 60 policiais civis.
A operação é vinculada ao Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Draco), sob a presidência do delegado Paulo Berenguer. "O marido de Jussara, Marcos Pereira, e o comparsa dele, Cleberson, encomendaram uma carga de drogas para outros três presidiários. Anderson Coelho, Genilson e o Valdisney. No curso da entrega da carga, ela foi desviada e saqueada, gerando uma dívida de R$ 45 mil - foram 2 kg de cocaína e 4 kg de maconha. Então, os vendedores da droga, como forma de forçar Marcos e Cleberson a pagar essa dívida, sequestraram a senhora Jussara, esposa de Marcos, resultando na morte dela. No meio criminal, ele [Marcos] era conhecido por ter essa conduta, por no momento da entrega das drogas, saquear e ficar com o lucro ilícito da venda. Por ordem de Marcos, essa carga foi saqueada na cidade de Caruaru, o que gerou o sequestro de sua esposa. O saque da droga aconteceu no dia 10 de fevereiro, a vítima foi sequestrada no dia 13 e por conta das investigações, podemos afirmar que ela foi morta entre os dias 14 e 15 de fevereiro", detalhou o delegado.
Todos as pessoas envolvidas pertencem a uma mesma organização criminosa e tinha tarefas definidas. "Temos os compradores das drogas, que são Marcos e Cleberson, os vendedores Valdisney, Genilson e Anderson, a equipe que fez o levantamento [de informações sobre Jussara] Élida, Geize, Lucas Nazaré e Eduarda e a equipe de execução imediata, do sequestro propriamente dito, formada por Paulo Henrique, o Buchada, o Lucas, conhecido por Caolho, Douglas, que tomou conta do cativeiro, o adolescente e o João Carlos que era o motorista. Então, temos 14 pessoas diretamente envolvidas com o sequestro", contou. Segundo Berenguer, a ordem para matar Jussara partiu de Genilson, Anderson Coelho e Valdisney.
O delegado informou ainda que foram feitas varreduras no local suspeito e que é possível afirmar que ela foi morta. "Temos 30 dias para encerrar as investigações e o nosso foco nestes 30 dias será localizar os restos mortais da vítima. Ainda não podemos afirmar que ela foi morta a tiros", pontuou.
Ainda estão foragidos Paulo Henrique Gomes da Silva, o Buchada e Lucas, o Caolho, que são moradores de Barreiros. Já existem alguns mandados de prisão contra ambos e o delegado responsável pelo caso os classificou como "elementos extremamente perigosos".
Jussara foi sequestrada em fevereiro
Jussara Maria da Silva Pereira, de 33 anos, teve a casa invadida por quatro homens no dia 13 de fevereiro deste ano, que, de acordo com a polícia, chegaram em um carro Jeep Renegade preto. A polícia já havia prendido suspeitos de realizarem o sequestro. Dois dias após o crime, homens foram detidos na cidade de Barreiros e foram identificados como João Carlos da Silva Moraes, de 23 anos, e um adolescente de 16 anos. João foi autuado em flagrante por porte ilegal de arma de fogo, extorsão mediante sequestro e corrupção de menores.
O cativeiro onde estava Jussara chegou a ser revelado, mas quando a polícia chegou ao local, houve uma troca de tiro com os bandidos e a vítima não foi encontrada. A última vez que a comerciante foi vista foi nos vídeos feitos pelos criminosos. Segundo as investigações, o marido da Irmã Jussara, Marcos Rafael, fazia parte do grupo e era responsável por comprar drogas, mas teria desviado a mercadoria em uma transação e, por isto, como punição, a mulher dele foi sequestrada e morta.
Durante a operação Terra Vermelha, a polícia Civil também cumpriu mandado contra Marcos Rafael, que está no Cotel. Na época em que Jussara havia sido sequestrada, ele cumpria regime semiaberto, no presídio de Canhotinho. Ele saiu da cadeia e planejava vingar a morte de Jussara, mas foi preso em março deste ano. Dois integrantes da organização continuam foragidos.