CASO LEANDRA

Nove dias após crimes, Justiça ainda não expediu mandado de prisão contra suspeito de matar esposa no Recife

O Ministério Público encaminhou pedido de prisão preventiva do suspeito ao TJPE nessa segunda-feira (17). Cabe, agora, ao tribunal decidir sobre o caso

Marcelo Aprígio
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Publicado em 18/02/2020 às 9:51
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O Ministério Público encaminhou pedido de prisão preventiva do suspeito ao TJPE nessa segunda-feira (17). Cabe, agora, ao tribunal decidir sobre o caso - FOTO: Foto: Reprodução
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Nove dias após o crime que vitimou a fotógrafa Leandra Jennyfer da Silva, de 22 anos, dentro da sua própria casa no bairro da Madalena, na Zona Oeste do Recife, o suspeito do feminicídio, o empresário e esposo da vítima, Raphael Cordeiro Lopes, de 32 anos, permanece livre porque o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) ainda não atendeu o pedido do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que pede que seja expedido mandado de prisão preventiva contra o suspeito.

Ao JC, o TJPE afirmou que "o processo foi distribuído por sorteio para a 3ª Vara do Tribunal do Júri da Capital, e chegou à unidade na manhã desta terça-feira (18)". O tribunal disse também que o juiz Abérides Nicéas de Albuquerque, responsável por julgar o caso, "deverá despachar até esta quarta-feira (19) dando vistas para o Ministério Público analisar os autos e se pronunciar".

Segundo a Polícia Civil, o pedido de prisão preventiva foi enviado na sexta-feira (14) ao MPPE, cinco dias após o feminicídio. A corporação alega ainda que, apesar do prazo para envio do inquérito policial ao MPPE ser de 30 dias, foi enviado em três. No mesmo dia, Raphael se apresentou na delegacia do Cordeiro, também na Zona Oeste, mas foi liberado por falta de mandado de prisão contra ele.

Nessa segunda-feira (17), o Ministério Público se pronunciou sobre o pedido da polícia e remeteu o processo ao TJPE, que designará um magistrado para julgar o caso.

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O delegado João Gustavo Godoy, responsável pelas investigações do crime, afirmou ao JC nessa segunda-feira (18) que não há previsão legal para o MPPE e o TJPE despacharem o caso. "O MP e o TJ não têm nenhuma previsão ou prazo, de acordo com a Lei, para decidir sobre esse caso", falou. "Pode durar dias ou meses. Há casos que duram anos", completou.

Relembre o caso

Leandra foi morta a tiros na madrugada do domingo (9), depois que ela e o suspeito haviam voltado de uma prévia de carnaval, em Olinda, no Grande Recife. Segundo a Polícia Civil, o casal teria iniciado uma briga e, depois de agressões físicas, o homem disparou contra a fotógrafa, que chegou a ser levada para o Hospital Getúlio Vargas, que fica no bairro do Cordeiro, também na Zona Oeste, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.

Os dois eram casados há quatro anos e tinham um filho de um ano e meio. Leandra também possuía um filho de um relacionamento anterior, de seis anos.

Suspeito era ciumento

Segundo a mãe de Leandra, Josiane Oliveira, os dois brigavam constantemente e Raphael era bastante ciumento. Nas redes sociais, o casal compartilhou vídeos e fotos momentos antes do crime, ainda durante a prévia de carnaval.

Peritos do Instituto de Criminalística (IC) estiveram no local onde a mulher foi assassinada, recolheram a arma usada pelo suspeito e dois celulares. Imagens das câmeras de segurança da casa ajudarão a polícia a entender a dinâmica do crime, desde o momento em que os dois chegaram da festa até a fuga do suspeito.

Por meio de uma nota, a Polícia Civil informou que o principal suspeito é o companheiro da vítima, que é ex-presidiário e usuário de drogas. A polícia também declarou que o homem está foragido e que esteve no local para fazer os primeiros levantamentos. O caso será investigado pela Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). O corpo de Leandra foi levado para o Instituto de Medicina Legal (IML), que fica no bairro de Santo Amaro, na área Central do Recife.

"Eu sempre dizia para ela: 'minha filha, se livre dele'"

A mãe de Leandra, Josiane Oliveira, conta que já havia aconselhado a filha diversas vezes para dar um fim ao relacionamento, devido aos comportamentos de Raphael. Josiane relata que ela criava o neto mais velho e que a fotógrafa havia se afastado da família depois que casou com o empresário. "Eu cheguei do trabalho hoje, que eu trabalhei ontem no De Bar em Bar, fui me deitar. Acordei com a ligação da menina que toma conta do filhinho dela, dizendo que havia acontecido um acidente. Ela disse que Leandra tinha sido ferida no braço. Quando eu chego, ela já vem chorando dizendo que minha filha estava morta", afirma.

De acordo com Josiane, após cometer o crime, Raphael teria ido na casa da babá do filho do casal e assumido que teria matado a esposa. Josiane explica que Raphael e Leandra brigavam com frequência e que, há uma semana, discutiu com o homem. "Eu disse: 'minha filha, você tem precisão disto não. Você sempre trabalhou comigo. Você não precisa estar se submetendo a isto'. Na minha presença ele nunca fez, mas meu neto de seis anos já falou para mim que Raphael havia dado um empurrão nela e que ela tinha caído no chão", acrescenta Josiane.

A mãe da fotógrafa relata que quem socorreu Leandra foi a babá do filho mais novo dela. "Se ele tirasse minha vida, eu tava satisfeita. Mas ele tirou a vida da minha filha. Ele me matasse e eu não queria saber de nada, mas ele matou minha filha", completou.

Projeto Uma por uma

Existe uma história para contar por trás de cada homicídio de mulher, em Pernambuco. O especial Uma por Uma contou todas. Em 2018, o projeto mapeou onde as mataram, as motivações dos crimes, acompanharam a investigação e cobraram a punição dos culpados. Um banco de dados virtual, com os perfis das vítimas e agressores, além dos trágicos relatos que extrapolam a fotografia da cena do crime.

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