Sertão

Casa da Cultura de Salgueiro será reaberta sábado, 26 de setembro

Espaço construído em 1920 para ser uma loja passou um ano fechado e vai abrigar oficinas de economia criativa

Emanuel Andrade
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Emanuel Andrade
Publicado em 21/09/2015 às 18:55
Foto: Diego Fernandes/Divulgação
Espaço construído em 1920 para ser uma loja passou um ano fechado e vai abrigar oficinas de economia criativa - FOTO: Foto: Diego Fernandes/Divulgação
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A diversidade cultural de Salgueiro, no Sertão Central – que já conta com aparelhos importantes como o Memorial do Couro, Casa do Sanfoneiro, Museu Levino Nunes Alencar e a Biblioteca Pública Francisco Augusto – ganha mais um reforço esta semana com a reabertura da Casa da Cultura, que ficou cerca de um ano fechada para reforma e restauração nas áreas externa e interna do prédio. O espaço, construído há 95 anos, fica no centro da cidade, próximo à Catedral de Santo Antônio e integra o patrimônio urbano da cidade sertaneja.

Um dos ícones da história socioeconômica do final do século passado, o prédio que abriga o órgão público de cultura foi construído em 1920 pelo coronel Veremundo Soares e teve seu auge como loja de varejo até o final da década de 70. Dando a largada como um dos eventos em torno do aniversário de 180 anos de fundação do município, que se comemora em 23 de dezembro, a Prefeitura entrega a casa no próximo sábado (26), às 19h, em solenidade comemorativa. Segundo o secretário de Cultura, Bruno Feitosa, a ocupação do espaço está sendo definida de acordo com a demanda dos artistas e produtores culturais, mediante uma escala específica de linguagens por temporada. 

“Entre as metas socioeducativas está a oferta de oficinas de capacitação para artistas e produtores. Os visitantes também poderão usufruir do espaço para exposições, apresentações artísticas, encontros, debates sobre literatura e palestras que estarão sempre na pauta”, acrescenta Bruno. Na nova estrutura e proposta de trabalho, a casa terá um café e terá escritório voltado para o desenvolvimento da economia criativa da região. 

O secretário diz que, na reforma, a construção original do prédio de dois andares foi mantida e ganhou dois novos banheiros. A aquisição pela prefeitura na década de 90 já tinha objetivo de dar suporte ao projeto cultural na comunidade. Ao se tornar espaço público, na fase inicial, a casa abrigou a primeira proposta enquanto espaço cultural, que foi acolher artesãos independentes e grupos organizados através de projetos sociais da rede municipal. De acordo com o prefeito Marcondes Libório de Sá, a edificação faz parte da história, memória e arquitetura urbanística do centro e se aproxima se fazer um século. 

“O prédio carrega marcas do passado recente por ter pertencido a um dos maiores empreendedores do Sertão pernambucano, que comercializada todo tipo de produto. Era um homem que tinha afinidades com cultura, foi amigo de Luiz Gonzaga e chegou a ter uma música em sua homenagem, chamada Balaio de Varemundo, portanto, é um legado cultural que merece ser preservado”, argumenta Libório.

EXPOSIÇÃO

Para a agenda de abertura da Casa da Cultura, o público vai poder conferir a exposição fotográfica completa – O Sertão de Zé do Mestre, que já passou pelo Recife e ficou uma temporada no Memorial do Couro, traduzindo o universo cultural dos vaqueiros, a partir das vestimentas, costumes e aboio no cenário da caatinga. Morador da comunidade da Cacimbinha, zona rural de Salgueiro, Zé do Mestre é um famoso vaqueiro e artesão que, aos 82 anos, mesmo com as limitações impostas pela saúde, está em atividade com ajuda do filho Irineu do Mestre. 

Além de artesão do couro, ele também dialoga com a poesia popular e gosta de contar causos com sua veia humorística. A cada imagem feita pelo fotógrafo José Rodrigues, o visitante vai conhecer a rotina e habilidade de Zé do Mestre começando pelo dom que desenvolveu sem frequentar escola de artes para produzir indumentárias como gibão, perneira, chapéu, bota, luva, guarda-peito, chicote e corda de relho para amarrar o boi. Junto com as fotos em policromia estarão algumas peças de couro confeccionadas por ele. 

Personalidades a exemplo de Ariano Suassuna, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-governador Eduardo Campos, a presidente Dilma Roussef, Gilberto Gil, Dominguinhos, entre outras, já foram presenteados com as peças saídas da Cacimbinha.

 

A HISTÓRIA DE VEREMUNDO, O AMIGO DE GONZAGÃO

 

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De 1924 a 1927, o coronel Veremundo Soares foi prefeito de Salgueiro, durante o governo estadual de Sérgio Loreto. Em depoimento ao extinto Jornal da Manhã, o então governador Agamenon Magalhães expressou que Veremundo era “a expressão mais forte, fiel, confiante, mais exaltada pela terra e disciplina de todas as forças de trabalho”.

Salgueiro estava na rota do cangaço de Virgulino Ferreira (Lampião). Enquanto esteve na liderança da comunidade jamais aceitou a presença de cangaceiros, apesar das constantes ameaças de Lampião. Prefeito, parteiro, fazendeiro, comerciante, industrial, dono de farmácia e de maternidade foram algumas das inúmeras atividades que ele abraçou. 

Há registros sobre outras façanhas como a instalação da lavoura mecanizada e eletrificação rural. Foi um dos pioneiros da indústria na cidade. O coronel chegou a receber a Carta patente de Capitão Cirurgião do 257º Batalhão de Guarda Nacional de Salgueiro pelo trabalho que fazia. No livro Coronel, Coronéis – Apogeu e Declínio do Coronelismo no Nordeste, de Marcos Vinicius Vilaça e Roberto Albuquerque, consta que Veremundo nasceu pobre, frequentou o curso primário, era autodidata e tinha o hábito regular da leitura. Ainda jovem tocava clarinete e saxofone. Apreciava dançar o baião, ritmo musical que foi popularizado por Luiz Gonzaga. Morreu em 1973, aos 94 anos, em Salgueiro, e foi sepultado com honras militares.

Confira aqui reportagem publicada no JC há um ano, quando a reforma começou.

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