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Recusa da família é o principal empecilho para a doação de órgãos

Somente 23% dos potenciais doadores realizam o procedimento no Estado e a não aceitação dos familiares é o motivo da maior parte das negativas (44%)

Marina Barbosa
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Marina Barbosa
Publicado em 23/09/2014 às 8:03
Foto: Michele Souza/JC Imagem
Somente 23% dos potenciais doadores realizam o procedimento no Estado e a não aceitação dos familiares é o motivo da maior parte das negativas (44%) - FOTO: Foto: Michele Souza/JC Imagem
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Em fevereiro, Cleidson do Nascimento nasceu de novo. Ele recebeu um transplante de coração e venceu a doença que já havia causado a morte do irmão mais velho. Mas, infelizmente, nem todos têm a mesma sorte do rapaz de 19 anos. Seu irmão, por exemplo, esperou seis meses pelo procedimento, mas não encontrou um coração compatível. Em Pernambuco, outros 1.289 pacientes aguardam um órgão. No Brasil, esse número sobe para 28.226. O dado impressiona, mas não é o que mais preocupa. Se todos que podem doar órgãos fizessem isso, essa lista seria bem menor. O problema é que somente 23% dos potenciais doadores realizam o procedimento no Estado. O motivo da maior parte das negativas é simples e triste:a recusa da família.

Segundo a Secretaria de Saúde de Pernambuco, entre janeiro e agosto deste ano, foram identificados 376 potenciais doadores no Estado – pacientes diagnosticados com morte encefálica (quando o cérebro para de funcionar mas o restante do corpo continua “vivo” por algumas horas). No entanto, apenas 87 desses casos realizaram a doação. Ou seja, 289 pessoas aptas ao procedimento deixaram de doar os órgãos, o correspondente a 77% dos casos. Os motivos da negativa variam, mas quase sempre (44% das vezes) batem na mesma tecla: a não permissão dos familiares. 

As justificativas para a negativa são diversas. Muitos alegam que os entes-queridos não eram a favor do procedimento, mas também há quem tenha medo que o corpo fique deformado com a retirada dos órgãos, quem queira enterrar o corpo “inteiro, como nasceu” e quem tenha esperanças de uma melhora do quadro clínico, apesar da morte encefálica. “Sabemos que este é um momento de extrema dor, mas as pessoas precisam desmistificar a doação e perceber que muitos pacientes dependem disso para viver. Este é procedimento seguro e legal. Não há danos para o corpo e a morte encefálica é irreversível”, assegura a coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco, Noemy Gomes, que pede para aqueles que têm vontade de doar órgãos informarem os familiares do desejo.

Com um coração e uma vida nova, Cleidson do Nascimento já avisou a todos que quer doar seus órgãos "paa salvar outras vidas". "Com o transplante, nasci de novo. Estou vivendo melhor que antes, até respirar é diferente. As pessoas precisam se conscientizar e doar mais. Há pessoas que esperam anos pelo transplante e esta é a única esperança delas. Perdemos um, mas ganhamos outros com a doação”, diz, apoiado pelo pai, Luiz Carlos do Nascimento, 46. “Também vou doar. O sofrimento de quem espera um transplante é muito grande, nós temos que ajudar. E eu só posso agradecer o que fizeram pelo meu filho dando uma nova chance de vida para outra pessoa”, afirma.

Veja o vídeo da campanha de doação de órgãos da Central de Transplantes de Pernambuco:

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