SAÚDE

Os pediatras se renovam com grandes desafios

Mudanças no padrão da saúde levaram médicos a ter um olhar mais apurado para a infância e resgatar importância da especialidade

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 20/06/2015 às 13:00
Edmar Melo/JC Imagem
Mudanças no padrão da saúde levaram médicos a ter um olhar mais apurado para a infância e resgatar importância da especialidade - FOTO: Edmar Melo/JC Imagem
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Há cinco décadas, os pediatras enfrentavam um grande desafio: debelar a subnutrição e as doenças infecciosas capazes de tirar a vida dos bebês. Num universo de cada 10 crianças nascidas vivas, uma não fazia nem o primeiro aniversário. Com o avanço da medicina, a missão de quem cuida hoje dos pequenos vai além do combate à mortalidade infantil. A incumbência é mais complexa: ao preservar os primeiros anos de vida, os médicos miram o futuro, ao criar estratégias para criar hábitos saudáveis que se perpetuem até a velhice. Esse compromisso, abraçado por pediatras de todo o Brasil, marca o início das comemorações do cinquentenário da residência de pediatria do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip).

Nos dias 26 e 27, a instituição sedia o 2º Encontro de Ex-médicos Residentes do Imip, que resgata o atendimento pediátrico do passado e apresenta os desafios da atualidade, que exigiram a reformulação do currículo para formação de novos pediatras (ver matéria ao lado). Além disso, o evento comemora a volta da pediatria como ramo de interesse dos estudantes de medicina, depois de a especialidade passar aproximadamente uma década no esquecimento.

“Em Pernambuco, para a residência de pediatria, a concorrência é de oito candidatos por vaga. Em 2011, essa relação era de três para uma. Isso mostra o resgate da nossa especialidade e o interesse por parte dos recém-formados”, diz Eduardo Jorge da Fonseca Lima, coordenador-geral das residências do Imip. Ele faz parte do universo de mais de 700 pediatras que foram treinados pelo instituto surgido do espírito solidário do professor Fernando Figueira (1919-2003). 

 

Aos 51 anos, Eduardo Jorge reconhece que a pediatria tem novos caminhos a percorrer, o que exige do médico reciclagem constante. “Precisamos desenvolver novas competências para lidar com configurações familiares modernas e aspectos sociocomportamentais apresentados pelas crianças de hoje. Devemos estar preparados, por exemplo, para lidar com temas que têm invadido consultórios, como hiperatividade, autismo e bullying.”

Para os pediatras que viram a especialidade nascer nos corredores do Imip, o progresso da especialidade não deve deixar de lado a relação íntima entre médico e paciente. “Apesar de toda a tecnologia, vivemos o resgate da humanização na pediatria, considerada a principal marca de Fernando Figueira, que conseguiu acabar com a indústria do leite artificial nas maternidades”, diz o pediatra Marcello Pontual, 73. Representante da primeira turma de residência de pediatria do Imip, ele continua em atividade na profissão. 

Voluntário da instituição que o formou e o tornou preceptor, Marcello Pontual se orgulha de ver o progresso da especialidade que exerce há quase cinco décadas e também de compartilhar experiências com a atual geração de pediatras. Só no consultório particular, ele reúne fichas de 16.395 pacientes. “Toda a felicidade que sinto, ao longo desses anos, me dá ânimo para continuar proativo”, conta Marcello Pontual, conhecido por estar disponível 24 horas por dia para crianças que estão sob seus cuidados. “Não houve uma só vez que precisei falar com ele e tenha ficado sem retorno. Sempre nos passa segurança. Até o telefone da casa ele nos dá”, diz a analista judiciário Geane Lisboa, 46, mãe de Ingrid, 7 meses. 

O residente de pediatria Arino Oliveira Neto, 28, reconhece que o maior legado repassado pelos seus preceptores é a valorização de um atendimento humano. “Sem essa relação íntima, não dá para exercer pediatria. Todas as gerações mais antigas passam esse recado para quem está começando. A humanização é fundamental para acompanharmos o desenvolvimento da criança e termos boa relação com a família”, diz Aurino. 

Vez por outra, essa relação parece minguar. “Muitas mães se sentem seguras quando os pediatras se mostram conectados o tempo todo. Mas a gente tem que ter cuidado para não deixar de lado o contato com o paciente, que é o alicerce da boa medicina”, reforça a residente de pediatra Taiana Alves, 25.

Leia a matéria completa na edição deste domingo (21/6) do caderno Cidades

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