SAÚDE

Taxa de letalidade por chicungunha é questionada por especialistas

Notificações de óbitos em geral acima da média, em municípios pernambucanos que enfrentam ou passaram por surtos de chicungunha (historicamente conhecida por causar menos mortes do que a dengue), surpreendem médicos e autoridades de saúde. Secretaria de Saúde de Pernambuco já iniciou investigação

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 21/03/2016 às 6:04
Foto: Guga Matos/JC Imagem
Notificações de óbitos em geral acima da média, em municípios pernambucanos que enfrentam ou passaram por surtos de chicungunha (historicamente conhecida por causar menos mortes do que a dengue), surpreendem médicos e autoridades de saúde. Secretaria de Saúde de Pernambuco já iniciou investigação - FOTO: Foto: Guga Matos/JC Imagem
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As duas mortes por chicungunha confirmadas este ano no Recife fazem os especialistas e autoridades de saúde questionarem o grau de letalidade da doença, historicamente conhecida por causar menos mortes do que a dengue. “As notificações dos óbitos têm surpreendido. A impressão é que a chicungunha tem levado a uma taxa de letalidade maior do que esperávamos”, diz o clínico geral Carlos Brito, membro do Comitê Técnico de Arboviroses do Ministério da Saúde.

Segundo Carlos Brito, há municípios como Limoeiro e Belo Jardim (Agreste do Estado) que têm apresentado número de óbitos em geral acima da média esperada. “São cidades que tiveram grandes epidemias de chicungunha. É preciso investigar se parte dessas mortes pode ter sido pela doença, já que muitas foram notificadas por outras causas, como por enfermidade de base que pode ter sido descompensada pela infecção viral.”

Outro detalhe é que, entre os 96 óbitos suspeitos por dengue, chicungunha ou zika notificados este ano em Pernambuco, 43 (44,7%) estão concentrados na faixa etária de 60 anos ou mais. Esse dado acende um alerta porque os idosos formam uma população que está mais sujeita a complicações decorrentes das arboviroses, que têm deixado as autoridades de saúde e médicos de todo o Estado em alerta diante dos agravamentos que têm surgido e mudado de padrão nesta tríplice epidemia. No mesmo período do ano passado, foram 9 óbitos suspeitos – todos por dengue, já que naquele período ainda não havia circulação do vírus chicungunha em território pernambucano, e o zika agia na população sem ser notado. 

A impressão é que a chicungunha tem levado a uma taxa de letalidade maior do que esperávamos”, diz Carlos Brito, membro do Comitê Técnico de Arboviroses do Ministério da Saúde

Até as oito primeiras semanas deste ano, as mortes estavam sendo notificadas separadamente: por dengue e chicungunha. A partir de 28 de fevereiro, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) decidiu reunir as suspeitas num grupo único, de arboviroses em geral, já que existe a impressão de que parte dos dos óbitos que vinha sendo registrado como dengue pode ser chicungunha. “Há muitos rumores sobre isso, mas as notificações de óbito por chicungunha não aparecem. De qualquer forma, vamos iniciar uma investigação nos municípios com maiores registros de morte para tentar viabilizar estratégias que possam minimizar a ocorrência de óbitos nessas localidades”, diz a coordenadora do Programa de Controle de Arboviroses da SES, Claudenice Pontes. 

Ela destaca que a chicungunha agrava-se mais nos extremos da vida: infância e velhice. No idoso, é como se a infecção por chicungunha potencializasse uma doença já existente, como hipertensão e diabetes. Além disso, com o envelhecimento, há uma capacidade diminuída de reagir a complicações. 

As consequências podem ser mais intensas e graves também nas crianças porque se trata de um grupo vulnerável a quadros de agravamento pela imaturidade do sistema imunológico. “Nos idosos e nas crianças, é bom ficar atento a sinais de risco que podem acompanhar as arboviroses, como dores abdominais, dificuldade respiratória, sangramentos, fezes escuras, sonolência excessiva e irritabilidade”, orienta o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia. 

Em Washington, Jailson Correia participou de reuniões com a Opas e representantes da Fundação Gates e da Usaid em busca de recursos para o plano de enfrentamento ao Aedes

Na semana passada, Jailson Correia esteve em Washington, a convite da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) para ministrar palestra sobre inovação social e pesquisa para a saúde. Aproveitou a oportunidade para participar de reuniões com a Opas e representantes da Fundação Gates e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) em busca de recursos para o Plano Emergencial de Enfrentamento ao Mosquito Aedes aegypti da Prefeitura do Recife.

O secretário reforça que, diante de qualquer suspeita de dengue, chicungunha e zika, a hidratação deve ser priorizada para evitar agravamento. “Além disso, as pessoas não devem fazer uso da automedicação. Muita gente usa corticoides e anti-inflamatórios sem supervisão médica, o que é muito perigoso”, acrescenta Jailson. 

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