Saúde

Falta medicamento para tratar câncer de mama metastático em PE

Toda a rede pública de oncologia, em Pernambuco, está sem oferecer, a pacientes com câncer de mama metastático (condição em que a doença já atinge outros órgãos, como fígado, pulmões, ossos e cérebro), o trastuzumabe

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 07/12/2017 às 7:33
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Toda a rede pública de oncologia, em Pernambuco, está sem oferecer, a pacientes com câncer de mama metastático (condição em que a doença já atinge outros órgãos, como fígado, pulmões, ossos e cérebro), o trastuzumabe - FOTO: Foto: JC Imagem
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Toda a rede pública de atenção em oncologia de Pernambuco está sem oferecer, a pacientes com câncer de mama metastático (condição em que a doença já atinge outros órgãos, como fígado, pulmões, ossos e cérebro), o trastuzumabe – um medicamento de alto custo (R$ 10 mil, em média, é o valor de cada dose no mercado) que mudou a forma como esse tipo de tumor é tratado no mundo e que figura na Lista Modelo de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial de Saúde (OMS) para combater a doença. Apesar de o câncer de mama metastático não ter cura, as pesquisas deram importantes passos para disponibilizar tratamentos modernos, que incluem o trastuzumabe (Herceptin, nome comercial), que permitem às mulheres viverem com mais qualidade de vida.

“As pacientes com a doença metastática, atendidas pelas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) em Pernambuco, estão sem tomar o trastuzumabe. O problema talvez seja explicado pela burocracia na transferência da gestão do medicamento, que passará a ser fornecido pelo governo federal após a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) reivindicar a ampliação para acesso ao trastuzumabe, beneficiando também as pacientes com metástase”, diz o oncologista Eriberto de Queiroz Marques Júnior, da diretoria nacional da SBOC.

No dia 3 de agosto, foi publicado no Diário Oficial da União a decisão do Ministério da Saúde de oferecer, no SUS, o trastuzumabe como tratamento para o câncer de mama HER2 positivo metastático, que tende a crescer e disseminar mais rapidamente do que outros tipos do tumor. É o mais agressivo e que atinge um quinto das mulheres com tumor no seio. A questão é que, a contar de agosto, o SUS só começará a fornecer a droga num prazo de 180 dias, o que deve ocorrer no fim de janeiro do próximo ano. Até a data, era para as pacientes com indicação continuarem recebendo, pelo governo estadual, o medicamento. Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que “o trastuzumabe deve chegar na próxima semana, pois já foi adquirido pela SES”.

A luta das mulheres e das entidades por essa medicação, nos casos de metástase, é intensa porque se trata de uma opção terapêutica que dobra a sobrevida das pacientes. A agente administrativa Yara Prado, 54 anos, reconhece a importância da medicação. “É uma prioridade para que continue o tratamento. A última vez que recebi o trastuzumabe (injetável para infusão via intravenosa), no Hospital Barão de Lucena (HBL), foi no dia 25 de setembro. Voltei em outubro, chegaram a puncionar a minha veia e alegaram que não iriam fazer (a infusão) porque faltava parte de minha documentação. Depois, uma pessoa do hospital me disse que o medicamento estava em falta”, relata Yara, que recebeu o diagnóstico da metástase em fevereiro. “A tomografia mostrou três nódulos no pulmão e dois no mediastino (região central entre os pulmões). Por isso, o médico prescreveu trastuzumabe e também exemestano (nome genérico para Aromasin, comprimido indicado para o tratamento em mulheres, na pós-menopausa, com câncer de mama ‘alimentado’ pelo hormônio estrogênio).”

O diagnóstico inicial do tumor no seio de Yara foi dado em novembro de 2013, quando ela passou por uma cirurgia na mama. Em dezembro, iniciou a quimioterapia. Em seguida, fez radioterapia. “Este ano, tive uma trombose, o que exigiu a realização de uma tomografia, que detectou a metástase. Sem o trastuzumabe, vou pegar um lado com a médica para ir ao Ministério Público. Passar por isso faz sentir tristeza e revolta. Minha luta também é em prol de outras pacientes que passam pela mesma situação.”

Pesquisas

A reivindicação de Yara faz muito sentido, segundo a literatura médica. Estudos publicados nos periódicos científicos Journal of Clinical Oncology (JCO), em 2015, e no Journal of Global Oncology (JGO), em 2016, revelam que a incorporação ao SUS da combinação do trastuzumabe e de outra droga, o pertuzumabe (no último dia 4, o Diário Oficial da União publicou a decisão do Ministério da Saúde de oferecer, num prazo de 180 dias, a droga na rede pública) salvaria 768 vidas de mulheres com câncer de mama metastático HER2 positivo no País. Uma previsão feita pelo estudo que está no JGO revela que, do total de 2 mil pacientes diagnosticadas com esse subtipo da doença em 2016, apenas 808 estarão vivas em 2018, se forem tratadas só com quimioterapia (ou seja, sem ambas as medicações). Caso recebam a combinação, o número de sobreviventes subirá para 1.576. “Na rede privada, essa junção já é realidade. É a primeira indicação para tratamento assim que a paciente recebe o diagnóstico de câncer de mama metastático”, informa Eriberto de Queiroz Marques Júnior.

Sobre o exemestano, Yara diz que está em falta desde outubro. Em nota, a SES informa que a paciente retirou a medicação em novembro. “Essa substituição está sendo feita, inclusive, no caso de outras pacientes que têm indicação clínica para ser feita substituição pelo tamoxifeno. O processo de compra está em andamento.” Um médico do HBL, ouvido pela reportagem, confirmou necessidade de medicamentos para o câncer no hospital e que “todas as semanas falta uma coisa”.

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