Saúde

Aedes: PE orienta municípios sobre falta do único inseticida que mata o mosquito adulto

Segundo o Ministério da Saúde, os Estados estão sem malathion, usado para combater o mosquito, porque o produto cristalizou

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 06/06/2019 às 10:19
SÉRGIO BERNARDO/ACERVO JC IMAGEM
Levantamento mostra que capital pernambucana está com risco alto de surto para as arboviroses - FOTO: SÉRGIO BERNARDO/ACERVO JC IMAGEM
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O Ministério da Saúde comprou, a partir de 2016, 1,6 milhão de litros de malathion, único inseticida usado para matar o Aedes aegypti adulto. Em meio a polêmicas e à expansão veloz dos casos de arboviroses, inclusive em Pernambuco (só as notificações de dengue subiram 85%, em comparação com o mesmo período de 2018), o órgão federal comunicou aos Estados o desabastecimento do produto, usado em carros conhecidos como fumacê ou em bombas costais para eliminar o mosquito que transmite dengue, chicungunha e zika. “É o único inseticida adulticida com registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária e que atende as necessidades do País. Além disso, o insumo não está disponível no mercado para compra pelo Estado”, esclareceu, em nota, a Secretaria de Saúde de Pernambuco.

Para pesquisadores em saúde pública, o desabastecimento do inseticida, além de colocar luz à forma de combate ao Aedes no Brasil, abre discussões sobre a administração da verba para o combate ao mosquito e a fragilidade do trabalho social para frear criadouros do mosquito. Informações extraoficiais dão conta de que os Estados rejeitaram o produto porque ele empedra e estraga as máquinas que fazem o fumacê. A assessoria de comunicação do ministério diz que devido a problemas de empedramento e cristalização no inseticida, em 2017, a pasta suspendeu o pagamento de 699 mil litros. Mas não informou o montante de recursos desperdiçados.

“Do 1 milhão de litros entregues, o Ministério da Saúde solicitou a reposição de cerca 400 mil litros dos produtos devido aos problemas encontrados. A empresa (Bayer) já recolheu 105 mil litros, que devem ser restituídos este mês", diz o órgão federal. Em Pernambuco, a SES ressalta que repassou aos 184 municípios orientações para minimizar o impacto causado pela falta do adulticida. Já a Secretaria de Saúde do Recife diz, em nota, que “não foram registrados problemas, nas bombas utilizadas pelos agentes de saúde ambiental e controle de endemias, por causa do inseticida. Há produto em estoque, inclusive”.

Riscos

A médica Idê Gurgel, pesquisadora do Departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz Pernambuco, critica e, ao mesmo tempo, comemora o o desabastecimento do inseticida. “É ruim porque revela como o Ministério da Saúde gasta recursos que poderiam ser usados em outro tipo de controle do mosquito. Por outro lado, malathion é um dos mais graves produtos (para o homem e o meio ambiente) e que nunca deveria ser usado em campanhas de saúde pública. É um inseticida que mata os insetos, mas traz mais danos do que benefícios.”

Pelos riscos que o produto apresenta, segundo a pesquisadora, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc, da sigla em inglês) o retirou da lista de prováveis agentes cancerígenos para classificá-lo na relação dos possíveis causadores de câncer. “Por isso, o desabastecimento é visto até como algo positivo, pois o inseticida não resolve o problema de controle vetorial. Ele pode provocar intoxicação aguda, subaguda e crônica, com sintomas leves, como tontura, a convulsões e paralisia respiratória”, reforça Idê. Mesmo usado como fumacê, o produto pode fazer mal porque se dispersa em meio a uma população desprotegida. “O carro libera micropartículas do inseticida, que é inalado e entra na corrente sanguínea. É um banho de veneno.”

Para a bióloga Rosângela Barbosa, do Departamento de Entomologia da Fiocruz Pernambuco, a paralisação na distribuição do malathion não enfraquece as ações contra o Aedes. “Existem outros métodos, até melhores, que podem suprir a falta de um agente químico. Num cenário de epidemia, há necessidade de se usar o somatório de metodologias, pois sabemos que só um método não funciona”, ressalta.

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