SAÚDE

Cirurgias na face devolvem sorriso e autoestima a pacientes

Procedimentos, realizados no Hospital Getúlio Vargas, no Recife, usam software e impressoras 3D

Margarida Azevedo
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Margarida Azevedo
Publicado em 01/03/2020 às 7:00
Foto: Filipe Jordão / JC Imagem
Procedimentos, realizados no Hospital Getúlio Vargas, no Recife, usam software e impressoras 3D - FOTO: Foto: Filipe Jordão / JC Imagem
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Pessoas com deformidades na face estão voltando a sorrir graças a cirurgias realizadas no Hospital Getúlio Vargas, no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife. A novidade é que o planejamento das operações é todo virtual, usando softwares e duas impressoras tridimensionais adquiridas com recursos coletados pelos professores e alunos da residência em cirurgia e traumatologia bucomaxilofacil da Universidade de Pernambuco (UPE). Com ajuda da tecnologia, há mais previsibilidade e agilidade. Para os pacientes, há a melhoria na qualidade de vida, além da possibilidade de ver, por meio de simulações, como seu rosto ficará após o procedimento cirúrgico.

Em Pernambuco, somente o HGV dispõe dos equipamentos no Serviço Único de Saúde (SUS). Em hospitais privados, uma intervenção dessa custa no mínimo R$ 80 mil. Há uma lista de espera de cerca de 80 pessoas. Por mês, em média, são quatro operações realizadas na unidade de saúde. “É uma cirurgia indicada para quem tem deformidade no rosto, geralmente relacionada a um crescimento excessivo ou diminuição da mandíbula em relação ao maxilar e à face”, explica o coordenador do programa da residência e professor da UPE, Joaquim Celestino.

Os pacientes chegam com reclamações pela dificuldade em respirar, mastigar, deglutir e até de falar. “Quando os ossos estão mal posicionados, a harmonia da face é quebrada. Em geral, as pessoas têm queixas funcionais. Em um segundo momento, vem a questão, bastante premente, da estética facial. Envolve aspectos sociais e psicológicos muitas vezes de grande magnitude”, observa Joaquim. Ele destaca que não é uma cirurgia plástica, mas que acaba repercutindo no emocional das pessoas.

As impressoras reproduzem com precisão o que foi planejado nos computadores. “São medidas extremamente pequenas, como por exemplo, décimos de milímetros e décimos de grau. Isso faz com que tenhamos uma assertividade maior, uma capacidade realmente de copiar o que foi planejado, na tela do computador, para a face do paciente no momento da cirurgia”, diz o professor da UPE.

“Sem as simulações virtuais, havia o planejamento, mas não tínhamos certeza, exatamente, da mudança no aspecto facial do paciente, não havia a previsibilidade como existe hoje”, complementa Joaquim.

REPARADORA

Os equipamentos também são usados em operações para pacientes com problemas nas mandíbulas provocados por tumores ou agressões (cirurgias reparadores). “Otimizamos em média de duas a três horas nessas cirurgias. Retiramos o tumor para depois colocar o enxerto. Com o protótipo já pronto, diminui o tempo da cirurgia e o trauma do paciente”, ressalta Riedel Frota, outro cirurgião que atua no Getúlio Vargas.

Antes, quando não havia as impressoras - a primeira foi comprada no primeiro semestre do ano passado e a segunda, no último mês de janeiro, por cerca de R$ 15 mil (as duas) - as placas colocados nos pacientes eram moldadas durante a operação.

“Perdíamos muito tempo para modelar na hora. Com a impressora, a peça já está pronta. A gente brinca dizendo que é como se fosse um lego só para encaixar”, comenta o também cirurgião bucomaxilofacial Rômulo Valente, da mesma equipe do HGV.

Os depoimentos dos pacientes após as operações emocionam os cirurgiões dentistas. “Eles dizem que a cirurgia não foi feita na face. Foi feita na alma. Mudam bastante. Deixam de ser pessoas retraídas, com problemas de autoestima e transtornos psicológicos muitas vezes bem importantes. Dizem que sofriam bullying e passaram, a partir daquele momento, a viver de verdade”, conta Joaquim.

VIDA NOVA

"Passei pela primeira cirurgia em 2017 para retirada de um tumor na mandíbula. Desde então não sorria mais porque mostrava uma deformidade no queixo. Minha autoestima estava lá embaixo. Deixei muitas vezes de sair, de ir para festas pois as pessoas perguntavam o que tinha acontecido, era muito constrangedor. Fui convidada para ser madrinha de um casamento e recusei. Ano passado foi feita outra cirurgia para reconstrução do queixo. Um pedaço da fíbula da perna foi colocada no lugar da mandíbula. Virei outra pessoa. Voltei a sorrir. Estou muito feliz”, conta a agricultora Maria Josélia Sobral, 24 anos, moradora de Quipapá, Zona da Mata pernambucana.

"Eu tinha o queixo recuado. Desde criança, isso sempre me incomodou. Os colegas da escola zombavam. Sempre me escondi de fotos, achava que as pessoas iriam olhar somente para meu queixo. Passei a ter problema para dormir. Só conseguia dormir por quatro horas por noite e roncava muito. Durante o dia, ficava cansado, não rendia no trabalho. Fiz a cirurgia em maio do ano passado. Puxaram meu queixo mais pra frente. Era uma pessoa retraída, com qualidade de vida zero. Hoje melhorou a respiração, o sono, a estética. Até faço questão de tirar fotos com a família”, diz o coordenador de segurança Humberto Lacerda, 41 anos, morador de Recife.

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