É ao procurar se situar no tempo, consultando o relógio parado da cozinha para saber as horas, que a dona de casa Vicky e seu marido se dão conta de que nada funciona na casa onde moram. O casamento não escapa à constatação e, como as pilhas que dão pulsão aos ponteiros do objeto, também está esgotado. Em meio à disfunção do matrimônio, a filha de doze anos do casal fica refém dos atritos constantes dos pais, enquanto nutre sentimentos confusos pelo inquilino de 21 anos. Foi com esse pano de fundo que Denise Fraga protagonizou o espetáculo Sem pensar, comédia dramática dirigida por Luiz Villaça, nas noites de sexta, sábado e domingo passados, no Teatro de Santa Isabel.
A trama, inglesa, é adaptada por aqui sem forçar a barra com referências nacionais, sustentada na universalidade dos conflitos familiares em cena. A peça expõe como as coisas não ditas vão nos comendo por dentro, sob nosso próprio consentimento – acentuando nas personagens nossa resistente incapacidade de entender e de nos fazer entendidos. O que fica ao final são risos que doem, mas que refletem por si sós. Não podemos deixar de nos perguntar, durante o silêncio que sucede um ataque de fúria de alguma personagem, o que não cala: é possível manter uma rotina sem ferrugens?
Leia a matéria completa no Caderno C desta segunda (14)
