Crítica

Ator e texto são os trunfos de "O filho eterno"

A peça da Companhia Atores de Laura (RJ) foi apresentada quarta (9) e quinta-feira (10), no Janeiro de Grandes Espetáculos.

Mateus Araújo
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Mateus Araújo
Publicado em 11/01/2013 às 6:20
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O principal trunfo que faz de O filho eterno, dirigido por Daniel Herz, um espetáculo sensível, profundo e arrebatador é o diálogo certeiro entre texto e ator, que têm em comum o adjetivo excelente. A peça da Companhia Atores de Laura, do Rio de Janeiro, foi apresentada quarta (9) e quinta-feira (10), no Teatro Apolo, dentro do Janeiro de Grandes Espetáculos.

Na história, que se passa em Curitiba, um escritor desempregado, sustentado pela mulher, é pai de primeira viagem. A espera pelo filho é substituída pelo ódio, o desespero, o medo e a vergonha: o bebê tem síndrome de Down – nos anos 1980, contexto do espetáculo, o distúrbio genético é chamado pelo senso comum de “mongolismo”. O enredo é forte, discute aceitações, frustrações e mexe com o inconsciente, com uma narrativa que oscila entre a terceira e a primeira pessoa do singular. O roteiro é inpirado no premiado livro homônimo de Cristovão Tezza.

Essa dramaturgia é conduzida com esmero talento pelo ator Charles Fricks. Ele ganhou o Prêmio Shell do Rio de Janeiro, no ano passado, pela interpretação. O ator tem um sensato cuidado na estruturação do seu papel, que segue uma linha minimalista de gestos e tons de voz. Destaque para o jogo de olhares usado por Charles em cena. Ele consegue prender a atenção do público por quase todo o monólogo (nas poucas cenas em que isso não é conseguido, dá-se sobretudo pela densidade do texto).

A composição de palco é simples: uma cadeira de madeira e um fundo branco que ganha reflexos da luz. As opções de cores (vermelho, azul e branco) usadas na iluminação de Aurélio de Simoni dão ênfase às situações e colocações do protagonista (aliás, o trabalho de Aurélio é também fundamental numa outra peça que vai estar no festival, dia 23, no Teatro Apolo: Duas mulheres em preto e branco). O filho eterno é uma montagem suave e acertada em seu conjunto. Um belo encontro cênico.

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