TRAGÉDIA

Clowns de Shakespeare estreia Hamlet no Recife

Grupo escolheu a obra-prima do dramaturgo britânico, dirigida por Marcio Aurelio, para celebrar os 20 anos de trajetória

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 18/01/2013 às 6:37
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Hamlet, de William Shakespeare, é talvez o texto mais icônico do teatro mundial. Para pesquisadores e admiradores do dramaturgo inglês, como o grupo potiguar Clowns de Shakespeare, não poderia existir um desafio cênico maior, ainda mais para celebrar os seus 20 anos de trajetória. O espetáculo, comandado pelo renomado diretor Marcio Aurelio Pires, ganha estreia nacional sábado (19/1), às 21h, no Teatro de Santa Isabel dentro da programação Janeiro de Grandes Espetáculos (JGE), com repetição no domingo (20/1), no mesmo horário.

Como conta o diretor do grupo, Fernando Yamamoto, Hamlet era um texto que todos do coletivo sabiam que um dia iam encenar. O problema é que a grandiosidade tanto os atraía como também assustava – um pouco como a definição de algo sublime para Kant, que, ao mesmo tempo que encanta e convida ao perigo, lembra quão frágeis todos são diante daquilo, tão pequenos e indefesos. A peça foi irresistível justamente pela fascinação de força descomunal.

O momento para realizar a encenação era 2013, ano em que se comemoram os 20 anos de fundação do grupo, mas outros dois fatores contribuíram. Primeiro, o fortuito encontro com Marcio Aurelio, ainda em 2007, durante uma uma residência no Teatro da USP. Segundo, a incidência das crises da vida dos componentes do grupo, a maioria chegando agora à meia-idade, vivendo plenamente os dilemas hamletianos do cotidiano.

“Antes de Sua incelença, Ricardo III, peça anterior, só tínhamos trabalhado com textos de humor. Ele foi o nosso primeiro drama histórico, quase uma tragédia mesmo. Mas usamos na montagem uma linguagem circense: no fim, contamos a história a partir de elementos que eram opostos ao clima da peça”, explica Fernando Yamamoto. “Em Hamlet, mergulhamos na linguagem da tragédia como até então não havíamos feito”.

Segundo ele, o texto é um dos de Shakespeare que parece dialogar mais diretamente com a essência humana, não importa a época. “O trabalho é encontrar o Shakespeare que cabe a cada um”, comenta Yamamoto. A pesquisa para o espetáculo, iniciada em setembro, quando Marcio Aurelio veio para Natal e os ensaios começaram, apontou para um Hamlet próprio, o que constrói, em meio à tragédia, uma “poética da representação”.

A peça procura, então, apresentar os espelhamentos – indo da loucura ao fingimento – que o personagem faz na trama, ao investigar a traição familiar por trás da morte do pai do personagem, o rei da Dinamarca. “Temos a visão de que a loucura de Hamlet é uma loucura encenada”, aponta Yamamoto. “É um texto do final da Idade Média, em um momento de transição entre períodos. Em um ponto em que todos estão loucos, Hamlet é o único lúcido, mas um lúcido que precisa se fingir de louco”.

Leia mais no Caderno C do Jornal do Commercio desta sexta (18/1)

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