Especial Stanislávski

A influência de Stanislávski no teatro brasileiro

Mais de 120 anos depois da criação do seu Teatro de Arte de Moscou (TAM), sua teoria ainda lança reflexos decisivos no teatro, no cinema e na TV contemporâneos

Mateus Araújo
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Mateus Araújo
Publicado em 19/01/2013 às 6:20
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“Quem manda no palco é o ator”. Essa máxima de Constantin Stanislávski é universal e atemporal. Mais de 120 anos depois da criação do seu Teatro de Arte de Moscou (TAM), sua teoria ainda lança reflexos decisivos no teatro, no cinema e na TV contemporâneos. No Brasil, vários grupos e artistas sofreram e ainda sofrem a sua influência.

A primeira alçada de voo para além dos limites russos das ideias stanislavskianas foi em 1905, quando o TAM saiu em excursão por Paris e Berlim e chamou a atenção dos dramaturgos e diretores dos Estados Unidos. Procuravam uma maneira eficaz de contornar os problemas de interpretação dos seus atores. Deste encanto e interesse, surge depois o Actors Studio, referência mundialmente como escola para o cinema hollywoodiano, por onde passaram nomes como James Dean, Marlon Brando, Marilyn Monroe, Meryl Streep e Al Pacino.

Cadengue usou o método de Stanislávski para para preparar o elenco de "O jardim das cerejeiras" -
Em Tio Vânia, o Grupo Galpão tem influência de Anatoli Vassiliev, discípulo de Stanislávski -




Foi na escola de Nova Iorque que o diretor brasileiro Augusto Boal teve um contato mais próximo com a adaptação americana do pensamento de Stanislávski. Entusiasmado pela maneira visceral de interpretação, Boal trouxe para o Brasil esse seu olhar, que foi moldado pelo Teatro Arena.

A onipresença de Stanislásvki acompanha a história das artes cênicas do País. No teatro nacional, outra referência forte com relação à utilização de marcas deixadas por ele são os trabalhos do diretor Antunes Filho, um dos principais encenadores da obra do dramaturgo Nelson Rodrigues. Influenciado pelo contato com os diretores estrangeiros que integraram a equipe do Teatro Brasileiro de Comédias, buscou referência para suas preparações.

“Do ponto de vista de Antunes, a constituição realista da cena é fator primordial, ainda que a forma estética pretendida para o espetáculo afaste-se completamente do realismo. Assim sendo, o sistema que ele estabeleceu ao longo de décadas de trabalho investigativo e criativo é tributário do sistema Stanislavski”, garante o crítico teatral Sebastião Milaré. No entanto, para mergulhar nos enredos rodriguianos erguidos no âmbito do inconsciente coletivo, o diretor, segundo Milaré, cria um método próprio, para dar conta da “lacuna” stanislavskiana cujas ideias enveredavam pela psicologia pessoal, freudiana. “Porém, na plataforma desse novo sistema está, inquestionavelmente, o de Stanislavski”, diz o crítico.

"Atraso, preguiça, histeria, má-vontade, ignorância do papel, necessidade de repetir tudo duas vezes são igualmente prejudiciais ao conjunto e devem ser erradicados."

Stansilávski

Um encenador que também mergulha nos ensinamentos da preparação difundidos pelo Teatro de Arte de Moscou é o pernambucano Antonio Edson Cadengue. Em O jardim das cerejeiras (1990), com a Companhia Teatro de Seraphim, ele recorreu a livros do encenador russo para trabalhar com um número expressivo de atores jovens.

“Tive nesse momento o auxílio precioso de Alexina Crespo, que nos ajudou trabalhando individualmente alguns atores”, lembra Cadengue. “Aprofundei-me em diversas ocasiões na teoria de Stanislávski, seja como professor, seja como encenador, na releitura dele feita por Eugênio Kusnet, no seu livro O ator e o método, que precisa urgentemente ser mais lido, repensado e reformulado.”

Instigado pelas provocações do teatrólogo revolucionário, o Grupo Galpão – nome de destaque do teatro brasileiro – usa a teoria do TAM desde o princípio da sua formação, como uma espécie de balizador. “Sua pergunta fundamental é como o ator pode criar e manter um trabalho que seja vivo, provocador e que pulse no aqui e no agora do acontecimento teatral”, acredita o diretor da companhia mineira, Eduardo Moreira.

O Galpão já teve experiências fundamentais com o teatro russo, a partir do encontro com os diretores Anatoli Vassiliev e Iúri Alschitz, discípulos de Stanislávski. “São continuadores dessa extraordinária tradição russa de pedagogia e de transmissão do conhecimento teatral. Vassiliev nos abriu o caminho para o trabalho da ‘análise ativa’ que Stanislávski desenvolveu no estudo de uma peça e seus personagens. Isso foi fundamental na criação do nosso espetáculo Tio Vânia (aos que vierem depois de nós), com direção de Yara de Novaes. E Alschitz trouxe uma metodologia de treinamento para o ator que tem sido muito utilizada pelos atores do grupo.”

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