Estreia

A filha do teatro devia explorar mais o potencial das atrizes

Texto de Luís Reis ganhou montagem da Cênicas Cia. de Repertório

Mateus Araújo
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Mateus Araújo
Publicado em 25/03/2013 às 10:07
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Tragédia metalinguística. O espetáculo A filha do teatro, que estreou na última sexta-feira no Arraial (em cartaz até o final de abril), entra nas coxias para contar uma história de traição, vingança e morte. A montagem da Cênicas Cia. Repertório, dirigida por Antônio Rodrigues, peca ao explorar pouco o trabalho das atrizes que compõem o elenco.

Escrito pelo dramaturgo e jornalista Luís Reis, o texto conta a história de quatro mulheres que têm em comum o palco. A primeira personagem é uma diretora de teatro, mãe adotiva da segunda personagem, uma jovem atriz. O terceiro papel é da mãe biológica da moça, uma ex-atriz pornô. A quarta figura, onipresente, a única que tem nome próprio, é Elisa, casada com a diretora, que parece ser o fio condutor da história.

A peça gira em torno dos conflitos de identidade e dos segredos que há entre essas mulheres. O enredo parte do assassinato da diretora, que abre espaço para lembranças e revelações. O texto de Luís Reis é bom. Norteado pelas idéias de Brecht – sobretudo por utilizar a metalinguagem –, faz referências a clássicos do teatro mundial, como a peça Yerma, de Garcia Lorca. Uma das personagens cita a lembrança de ter assistido a uma montagem da obra do poeta espanhol interpretada por uma experiente atriz, que lhe despertou o interesse pelas artes cênicas. Aí, Reis talvez tenha feito alusão à clássica interpretação da pernambucana Geninha da Rosa Borges, que viveu o papel no Teatro de Amadores de Pernambuco, em 1978, elogiada pela crítica da época.

O espetáculo é estruturado em três blocos dramatúrgicos, quando as atrizes se revezam entre os papéis. É neste momento que se percebe uma falha na direção, que opta por uma marcação lenta e que não aprofunda a dramaticidade do texto. As três mulheres têm interpretações heterogêneas.

No caso de Manu Costa, as pausas são excessivas no papel da diretora – o que prejudica a fluidez do texto e convencimento. Ela melhora interpretando as outras personagens. Sônia Carvalho vive bem o papel da ex-atriz pornô, assim como Bruna Castiel, que também tem uma boa desenvoltura como a mãe adotiva. Bruna, inclusive, ganhou prêmio de melhor atriz na última edição do Janeiro de Grandes Espetáculos com este trabalho. Ela tem boa dicção e voz, mas não saiu de sua zona de conforto.

Esse mesmo texto foi montado em 2007 pelo diretor Antonio Cadengue e tinha no elenco a atriz Lúcia Machado que na época recebeu elogios pela desenvoltura em cena nos três papeis.

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