CONTEMPORÂNEO

Bailarino transforma experiência pessoal em espetáculo

Marcelo Braga apresenta no Recife o primeiro projeto autoral dele, "O homem vermelho", uma das atrações do Palco Giratório

Eugênia Bezerra
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Eugênia Bezerra
Publicado em 08/05/2013 às 6:00
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O bailarino Marcelo Braga (RJ) passou um longo tempo afastado da dança por causa de uma doença e transformou esta experiência em mote para criar o espetáculo de dança contemporânea O homem vermelho. Ele é apresentado nesta quarta e quinta-feira (8 e 9/5), às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho, como atração do Festival Palco Giratório, e na próxima terça-feira (14/5), em Caruaru, como parte do Festival Pernambuco Nação Cultural. A produção local é do Vértebra Coletivo Artístico.

"Este trabalho surgiu do desejo, ou melhor, da necessidade de me expôr depois de quatro anos de total imobilidade! E não existe nada mais doloroso para um bailarino do que a impossibilidade de se expressar fisicamente. Depois de uma experiência de quase morte, devido a esse raro linfoma de pele, era preciso transformar tudo o que vivi em algo potente", afirma Marcelo.

"Trabalhei durante 22 anos ao lado do coreógrafo e meu companheiro de vida João Saldanha. E só agora, depois de ter vivido algo tão devastador, me senti pronto pra encarar meu primeiro projeto autoral", continua o bailarino.

Ele conta que o trabalho começa com a palavra: "Porque no início do processo, era a única forma possível de me manifestar. O corpo ainda estava muito machucado, era difícil me mover. Aí percebi que a palavra tinha ganhado uma importância dramatúrgica fundamental. A partir dela, tudo foi organicamente se construindo, como uma pedra jogada num rio que reverbera em ondas criando muitas possibilidades. A palavra foi se transformando em imagens, em gestos, em canção, em dança".

E explica também que a doença é apenas a "alavanca inicial" do espetáculo: "A partir dela, revisito fatos da minha vida e divido com o público como foi possível suportar três meses de um doloroso tratamento radioterápico. Os jogos e mecanismos que criei durante as sessões para que o tempo passasse rápido e tudo fosse mais fácil pra mim. Sempre com humor e otimismo. Acho que consegui não cair na armadilha da autopiedade".

Na criação de O homem vermelho, Marcelo contou com a colaboração de artistas como a atriz Simone Spoladore (na dramaturgia) e Walter Carvalho (para o filme com o mesmo nome do espetáculo).

Neste ano, além de viajar pelo Brasil com o Palco Giratório, Marcelo participa de um evento que acontece no Sesc do Rio, em maio e junho, para comemorar o centenário do espetáculo Sagração da primavera. O bailarino também quer se aprofundar nas questões que começou a trabalhar em O homem vermelho.

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