Crítica

Embora plasticamente rica, peça "Camille e Rodin" tem texto superficial

Espetáculo foi apresentado no Recife no último sábado (2), para um Teatro de Santa Isabel lotado.

Mateus Araújo
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Mateus Araújo
Publicado em 04/11/2013 às 2:10
Lais Telles / divulgação
Espetáculo foi apresentado no Recife no último sábado (2), para um Teatro de Santa Isabel lotado. - FOTO: Lais Telles / divulgação
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O espetáculo Camille e Rodin esteve em cartaz no Teatro de Santa Isabel, no último sábado (2) e domingo (3). A peça resgata a história da conturbada relação entre os escultores Auguste Rodin e Camille Claudel, numa encenação plasticamente rica, com marcações de corpo expressivas e texto que pinça momentos intensos da vida dos dois.

O roteiro escrito pelo dramaturgo e jornalista Franz Keppler, sob direção de Elias Andreato, é construído em três tempos cênicos: em um deles está Camille, presa num hospital psiquiátrico, à espera de seu irmão, o poeta Paul Claudel, que nunca chega, noutro espaço e tempo está Rodin, em seu ateliê, relembrando e procurando sua amante e aluna, enquanto no terceiro recorte conta-se a história dos 15 anos em que ambos viveram juntos.

Rodin, experiente escultor, famoso por criar peças expressivas e humanizadas, parece não aceitar o talento da sua pupila e amante Camille. Há um jogo de sufocamento, brigas de egos e cobranças. Porém, por seguir um estilo textual que pontua fatos tórridos dessa relação, a montagem termina pecando por não se aprofundar, o que aparenta uma superficialidade na história.

No elenco da peça estão os atores Leopoldo Pacheco e Melissa Vettore, um casal que se mostra bem entrosado em cena, embora suas interpretações caminhem por estilos e marcações diferentes. Ele, mais dedicado às palavras e ao texto, é comedido nos gestos, mas consegue desenhar bem as emoções das suas falas, sobretudo naquelas mais fortes, de brigas. Ela, por outro lado, é mais exagerada (como cabe ao papel) nos movimentos do corpo. Melissa gesticula muito. Isso foi uma opção do próprio diretor, que queria levar à cena as marcas das obras de Rodin. Mas o excesso chega a soar desnecessário, como nas cenas de beijo entre os dois, mas é acertada enquanto ela posa para ser desenhada.

Visualmente, a peça é muito bem trabalhada. O cenário, feito por Marco Lima, reproduz os ambientes do sanatório e do ateliê, em tons de cinza, branco e preto, com três grandes portas de vidro. Há ainda espalhadas em cena pequenas esculturas. Tudo isso dialogando bem com a iluminação e o lindo figurino. Enfim, o que se quer imprimir no visual do espetáculo, e se consegue, é uma Europa que respirava àquela época, final do século 19, a produção humana marcada pelos trabalhos de nomes como Nietzsche e Debussy. 

Leia a matéria completa no Caderno C desta segunda (4).

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