Entrevista

Murilo Gun: "Todos podem ser criativos"

Humorista estreia seu novo espetáculo domingo, no Teatro Boa Vista, e dá entrevista sobre o bom momento do stand-up no Brasil

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 08/02/2014 às 7:00
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Murilo Gun trocou a carreira de executivo de tecnologia no Recife para virar, em São Paulo, um dos nomes que fazem do humor o rock’n’roll do século 21. Na cidade, onde estreia, amanhã (no Teatro Boa Vista, às 20h), seu novo espetáculo, ele diz que a popularização só melhora a comédia. “Para fazer stand-up comedy, basta saber falar coisas engraçadas. E todo mundo fala algo engraçado sobre o cotidiano”, diz. 

JORNAL DO COMMERCIO – O stand-up hoje está até nos grandes programas domingueiros na televisão. Na sua opinião, a popularização vulgariza ou estimula o desenvolvimento da linguagem?

MURILO – Acho que o stand-up comedy é o gênero artístico com a menor barreira de entrada que existe. Para ser cantor, tem que saber cantar. Para ser bailarino, tem que saber dançar. Para ser mágico, tem que aprender uns truques. Ninguém se arrisca a ser bailarino sem saber dançar, nem se arrisca a ser músico sem saber cantar, nem se arrisca a ser mágico sem saber nenhum truque. Para fazer stand-up comedy, basta saber falar coisas engraçadas sobre o cotidiano. E todo mundo, em algum momento, fala algo engraçado sobre o cotidiano. Então, as pessoas se arriscam no stand-up comedy. O problema é que fazer humor numa roda de amigos ou na mesa do bar é diferente de fazer no palco do teatro ou da televisão. A grande diferença é a expectativa das pessoas de “ele vai me fazer rir”. Isso muda tudo. A televisão aberta é fundamental para a popularização da comédia stand-up e dos comediantes. Ao mesmo tempo, em função dessa baixa barreira de entrada, é natural que haja uma grande variação na qualidade do que se vê na TV. Temos muitos comediantes ruins se dando mal, temos muitos comediantes bons se dando mal (porque fazer stand-up na TV é muito difícil em função das limitações de conteúdo) e temos alguns comediantes bons se dando bem. O fato é: a televisão vive de números de audiência. Se as emissoras estão mantendo o stand-up em seus programas, é porque as pessoas estão gostando de ver. Então, bola pra frente.

JC – O que será essa websérie para o Comedy Central Brasil sobre os anos 1980 que você vai gravar no México? 

MURILO – Vai ser um websérie em que eu vou comentar coisas marcantes dos anos 1980 num ambiente dos anos 1980. A gravação vai ser no México, porque a mesma websérie vai ser gravada para outros países latinos e todos os comediantes vão gravar no México, onde o ambiente vai ser montado.

 

JC – Como são os cursos de criatividade que você ministra? Quem é o público? Qual o objetivo?

MURILO –Desde que eu comecei a fazer humor, eu nunca me interessei em estudar teorias sobre humor. Mas sempre me interessei em estudar teorias sobre criatividade (para fazer humor ou para fazer qualquer outra coisa). Fiz uma palestra no TEDxRecifeAntigo, no ano passado, detalhado um processo criativo que eu criei e, desde então, comecei a dar palestras sobre criatividade. E agora, neste ano, resolvi lançar um curso mais detalhado, de nove horas, sobre o assunto. O que percebo é que existe uma falsa premissa de que a criatividade é algo que só deve ser estudado por quem trabalha diretamente com ideias, como publicitários, designers, arquitetos, comediantes, entre outros. Pouca gente sabe que criatividade nada mais é do que uma ferramenta para resolver problemas. E, considerando que todo mundo tem problemas, conclui-se que todos precisam estudar criatividade. A questão é: será que todo mundo tem potencial de ser criativo? Descobri que a resposta, felizmente, é sim. Essa história de que “criatividade é um dom” é um grande mito. 

 

JC – No que seu novo espetáculo difere do anterior?

MURILO – O meu primeiro espetáculo, Propaganda enganosa, foi um apanhado de textos aleatórios criados entre 2006 e 2012. O espetáculo foi mudando a cada ano, de acordo com as coisas novas que eu criava. Aparentemente, isso parece ótimo: um espetáculo que vai sendo atualizado. Mas, na prática, é péssimo. Porque se você muda 50% de um espetáculo, a plateia sai com a sensação de que foi tudo repetido. Aprendi que é necessário “fechar” o espetáculo, ou seja, fazer sempre o mesmo texto para que as pessoas pensem “Eu já vi o Propaganda enganosa. Posso vê-lo novamente ou posso esperar o próximo”. Toda peça de teatro é assim. Eu só consegui fechar o espetáculo quando gravei no teatro da UFPE o meu DVD, que acabou virando um especial do Netflix. Esse novo trabalho, Tentativa-e-erro, eu já vou lançar com um texto fechado. E, em vez de textos aleatórios, o espetáculo vai ter um storytelling. Vai contar a minha história, de empresário de tecnologia a comediante e palestrante. Grande parte dos textos foram criados com a ajuda de colegas comediantes, como Fábio Rabin, Maurício Meirelles, Diogo Portugal, Rafinha Bastos, entre outros, através de uma web série que eu fiz e que eu desconstruí o processo criativo de como se faz humor. Neste domingo (amanhã), vai ser a primeira vez que eu faço o espetáculo inteiro de uma vez. Estou tenso pra cacete.

JC – Quem são os nomes do humor brasileiro contemporâneo que te inspiram?

MURILO – Posso dividir em categorias? Como comediante stand-up, Fábio Rabin. Como redator de humor, Maurício Meirelles. Como mestre de cerimônias cômico, Márcio Ballas. Como improvisadores cômicos, os Barbixas (Elídio, Anderson e Daniel). Como ator cômico, Leandro Hassum e Marco Zenni. Como comediantes natos, Tatá Werneck e Murilo Couto. O mais completo é Marcelo Adnet.

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