Pacadeiro

Circo italiano faz bonito na estreia

Apesar de alguns errinhos, artistas honram a tradição circense

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 31/03/2014 às 6:30
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Nem a extrapolação sobrenatural dos limites humanos como no Circo Nacional da China, nem o preciocismo ultrapop e milionário do Cirque du Soleil. A trupe do Florilegio, que teve sua estreia com sessões relativamente cheias no último final de semana, é, na verdade, um grandioso e tradicionalíssimo circo digno da história das quase sete gerações que fazem a companhia italiana. Com os colegas ricos, têm em comum apenas a localização na pirâmide social: em seus espetáculos vemos os malabristas e trapezistas de sempre, mas capitalizados com força. Ainda que alguns artistas demonstrem certa imaturidade no palco/picadeiro, a produção deixa evidentes os quase R$ 6 milhões investidos nesta turnê sul-americana que tem início no Recife.
O picadeiro, na realidade, é um palco móvel elevadiço, sobre uma piscina de águas usadas em números cômicos ou lúdicos - além daquele velho balé de águas dançantes iluminadas, respiro tranquilo entre os números mais tensos. Sim, ainda que poucos números permitam certa distração do público, há momentos em que a plateia é um grande depósito da adrenalina que emana do picadeiro. Como no impressionante número de equilibristas sobre cordas cruzadas, uns equlibrados por cima dos outros – sem rede de proteção.
Para evidenciar a ascendência italiana, o espetáculo abre com a reprodução de uma corte veneziana renascentista. Em seguida, a trapezista faz seu número solo. Piruetas de sempre, um bom número, não mais que isso. Como nos velhos circos, o palhaço vai costurando as atrações e trocas de equipamento, como o do impressionante malabarista que, embora tenha errado alguns movimentos, arranca aplausos com a destreza de alternar bolas voadoras lançadas e amparadas pela boca. O palhaço também brilha na perforamnce em que atua de cabeça para baixo.
Na última sexta, aliás, houve vários pequenos erros - o que mostrava um pouco de nervosismo e pouca integração entre os cerca de 30 artistas que estão se conhecendo nessa turnê. O quarto motociclista do Globo da Morte caiu no meio de uma manobra, houve vazamento de combustível da moto, e o artista precisou sair do globo para o número continuar. “O espetáculo é lindo, mas às vezes passa um pouco de amadorismo”, comentou a advogada Moema Cordeiro. O arquiteto Petrúcio Menezes, 37, acompanhado da mãe Terezinha, 89, reclamou da acessibilidade difícil dos idosos ao banheiro. “É preciso subir cinco lances de escada”. Na ausência de banheiros familiares, pais com filhas pequenas precisavam levá-las aos sanirários masculinos. A assessoria de comunicação do circo informou que os toaletes especiais seriam providenciados ainda no final de semana.
Há outros momentos de arrebatamento. Destaques para o número de projeção de sombras de Oscar Strizzi, impressionante, e para a excelência do mágico Otávio Belli, ilusionista que, dentre outras proezas, vira homem a partir de um cartaz de papel. O Florillegio é circo. Europeu, lúdico, tradicional - e sem a crise financeira do continente.

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