ENTREVISTA

João Falcão: "sempre se tem o que melhorar"

Pernambucano que dirige a nova montagem da Ópera do malandro, de Chico Buarque, conversa sobre o espetáculo e sua carreira nos palcos

Karol Pacheco
Cadastrado por
Karol Pacheco
Publicado em 24/08/2014 às 13:20
Foto: Daryan Dornelles/Divulgação
Pernambucano que dirige a nova montagem da Ópera do malandro, de Chico Buarque, conversa sobre o espetáculo e sua carreira nos palcos - FOTO: Foto: Daryan Dornelles/Divulgação
Leitura:

Dos três autores da Ópera do malandro com os quais a reportagem do JC conversou, todos citaram a inquietação criativa do diretor recifense João Falcão na constante mutação do espetáculo. Nesta entrevista ele fala sobre seus processos de crianção e de sua relação com os musicais.

JORNAL DO COMMERCIO – De onde surgiu a ideia de montar a Ópera do malandro?

JOÃO FALCÃO – Foi um convite da mesma produtora que produziu Gonzagão: a lenda. A turma (o elenco) acabou virando uma espécie de companhia e a gente tinha a vontade de fazer um novo espetáculo. Então, a Andréa (Alves, diretora de produção e idealizadora da peça) teve a ideia de fazer a Ópera do malandro.

JC – E a opção por colocar, na cena, mulher interpretando homem e vice-versa, de onde veio?

JOÃO – A companhia do Gonzagão era praticamente formada por homens e eu gostei muito de trabalhar com eles. Para não ficar gente de fora, decidi dobrar papéis e usar o mesmo recurso que usamos no Gonzagão, onde os homens também fazem personagens femininos. Resolvi então que os mesmos atores que fariam os capangas fariam também as putas. As maquiagens deles, bem marcadas, são praticamente máscaras que servem tanto para homens quanto para mulheres. Já as trocas de roupas são bem trabalhosas e a gente treinou bastante. Um dos momentos mais impressionantes é quando os atores aparecem como homens e depois como mulheres na mesma cena.

JC – Como é a sua relação com a música em cena?

 

JOÃO – A música pra mim foi a forma que entrei no teatro, porque eu era músico. Morte e vida severina foi minha estreia. Sempre nas minha peças tem alguma coisa de música. Até no meu jeito de escrever tem uma coisa de ritmos, de métrica, da cadência da música. No Gonzagão, os meninos foram se aprimorando muito na parte musical. Eles tinham inclinações musicais e durante o processo ele foram aprendendo muito, uns com os outros.

JC – Como você e o seu trabalho se relaciona com a obra de Chico Buarque?

JOÃO – Chico para mim? Conheço muito a discografia dele. Tenho curtido e ouvido ele a vida inteira. Fiz uma peça com o Chico, pessoalmente (Cambaio, que teve a trilha composta por Chico Buarque e Edu Lobo, codirigida por Adriana Falcão). Fizemos esta parceria em 2002, que até foi ao Recife no Teatro da UFPE.

JC – Na voz de Chico Buarque, as músicas da Ópera do malandro transcenderam os limites do palco. Como você lidou com isso na montagem?

JOÃO – A Ópera do malandro é uma marca. As canções ganharam vida independente do contexto musical. São canções como Meu amor, Geni e o zepelim, Folhetim. Canções que foram além do palco, foram pra vida e viraram canções independentes. Outra coisa que acredito é na nossa montagem impactante, com o grupo afinado, os arranjos são bonitos. Fiquei muito satisfeito e acho que o público tem delirado nisso.

JC – Os autores comentaram sobre a forma como você conduz a interpretação, sempre a partir do texto. Como acontece este processo?

JOÃO – É muito em cima da compreensão. O que o texto quer dizer? Muito mais do que encontrar um formato de dizer, é ser claro com o público, em relação ao que você está falando, o que aquilo representa na história. O que é aquele texto dentro da dramaturgia? É a compreensão do texto que vai responder. E depois o formato para o personagem, ver o que aquela figura vem dizer com aquilo.

JC – Gonzagão – A lenda foi um espetáculo que cresceu temporada após temporada, através de ajustes no texto ou na própria cena. Como tem sido esse processo de mudança na Ópera do malandro, desde a estreia no Theatro Municipal do Rio de Janeiro até a temporada no Teatro Net Rio?

JOÃO – É um hábito meu de nunca concluir o trabalho, pois sempre tem algo a acrescentar, a transformar, a melhorar. O teatro tem isso do ao vivo. Está vivo, não é como o cinema que há fechamento. Sempre se pode experimentar mais e vou mexendo. A Ópera é um espetáculo bem mais tenso que o Gonzagão. Na verdade, a gente já fez algumas mudanças, compactamos cenas e deixamos outras mais claras. Mas não é nenhuma mudança radical. Melhoramos a compreensão de pequenos textos, assim como a trilha sonora ou a entrada de luz. Eu gosto de sempre assistir ao espetáculo, o que ajuda a processar e perceber esses detalhes.

JC – Está prevista a circulação da peça pelo Brasil?

JOÃO – A pretensão é fazer com a Ópera do Malandro o mesmo caminho que o Gonzagão fez, mas talvez não consiga ser apresentado na rua, da mesma forma. A gente gostaria muito de levar para o Brasil inteiro.

 

 

Últimas notícias