Fliporto

Romero de Andrade Lima faz homenagem a Ariano na Fliporto

Dono de desenhos e pinturas armoriais artista dá aula sobre a poesia do seu mestre

Mateus Araújo
Cadastrado por
Mateus Araújo
Publicado em 13/11/2014 às 6:09
Leitura:

“Quando eu vi que a moça Caetana ia levá-lo, minha sensação foi de que, como artista, a gente podia seguir no caminho traçado por ele. Poder dar continuidade à parceira, independente da morte”, diz Romero de Andrade Lima, artista plástico discípulo de Ariano Suassuna. Dono de desenhos e pinturas armoriais, que deram cor e forma a muitos dos textos do seu tio e professor, Romero apresenta, amanhã, na Fliporto, a aula-espetáculo O trovador Cariri, às 20h15, no Colégio de São Bento. 

“Eu escolhi esse nome porque era o título de uma série de filmes que ia fazer sobre tio Ariano, e pretendia lançar uma aula com a participação dele, para falar sobre a sua poesia”, explica o artista plástico e diretor de teatro.

“Tio Ariano se considerava primeiramente poeta, e dizia que toda sua prosa e teatro derivavam dessa poesia, embora não se considerava conhecido como poeta”, lembra Romero. Partindo disso, o sobrinho resolveu criar um espetáculo no qual pudesse mostrar ao público, através de suas ilustrações, os versos do tio. “Fiz algo parecido, em São Paulo, há dois anos, na aula-espetáculo Guerra, lume e paz, pois sempre associo a literatura de Ariano com a da Rússia do século 19, de Tolstoi.”

Em O trovador do Cariri<, Romero de Andrade Lima criou suas próprias ilustrações para 21 textos de Ariano (20 sonetos e um poema de Natal) que ele apresenta à plateia, tecendo comentários e revelando curiosidades contadas a ele pelo autor. “Ele fez duas séries de dez sonetos e o poema de Natal, que foram publicados juntos, na década de 1980. Ariano ilustrou tudo, e coloriu a mão.”

Nesta coleção, há poemas de diversas épocas. O de Natal é de 1950; um dos sonetos é de 1970, época da ditadura (Soneto de Babilônia e Sertão), no qual Ariano compara o Recife sob efeito da ditadura com a Babilônia, e imaginava a paz ideal no Sertão, em Taperoá, onde passara a infância. “Ariano não foi importunado pela ditadura, mas perdeu amigos e viu outros partirem para o exílio, como Paulo Freire. Escondeu algumas pessoas por semanas na sua casa.”

Os poemas escolhidos pelo artista plástico também mergulham no amor de Ariano por Zélia de Andrade Lima (tia de Romero). “O casamento mudou radicalmente de vida dele. Até então, a vida de Ariano era guiada pelas memórias da morte do pai. E, quando, conheceu tia Zélia, ganhou um sopro novo de vida, passando a acreditar até num amor além da vida. Como ele mesmo escreveu: ‘há de pulsar o amor na escuridão’, no poema A mulher e o reino.”


Últimas notícias