Expectativa

Teatro pernambucano busca retomada em 2015

Depois de um 2014 marcado por cancelamentos e alguns bons espetáculos, o próximo ano prevê calmaria e boas estreias

Mateus Araújo e Bruno Albertim
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Mateus Araújo e Bruno Albertim
Publicado em 23/12/2014 às 6:09
Mariana Russo/Divulgação
Depois de um 2014 marcado por cancelamentos e alguns bons espetáculos, o próximo ano prevê calmaria e boas estreias - FOTO: Mariana Russo/Divulgação
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Um ano de dicotomias para as artes cênicas locais. Assim pode ser definido o ano de 2014. Enquanto por parte da esfera pública as polêmicas deram o tom à cena, a dança e o teatro pernambucano trouxeram à pauta novas perspectivas de dramaturgia e espaços cênicos, prêmios, revelações e reconhecimento. O que esperar de 2015, porém, ao que parece, é um ano calmo no que diz respeito ao ritmo das produções, mas também de retomadas e continuação de projetos.

O ano já começa com novidade. O maior espetáculo de massas de Pernambuco, a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, começa o ano com novo protagonista. Depois de três temporadas, José Barbosa troca o papel de Jesus pelo de Judas e cede a vaga a Igor Rickli, protagonista do musical da Broadway Jesus Cristo Super Star. 

No que diz respeito às novas montagens, os olhares e as expectativas da cena pernambucana recaem, grosso modo, sobre o Grupo Magiluth e o Coletivo Angu de Teatro. Ambos serão os responsáveis pelas mais esperadas peças de 2015. 

Destaque do teatro pernambucano de 2013, o Magiluth passou 2014 em pontes aéreas pelo Brasil, com a circulação do festival Palco Giratório do Sesc. Neste ano, o sexteto de atores fez cem apresentações. Em 2015, a companhia mergulha em processo criativo. 

Para o próximo ano, o Magiluth criará três novas montagens: a primeira delas, prevista para o primeiro semestre, é O ano em que sonhamos perigosamente; a segunda, Sobre felicidade, em parceira com um grupo português, o Mala Voadora, deve estrear em outubro em Portugal; e até o final do ano eles apresentam Fogo no altar, que deve ser um monólogo de Pedro Vilela. Além disso, os atores lançam uma revista bimestral sobre teatro e o livro sobre os dez anos de trajetória da companhia.

Esperadíssima também é a nova montagem do Coletivo Angu de Teatro. Depois de um ano em silêncio, o grupo prepara para 2015 a estreia de Ossos, adaptação do romance de Marcelino Freire sobre um diretor de teatro que volta a Pernambuco para trazer o corpo de seu amante e entregá-lo aos pais. A adaptação é feita pelo próprio autor. Além de André Brasileiro e Arilson Lopes, o elenco deve contar com Irandhir Santos – a pedido do próprio Marcelino. A direção é de Marcondes Lima. 

A escassez de novas montagens também vai ser pontencializada por causa do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) 2014. Uma discussão que deve continuar em 2015 é também a criação de um edital do Funcultura voltado apenas para as artes cênicas. 

No que depender da verba do edital deste ano, a produção das artes cênicas do Estado nos próximos meses se concentrará, principalmente, nas linhas de pesquisa, manutenção de repertório e formação. Isso porque, dos 74 projetos contemplados, apenas 12 deles (mais do que o dobro do ano passado) são destinados a montagens de espetáculos, sendo cinco de dança, dois de circo, dois de ópera e três de teatro. 

Quem deve continuar em pauta também é a nova febre dos espetáculos encenados dentro de casas. Em 2014, seja pela situação precária do equipamentos ou por motivação de explora uma nova perspectiva de encenação, atores da cidade deram início a um intenso movimento de teatro domiciliar. O sucesso foi tão grande que o próprio Janeiro de Grandes Espetáculos contará com uma mostra exclusiva dedicada à esta linguagem.

No cenário nacionalmente, Pernambuco deve ser representado pelo ator, diretor e poeta Biagio Pecorelli, que estreia em maio, em São Paulo, seu novo coletivo, A Motosserra Perfumada. Ele encena Aquilo que me arrancaram foi a única coisa que me restou, sobre um homem que busca seus pedaços deixados com seus amantes e ex-namoradas. 

PREFEITURA NA BERLINDA

No roteiro das artes cênicas locais, a Prefeitura do Recife foi uma das responsáveis pelas maiores polêmicas deste ano. Como uma tragédia anunciada, a secretária de Cultura Leda Alves anunciou, faltando pouco mais de um mês da data em que deveria acontecer, a suspensão do Festival Recife do Teatro Nacional e sua transformação em bienal. O mesmo passará a acontecer com o Festival Internacional de Dança do Recife. 

A prefeitura alegou falta de verba e de planejamento para realizar os eventos. Houve grande chiadeira entre a classe artística, que, não consultada sobre a decisão, reclamou de falta de diálogo e autoritarismo na gestão cultural. Após pressão, a secretaria prometeu repensar a mudança.

No final de novembro, o prefeito Geraldo Julio assinou a ordem de início da reforma do Teatro do Parque, fechado há quatro anos. A reforma, porém, está prevista para acabar só em dezembro de 2016, deixando a cidade sem o teatro durante o centenário dele, que é comemorado em agosto de 2015. Para fazer o monitoramento dos equipamentos culturais municipais, a Secretaria de Cultura decidiu, em setembro, criar até o fim do a Gerência Geral de Arquitetura e Engenharia, que terá a incumbência de fazer a conservação e a manutenção preventiva. 

A PCR, porém, também encerra 2014 sem tomar algumas decisões importantes e cobradas de forma recorrente pela classe. Embora tenha dito ao JC, em entrevista no final de novembro, que “cultura é prioridade da gestão”, o prefeito Geraldo Julio tem sido cobrado sem sucesso pelos artistas e produtores para ouvir pelo menos seis propostas, algumas que atendem também a outras áreas da cultura: licitação pública para os teatros municipais em horários nobres (pauta de três meses) por semestre; reformulação e reativação do Sistema de Incentivo à Cultura em 2015, com Fundo Municipal de Cultural e Mecenato; ativação como espaço cênico a Concha Acústica Sítio Trindade; implantação do Vale-Cultura para todos os servidores do municipais, Prêmio Montagem e Prêmio Circulação nas Escolas Municipais. Mas segue sem ouvir a classe.


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