Com orçamento apertado e a responsabilidade de suprir a lacuna deixada pela não realização da última edição do Festival Recife do Teatro Nacional, o Janeiro de Grandes Espetáculos tem a 21ª edição confirmada para começar no próximo dia 15. “Só fizemos o festival este ano porque temos mesmo um grande compromisso com o projeto e o público ficaria realmente carente se não o fizéssemos”, diz Carla Valença, produtora do festival internacional de artes cênicas ao lado de Paula de Renor e Paulo de Castro.
Do total de R$ 1,5 milhão necessários para o orçamento do festival, apenas a metade foi obtida. “Perdemos vários patrocínios importantes, mas estamos apostando que tudo vai dar certo no final, esperando ainda fechar com um patrocinador importante”, diz produtora. Apesar das dificuldades, o Janeiro tem números expressivos: serão 90 atrações divididas em 147 apresentações – 94 de teatro, 17 de dança, 17 shows, 9 espetáculos para infância e juventude, cinco leituras dramatizadas, três saraus artísticos. Depois de abrir mão de realizar a última edição do festival nacional de teatro, a Prefeitura do Recife vai aportar R$ 350 mil no evento.
Na programação musical, o grande destaque é a diva Elza Soares, que promete “subverter” clássicos da MPB em duas apresentações no Teatro de Santa Isabel, nos dias 16 e 17 de janeiro. Ainda na programação, Mônica Feijó e Terno de Areia, no dia 24, além do show especial Vozes & Cordas Brasileiras (dia 25), com a reunião das vozes de Beto do Bandolim, Josildo Sá e Maciel Melo.
Com uma grande retrospectiva dos melhores espetáculos de teatro e dança do ano passado, o festival também reserva lugar estreias. Uma delas é A mandrágora, direção de Marcondes Lima para uma trama ambientada no sertão nordestino. O universo da escritora Hilda Hilst é explorado em Obscena, solo da ex-modelo e atriz Fabiana Pirro, com apresentações marcadas nos dias 27 e 28, no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro. Na dança, outra estreia: o Grupo Experimental traz Breguétu, investigação e apropriação do universo da música brega (nova coreografia do grupo, em dois dias: 30 e 31 de janeiro, no Espaço Experimental).
Como crise é resolvida, quase sempre, com criatividade, um dos fenômenos teatrais do ano passado foi justamente a consolidação de apresentações de teatro em residências. O Janeiro terá, portanto, uma mostra especial do gênero. A programação começa com Acontece enquanto você não quer ver, da Cena OFF e Três de copas, nos dias 19, 23 e 30 de janeiro, no Espaço Caramiolas, Boa Vista. Também na Boa Vista, a Casa Outrora apresenta Cenas Belas!, às 20h, e (In)Cômodos, às 22h, no dia 20.
No mesmo lugar, haverá a apresentação do excelente Deixa ser eu (nos dias 25, 26 e 27). Com dramaturgia de Marcelo Oliveira, o espetáculo, radicalmente poético, se ancora na estética do ator narrador, contando a história de três personagens à margem: Jacinta (Wagner Montenegro), uma travesti que trabalha na Boa Vista e sonha em se tornar atriz de Hollywood; Iracema (Greyce Braga), uma senhora que ensina aos noivos da Igreja da Soledade como cuidar de flores; e um Homem (Marcelo Oliveira) que teve seu irmão assassinado e hoje mata formigas “porque sua casa não é doce”.
A atriz pernambucana Augusta Ferraz é a homenageada desta edição, com seus 40 anos de carreira. No Teatro Arraial, haverá uma mostra especial com uma retrospectiva de sua carreira no teatro. A mostra Augusta Ferraz: 40 anos de resistência reunirá quatro monólogos: a estreia da leitura dramatizada da peça Stupro, da dramaturga italiana Franca Rame (dias 19 e 20 de janeiro), e os espetáculos MEDEAponto (dia 30), Sexo, a arte de ser censurado (dias 16, 17 e 22 de janeiro), no interior, e no dia 31 de janeiro, no Recife, e Guiomar, a filha da mãe, no dia 1º de fevereiro.
O evento inclui, além do Recife, Goiana, Caruaru e Arcoverde, com eventos tanto em teatros como na rua. Os ingressos já estão à venda (R$ 20, a maior parte dos espetáculos), tanto na central de ingressos localizada no Teatro de Santa Isabel quanto no site do evento (www.janeirodegrandes espetaculos.com.
