Dança

Espetáculo questiona os excessos da contemporaneidade

"Retina", do Camaleão Grupo de Dança (MG), é apresenta neste de semana no Luiz Mendonça

Mateus Araújo
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Mateus Araújo
Publicado em 24/01/2015 às 6:51
Ed Felix/Divulgação
"Retina", do Camaleão Grupo de Dança (MG), é apresenta neste de semana no Luiz Mendonça - FOTO: Ed Felix/Divulgação
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As informações são muitas. Os “bombardeios” de dados, notícias, modas, costumes e comportamento estão a todo tempo chegando ao homem contemporâneo de forma incontrolável, já essencial. Desse incômodo e da provocação sobre o que fazemos com o excesso dessas informações nasceu o espetáculo Retina, do Camaleão Grupo de Dança de Minas Gerais, a ser apresentado hoje e amanhã, às 21h e 20h, respectivamente, no Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu), e reapresentado quarta-feira no Sesc Caruaru e na sexta-feira no Sesc Goiana, também dentro da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos. 

 

 

Com direção-geral da mineira Marjorie Quast e coreografia do pernambucano radicado em São Paulo Jorge Garcia, o espetáculo reúne em cena cinco bailarinos em um ambiente urbano no qual dialogam os movimentos da dança de rua e da dança contemporânea. “Retina começou a ser pensado como um espetáculo voltado para o jovem, embora ele atinja gente de todas as idades”, explica Marjorie, que optou por usar na trilha sonora e como referência na dramaturgia a música e a vida de cinco músicos de renomes internacionais que morreram aos 27 anos, marcados pelo excesso e a transgressão: Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison, Kurt Cobain e Amy Winehouse. 

As contradições e os contrapontos da vida moderna seguem no espetáculo pelo figurino dos bailarinos. Como explica Marjorie Quast, opção da direção foi por utilizar tonalidades escuras duelando com tonalidades claras, numa alusão ao “excesso de luminosidade que cega e a falta de luz que também impossibilita enxergar”. “O homem contemporâneo não cessa de consumir imagens, seu olhar acolhe mais que a sua capacidade de refletir sobre elas”, explica a diretora na apresentação do espetáculo. “Levantamos o seguinte questionamento: porque todos têm que estar iguais? Todos têm que estar seguindo esse tipo de ordem e comportamento?”, completa ela, em entrevista. Presente na companhia desde sua fundação, Marjorie é especialista em técnicas clássicas de dança e criadora de um método próprio de Jazz.

 


Criado em 2013, Retina (o título faz justamente alusão à parte do olho onde se formam as imagens, o filtro em que o claro e escuro, sombra e luz se misturam) conquistou as categorias de Melhor Espetáculo, Melhor Iluminação, Melhor Cenografia e Melhor Trilha Sonora no Prêmio Copasa/Sinparc de Artes Cênicas, de Minas Gerais, há dois anos. O trabalho é ainda a primeira montagem inédita desde Horas possíveis – Enquanto o lobo não vem... (2011), de Chico Pelúcio e Lydia Del Picchia (ambos do Grupo Galpão), espetáculo de rua que segue em repertório nas comemorações dos 30 anos do grupo, celebrado em 2014.

Criado em 1984, o Camaleão Grupo de Dança tem em seu repertório 14 montagens assinadas por 11 destacados profissionais nacionais e internacionais, entre eles Carlota Portela, Mário Nascimento, Luís Arrieta, Tíndaro Silvano e Tuca Pinheiro. Em Minas Gerais, o grupo mantém uma parceria com o Núcleo Artístico, através da qual participam, incentivam, criam e divulgam a dança cumprindo com o seu compromisso social de educadores e difusores culturais, se tornando o berço de renomados artistas nacionais. 

Para construir o espetáculo Retina, o Camaleão contou com a direção coreográfica do bailarino Jorge Garcia. O pernambucano iniciou seus estudos em Recife, em 1991, na Compassos Cia de Dança, mesclando danças populares brasileiras e em 1994, entrou para Grupo Experimental, com coreografias de Marcelo Pereira. Jorge também já passou pelo Cisne Negro Cia de Dança, pelo Balé da Cidade de São Paulo e desde 2003 desenvolve um trabalho de pesquisa em improvisos, vídeos e performances com artistas criadores-intérpretes do Grupo Grua.   

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