Morena Nascimento faz de Rêverie uma dança de devaneios

Bailarina mineira, ex-integrante da companhia de Pina Basch, se apresenta no Recife a partir desta quinta (23)
Mateus Araújo
Publicado em 23/04/2015 às 6:01
Bailarina mineira, ex-integrante da companhia de Pina Basch, se apresenta no Recife a partir desta quinta (23) Foto: Vitor Vieira/Divulgação


Rêverie, em francês, significa devaneio. Devaneios, em Rêverie, o espetáculo, significa o caminho de relação sentimental entre palco e plateia, através de uma dança de intensa carga dramatúrgica. É assim que a bailarina Morena Nascimento volta ao Recife, para fazer da cena um emaranhado de emoção. Com subtítulo Sonho de desastre cósmico com final feliz, o trabalho fica em cartaz de hoje até sábado, na Caixa Cultural Recife, sempre às 20h. 

Esta é a terceira montagem de Morena desde sua volta ao Brasil, após três anos na Alemanha, quando fez parte da Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, dirigida pela famosa coreógrafa alemã. “Com Rêverie, fecho mais um ciclo de trabalhos e de apresentações no Recife. Já apresentei Claraboia e Diálogo entre música e dança na cidade, e agora volto com uma nova peça”, explica Morena. 

 

 

Em cena, Morena Nascimento veste figurino acinzentado, inspirado na Alemanha pós-guerra, e ocupa variados espaços do palco, sendo flagrada em diferentes posições e expressões, com os cabelos molhados e soltos. Utilizando-se de um jogo de blecautes (que expõe e esconde cenas) para gerar a sensação de fotomontagem, a encenação buscar reproduzir sonhos e estados de espírito através da dança. 

Diferente de Claraboia, que Morena apresentou na Caixa Cultural, em 2013 – em que as bailarinas dançavam sobre o vidro oito metros acima do público, que ficava deitado no octógono do local – em Rêviere se estabelece uma relação mais direta com a plateia. “Agora estamos na caixa preta (palco tradicional do teatro), onde a gente pode revelar coisas de forma crua e concreta. É uma relação que me faz voltar a esse desejo de estar no palco italiano e trabalhar com dramaturgia”, explica a bailarina “Este espetáculo tem a necessidade muita clara de dialogar com o público, receber resposta do público”, conta ela que, pela primeira vez, é guiada por um texto dramatúrgico, assinado por Carolina Bianchi, com quem Morena divide a direção.

“Meu trabalho lida com assuntos que se repetem, essencialmente: a beleza, a sensualidade, o temperamento e o amor. É o mundo dos sentimentos. Meus trabalhos estão conectados com isso”, explica Morena. “Não fico me fixando a um método; a cada momento é uma necessidade”, completa. 

 

 

Mineira, há quatro anos e meio morando em São Paulo, Morena Nascimento não esconde a vontade de uma parceira com a dança pernambucana. O primeiro contato que ela teve com artistas daqui foi através do Grupo Grial de Dança, no final da década de 1990 e início dos anos 2000.

“Encontrei o Grial na Bienal de Santos, em São Paulo, e gostei muito do trabalho de Maria Paula Costa Rêgo”, lembra Morena. 

“Em São Paulo, cheguei a conhecer outros artistas, e tenho uma admiração muito grande pela classe artística do Recife, que tem um produção bem intrigante”, diz ela. São pessoas inteligentes, com autonomia e empáfia, como sinto na Bahia. Se apresentam de forma afetuosa, direta. Eu tenho uma vontade muito grande de fazer um intercâmbio com a cidade e trabalhar com bailarinos daí.”

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