Abelardo Barbosa

Chacrinha recebe tributo em musical que chega ao Recife

Ator Stepan Nercessian assume o papel do Velho Guerreiro, em grande atuação

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 27/09/2015 às 6:16
Caio Gallucci/Divulgação
Ator Stepan Nercessian assume o papel do Velho Guerreiro, em grande atuação - FOTO: Caio Gallucci/Divulgação
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Foram dois os sustos de Andrucha Waddington. O primeiro, quando recebeu da produtora Aventura – responsável por sucessos como o musical sobre Elis Regina – o convite para dirigir um espetáculo sobre Chacrinha. “Eu nunca tinha feito teatro antes. Quando me convidaram para dirigir, eu falei, gente, vocês têm certeza? Até começarem os ensaios, eu estava superinseguro. Mas dirigi como se fossem realmente planos-sequências”, diz, por telefone, do Rio de Janeiro, o diretor dos longas-metragens Casa de Areia e Eu, Tu, Eles. O outro susto se deu quando ele encontrou o protagonista para o espetáculo.

“Depois de várias audições sem ter a certeza de quem escalar, minha sogra (a atriz Fernanda Montenegro) me disse que a única pessoa que poderia fazer bem o Chacrinha seria o Stepan Nercessian. E, quando ele chegou, nem precisou fazer a audição. O Stepan já chegou com o Chacrinha no corpo. Era ele!”, diz o diretor sobre o musical de estrondoso sucesso, com mais de 250 mil espectadores em suas temporadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, e que chega ao Recife para uma temporada de 2 a 4 de outubro no Teatro de Santa Isabel. 

Se o texto de Pedro Bial e Rodrigo Nogueira coleciona algumas críticas pelo maniqueísmo excessivo de focar no Chacrinha como o grande comunicador vitimado pela falta de escrúpulos do então executivo da TV Globo José Bonifácio Sobrinho, o Boni, a textura musical e, sobretudo, a interpretação mediúnica de Stepan fazem deste um musical já antológico. Quando assistiram à peça, a viúva Florinda e os filhos de Chacrinha fizeram questão de cumprimentar o intérprete. “Parece que estávamos vendo ele outra vez”, disse Florinda. 

Em participações especiais nos espetáculos, artistas que se lançaram ou adubaram suas carreiras ao participar do histórico Cassino do Chacrinha foram às lágrimas. O programa foi o mais anarquicamente tropicalista da TV brasileira, onde o brega e o romantismo popularesco dos quartos dos fundos roçavam as coxas sem constrangimento com o rock e a MPB da elite universitária. Xuxa, Ney Matogrosso, Elke Maravilha e Fábio Júnior, por exemplo, não contiveram o choro quando representaram a si próprios. 

“Quando recebi o convite, fiquei também receoso”, diz, por telefone, Stepan Nercessian. “Chacrinha é muito imitado, e eu não sou um imitador”, diz ele, preocupado em ir além da caricatura. “Meu trabalho era não atrapalhar o Chacrinha, deixar ele vir por si só”, diz o ator que, na condição de galã da TV na época em que os galãs duravam mais de uma estação, ocupou por duas vezes a famosa bancada de jurados do Cassino do Chacrinha.

Stepan procurou entender a bipolaridade do grande palhaço anárquico que, em vez de se moldar ao eletrônico, obrigou a TV a desenvolver uma linguagem para ele. “Para construir o personagem, eu fiz exatamente o que o Chacrinha faria. Ele, em cena, era um palhaço, mas era muito exigente, um obsessivo, que tomava 30 remédios por dia, muito exigente, preocupado com a audiência, um sujeito que trabalhava 24 horas por dia”, diz o ator. 

Maior comunicador da história da TV brasileira, o pernambucano de Surubim que dizia que na TV nada se cria, tudo se copia tem, no espetáculo, sua trajetória narrada desde a infância no Agreste de Pernambuco até o auge como palhaço-rei do circo eletrônico da Globo. Seu Cassino apresentava o sui generis show de calouros com as rebolativas chacretes, que ele procurava controlar com rigor de padrasto. Havia, ainda, os trocadilhos infames e os muitos nomes da música brasileira que ajudou a revelar ou consolidar. Dezoito atores-bailarinos completam o elenco. 

“É muito importante apresentar o espetáculo no Recife, É como se Chacrinha tivesse voltado para o lugar de onde saiu”, diz Stepan, lembrando que Abelardo Barbosa estava num navio a caminho da Europa quando estourou a Segunda Guerra Mundial, obrigando-o a descer no Rio de Janeiro onde, depois de dividir um apartamento um tanto insalubre em Copacabana com os conterrâneos Fernando Lobo e Antônio Maria, se tornaria um mito.

“Depois dele, jamais haverá alguém igual. Se ele surgisse hoje, tenho certeza de que teria a mesma audiência. Ele era tão genial que a TV teve que se adaptar a ele”, diz Stepan, agora com planos para novas vidas para o seu Chacrinha. Ano que vem, ele protagoniza um longa, com versão em minissérie para a TV sobre Abelardo Barbosa dirigido por Andrucha Waddington.

Stepan também vai incorporar o Velho Guerreiro em novos programas-homenagens na TV Globo com os artistas da época dando nova vida ao Cassino do Chacrinha.

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