Teatro

Teatro de Narradores ajusta bússola no terreno do possível

Companhia ocupa o Sesc Ipiranga com a mostra Cenas Insurgentes - Solos Para um Coletivo

Leandro Nunes
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Leandro Nunes
Publicado em 21/01/2016 às 12:50
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Companhia ocupa o Sesc Ipiranga com a mostra Cenas Insurgentes - Solos Para um Coletivo - FOTO: Divulgação
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Há três anos, o que marcava a trajetória do Teatro de Narradores era a apresentação de Retrato Calado, espetáculo criado a partir da obscura autobiografia homônima de Luiz Roberto Salinas Fortes, sobre as torturas que o escritor sofreu durante a ditadura militar. 

Naquela ocasião, o grupo fundado por José Fernando de Azevedo e Teth Maiello completava 15 anos. A partir desta quinta-feira, 21, a companhia ocupa o Sesc Ipiranga com a mostra Cenas Insurgentes - Solos Para Um Coletivo. 

É primeira experiência do grupo em montagens que levam apenas um único ator no palco, explica Azevedo. Ele conta que o que motivou esse trabalho foram percepções nos 18 anos de estrada. "Como as individualidades influenciam o coletivo?", questiona. "E em que medida isso pode interferir nesse coletivo?" As questões serviram de guia para os artistas que concretizaram quatro solos, apresentados um por noite. 

A peça que abre a série se chama Maneiras Trágicas de Matar Uma Mulher e reflete sobre a mulher em situação de guerra, representada pelo assassinato da figura mitológica de Polixena, princesa de Troia, pelas mãos de Neoptólemo, filho de Aquiles. A cena interpretada por Teth pretende imaginar as possibilidades de ação provocas pela decisão da princesa. 

Na segunda noite, um jogo de mentiras é conduzido por Renan Tenca Trindade. O episódio trazido em A Guerra Não Tem Ensaio retrata o episódio em que o mesmo Neoptólemo tem que mentir para roubar as armas do antigo guerreiro Filoctetes. Na cena, o grupo utiliza um dispositivo convencionado como "deslizamento", explica o ator. "É uma forma de apresentar os diversos pontos de vista desses personagens", que, além do jovem e do velho guerreiro, incorpora a voz de Ulisses, da tragédia de Sófocles.

Um outro convite à imaginação se faz no terceiro solo, desta vez com Azevedo no palco. Em Estamos Todos em Perigo, ele vive um ator que conversa com o público sobre o espetáculo que ele teria acabado de apresentar. Para isso, Azevedo retoma o último discurso do cineasta Pier Paolo Pasolini antes de ser assassinado, em 1975. "É um jogo de imaginação. O que eu e a plateia podemos imaginar juntos. É uma forma de pensar dramaturgia no ato", conta. 

O solo que encerra a série se concretiza na instalação sonora de Efeito Sala - Primeiro Movimento. "O objetivo é dar protagonismo para o som e experimentar caminhos para inscrever uma dramaturgia sonora", conta Rafael Souza Lopes, que dirige o trabalho. "Por meio de sons concretos, como barulhos do cotidiano e sons oníricos, mais abstratos, queremos explorar como imagens podem estar atreladas a esses sons." 

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