Trema

Teatro Máquina e o peso da incomunicabilidade em 'MáquinaFatzer'

Espetáculo preenche lacunas de obra inacabada de Brecht

JC Online
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Publicado em 07/05/2017 às 14:56
Deivyson Teixeira/Divulgação
Espetáculo preenche lacunas de obra inacabada de Brecht - FOTO: Deivyson Teixeira/Divulgação
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Somos uma sociedade tão ligada à imagem e à palavra que causa estranheza não decodificar quase de imediato os símbolos que nos são apresentados. Com tantas ferramentas que buscam auxiliar na comunicação, como lidar com o desespero de não compreender ou se fazer compreendido? Essas questões ganham corpo desde os primeiros instantes de Diga Que Você Está de Acordo ­­– Máquinafatzer, espetáculo que o Teatro Máquina apresentou neste fim de semana, no Teatro Hermilo Borba Filho, dentro do Trema Festival.

O texto de O Declínio do Egoísta Johnaan Fatzer foi elaborado por Bertolt Brecht entre 1926 e 1931. Seu conteúdo, porém, nunca foi finalizado. Como uma espécie de obra aberta, atraiu desde então a curiosidade de diversos pesquisadores e artistas que se lançaram na missão de decifrar ou ressignificar seu conteúdo. No caso do Teatro Máquina (CE), essa investigação ocorreu de forma visceral, como é possível ver no produto final.

Na obra, quatros soldados desertam da guerra na casa da mulher de um deles. As tensões dos conflitos internos e externos e o iminente perigo de que alguma coisa (qualquer coisa) vá acontecer, permeiam toda a montagem. O cenário é simples, mas certeiro, montado em cima de espécie de pallets que são postos e removidos à medida em que aquele ambiente e seus personagens desmoronam.

A opção do grupo por não utilizar diálogos propriamente ditos – ouve-se grunhidos e a ação é quase toda física ­– causa uma necessária estranheza ao espectador. É preciso prestar muita atenção, pois nada ali é mastigado. Ao contrário: a narrativa é quase indigesta e a violência que a atravessa é opressora. As poucas palavras inteligíveis saem da boca dos personagens com dor, quase como se fossem expulsas. Como se se comunicar fosse, por si só, um esforço tão grande que às vezes se torna quase impossível, principalmente em tempos de caos.

AFINADO

O elenco formado por Loreta Dialla, Fabiano Veríssimo, Felipe de Paula, Márcio Medeiros e Levy Mota sustenta a tensão da cena com maestria e a direção de Fran Teixeira encontra soluções cênicas criativas que nunca deixam o espectador desviar o foco da ação, mesmo nos momentos mais desagradáveis, como os de violência. A iluminação e a trilha sonora também funcionam quase como personagens, criando um mundo solitário e prestes a ser engolido pelas sombras. A opressão, como mostra o Teatro Máquina,  está tanto lá fora quanto dentro de todos nós.

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