TREMA

Peça 'Leite Derramado' investiga o que é ser brasileiro

A montagem do Club Noir para o livro de Chico Buarque tem apresentações sábado e domingo (13 e 14), no Teatro Santa Isabel

JC Online
Cadastrado por
JC Online
Publicado em 13/05/2017 às 17:36
Edson Kumasaka/Divulgação
A montagem do Club Noir para o livro de Chico Buarque tem apresentações sábado e domingo (13 e 14), no Teatro Santa Isabel - FOTO: Edson Kumasaka/Divulgação
Leitura:

De que é feita uma nação? O que forma um povo e mais: seria possível construir uma nova identidade, ressignificando o que
identificamos como “nós”? Longe de encontrar respostas, mas dispostos a se lançar nos questionamentos, os artistas do Club Noir (SP) têm desenvolvido um complexo mosaico do ethos brasileiro a partir de espetáculos como Leite Derramado, baseado no livro homônimo de Chico Buarque, encenado sábado e domingo (13 e 14), no Teatro Santa Isabel, dentro do festival Trema.

À procura de um romance contemporâneo que pudesse se tornar ferramenta estética para repensar o que é ser um brasileiro e qual a natureza do País enquanto nação hoje, o diretor e dramaturgo Roberto Alvim recorreu a Leite Derramado e mostrou a Chico Buarque a primeira versão da adaptação. Emocionado, o escritor cedeu os direitos da obra, porém o trabalho não estava terminado para Alvim, que trabalhou durante um ano no texto, chegando a reescrevê-lo sete vezes.

“Tenho 26 anos como diretor profissional, dirigi mais de 80 peças e posso dizer com ênfase que este foi o trabalho mais difícil e que catalisa tudo que aprendi com o teatro. Esse tempo todo de trabalho diário, obsessivo, foi na verdade para fazer jus às questões presentes na obra, que me parece trazer uma figura inédita para a dramaturgia, representada pelo Eulálio”, afirma o diretor.

TRAMA

Eulálio D’Assumpção, protagonista da obra vivido por Juliana Galdino (em performance muito elogiada) é um centenário à beira da morte cuja memória cheia de falhas mistura fatos de sua vida com a de seus antepassados, ajudando a montar um quadro caótico e ao mesmo tempo certeiro do imaginário brasileiro, com oligarquias corruptas e responsáveis pela manutenção das injustiças sociais endêmicas no País.

A montagem, no entanto, não se atém à crítica às elites, compondo-se de camadas mais profundas que desenvolvem a complexidade do que entendemos por Brasil.

“Iniciamos a peça com a frase ‘Nossa tragédia é toda sua’. Porque, de fato, nós construímos, todo dia, uma tragédia que vai nos vitimar todos, inclusive os representantes dessa elite. Os ensaios da peça foram no meio do processo de impeachment e muitos me perguntam se isso afetou a montagem. Claro que isso atravessa, pois vivemos uma situação caótica na política, mas a obra se pretende mais profunda. Fazemos uma visão panorâmica de 500 anos da história do Brasil e me parece que isso é urgente, emergencial. Não existe o Brasil, existem os brasileiros. Nossa grande ambição foi criar uma ferramenta, instrumento poético, reflexivo e estético que nos ajudasse a ressignificar o que é ser brasileiro no século 21”, enfatiza o diretor.

Últimas notícias