Humor ácido

Rodrigo Dourado volta aos palcos com a peça 'Ligações Perigosas'

Adaptação da obra de Laclos é apresentada no Teatro Hermilo Borba Filho

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 17/05/2018 às 19:59
Ricardo Maciel/ Divulgação
Adaptação da obra de Laclos é apresentada no Teatro Hermilo Borba Filho - FOTO: Ricardo Maciel/ Divulgação
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Uma elite tacanha, que não aceita perder privilégios e vê o resto da população como peças descartáveis no jogo de manutenção das injustiças sociais. Poderíamos estar falando do Brasil contemporâneo, mas é também um retrato da França do final do século 18, às vésperas da revolução que daria fim ao absolutismo naquele país. É para os casarões da nobreza que Choderlos de Laclos (1741-1803) lança seu olhar no livro Ligações Perigosas, cuja adaptação para os palcos pernambucanos pelo grupo Teatro de Fronteira estreia nesta sexta-feira (18), às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho.

O projeto da peça nasceu do desejo de Rodrigo Dourado de voltar aos palcos. Na última década, o artista se dedicou à dramaturgia, direção e à vida acadêmica (é professor do curso de Teatro da UFPE). Buscando um texto, lembrou da adaptação cinematográfica do texto de Laclos, de 1989, dirigida por Stephen Frears.

"Foi um filme que marcou minha adolescência e fundamental para minha cinefilia. O livro é um romance epistolar e me interessou muito. Apesar de, como diretor, ter uma pegada mais contemporânea, enquanto ator sou mais ligado aos textos clássicos”, explica Rodrigo.

Ele divide a cena com Rafael Almeida, que sugeriu o nome de João Denys para a direção. Na adaptação feita pelo próprio grupo, o universo de personagem foi reduzido a quatro: A Marquesa de Merteuil e o Visconde de Valmont; a noviça Senhorita Volange e a beata Madame de Tourvel.

PODRES PODERES

Na trama, dois aristocratas franceses com uma vida sexual enérgica, para usar eufemismos, criam uma espécie de jogo de sedução que envolve terceiros. Neste processo, não medirão esforços (nem artimanhas) para atingir seus objetivos.

“É um texto com uma teatralidade explícita que nos interessou muito. Os personagens brincam de ser outros o tempo todo. Há uma característica farsesca, meio brechtiana que tem muito a pegada do Teatro de Fronteira. A gente, de alguma forma, ironiza esse ‘teatrão’, gostamos de fazer de uma forma irônica, longe das convenções”, reforça Dourado.

Rodrigo acredita ainda que, ainda que os paralelos com os nossos tempos permeiam a obra, mostrando que, apesar de muitas mudanças, ainda continuamos os mesmos.

“A gente retrata a aristocracia que zomba e tem nojo do povo. Eles têm todo tipo de luxo e, na falta do que fazer, vão brincar com os sentimentos das pessoas, diminuir, desprezar, provar para as pessoas que eles são superiores. Não querem encarar o mundo como ele é”, pontua.

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