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Projeto Marsenal reúne artistas no Bairro do Recife

Ação independente tem congregado cena cultural no Bar do Mamulengo

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 01/08/2019 às 15:14
Camila Silva/Divulgação
Ação independente tem congregado cena cultural no Bar do Mamulengo - FOTO: Camila Silva/Divulgação
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“A história da humanidade nos ensina que em tempos de crise, violência, repressão e retrocessos, quando o abismo social se alastra e as pessoas não respeitam as diferenças, quando a educação, a saúde, a cultura e o trabalhador são ameaçados, faz-se necessário o grito, o movimento, o gesto coletivo, o levante. Diante da perseguição, a arte sempre foi a resistência, a emancipação”. É assim que começa o manifesto do Marsenal, projeto que atualmente ocupa o Bar do Mamulengo, no Bairro do Recife, com atividades culturais e trocas de ideias e experiências sobre a atualidade. Nesta quinta-feira (1º), às 18h, tem o trabalho Mesa de Glosar, das Violetas da Aurora, com participação de Olga Ferrario (Palhaça Musquita) e Beta Ferralc (Palhaça Doninha), além de uma exposição fotográfica com trabalhos de 11 fotógrafos.

Desde sua estreia no início do mês, o Marsenal foi consolidando um de seus principais objetivos: agregar. De forma totalmente independente, as Violetas da Aurora, coletivo formado por Ana Nogueira, Sílvia Góes, Fabiana Pirro e Mayara Waquim, e Claudio Ferrario decidiram se aproximar do público e apresentar seus trabalhos no esquema chapéu solidário (o espectador paga quando quiser/puder).

“Este projeto nasceu da nossa vontade de trabalhar e de ocupar o Recife Antigo, que normalmente fica deserto à noite. Nos pareceu muito urgente a percepção de que não podemos mais esperar: se temos alguma coisa para dizer, essa é a hora. Vivemos um momento em que é preciso tomar posição e não ficar parado porque o cenário é de retrocessos, com toques de fascismo. Por isso, precisamos colocar na rua esse caráter de resistência do teatro”, explica Fabiana Pirro, que integra o Violetas da Aurora.

Segundo a atriz, a falta de incentivos públicos e privados neste momento político, com ataques à área cultural, tem atingido com força a classe artística. Mas, ao invés de esmorecer, ela acredita que essas dificuldades – não só de ordem prática, mas também simbólica – têm incentivado os criadores a pensarem alternativas e, mais ainda, a se unirem.

A princípio, o Marsenal foi pensado como um projeto-piloto para o mês de julho, mas a receptividade do público e de outros artistas deu fôlego à iniciativa, que já tem atividades programadas pelo menos durante a primeira quinzena de agosto.

“Marsenal é esse grito, vontade de trabalhar, agregar, juntar as pessoas que estão pensando em uma forma de sair dessa situação. A gente não está se reconhecendo nessa forma que eles estão querendo dar para o Brasil. O teatro, enquanto arte e movimento de pessoas. É nossa forma de nos posicionarmos politicamente porque não dá para ficar só no romantismo com o país pegando fogo. Acreditamos na potência dos encontros, do poder transformador da arte. Por isso, após as apresentações, sempre promovemos conversas com o público”, explica.

Outro sinal de como a ação tem reverberado é a rede de colaborações e afetos que o projeto está estimulando. Alguns artistas já se aproximaram do Marsenal, participando de suas ações, como Ceronha Pontes e João Augusto Lira, que apresentou a performance A Palavra Cantada de Brecht, semana passada, quando também foi encenado A Invenção da Palavra, com Claudio e Olga Ferrario.

PRÓXIMAS AÇÕES

O Marsenal, inclusive, está se expandindo para além das artes cênicas. Exemplo disso é a exposição de fotografia Rasgo, exibida a partir de quinta (1º), com trabalhos de Alcione Ferreira, Agnaldo Silva, Amanda Yukency, Anderson Stevens, Brenda Alcantara, Chico Peixoto, Diego Nigro, Felipe Matos, Keila Vieira, Társio Alves.

No dia 8 de agosto, integrantes do coletivo Mulheres no Audiovisual PE farão leilão para arrecadar fundos a fim de participar de uma ação em Brasília. Na ocasião, Fabiana Pirro apresentará também a performance #MedusaMusaMulher.

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