Diversidade

Circo da Turma da Mônica traz 'Brasilis' ao Teatro RioMar

Espetáculo reúne personagens clássicos em obra com mensagem edificante

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 27/08/2019 às 11:38
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Espetáculo reúne personagens clássicos em obra com mensagem edificante - FOTO: Divulgação
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Este tem sido um ano emblemático para a Mauricio de Sousa Produções (MSP), quando se comemoram seis décadas desde a publicação da primeira tirinha da Turma da Mônica. Ao longo desse período, os personagens criados por ele se transformaram em parte indissociável da cultura pop brasileira e as histórias mantiveram sua essência, ao mesmo tempo em que continuam dialogando com questões atuais, renovando-se e ocupando outras linguagens artísticas. Entre os projetos que integram as celebrações dos 60 anos está o musical Brasilis, do Circo da Turma da Mônica, que passará pelo Recife de 6 a 8 de setembro, em um total de seis apresentações, dentro de sua turnê nacional.

Se no cinema o filme Turma da Mônica – Laços se tornou a maior bilheteria nacional deste ano, com mais de dois milhões de espectadores, no teatro Brasilis tem seguido a mesma trilha de sucesso. Durante sua temporada em São Paulo, onde estreou, o espetáculo contou com sessões cheias de crianças e pais igualmente empolgados, em uma demonstração do magnetismo que os personagens exercem através das gerações. Esta é a segunda produção do Circo da Turma da Mônica e vem na esteira da boa recepção de O Primeiro Circo do Novo Mundo (2018), assistido por mais de 53 mil pessoas nas cidades onde passou, incluindo o Recife.

Com direção de Mauro Sousa, Brasilis funde teatro, dança, música e circo para criar uma experiência visualmente instigante, mas cujo foco principal é a mensagem de respeito à diversidade. Na montagem, após um dia de diversão, Mônica, Magali, Cebolinha e Cascão, conversam sobre as diferenças entre a roça e a cidade. Eles estão na Vila Abobrinha e são chamados por Vó Dita (Fafy Siqueira), avó de Chico Bento, para dormir. Eles insistem para que a matriarca conte algumas histórias e ela, então, decide aproveitar o debate anterior das crianças para discorrer sobre a diversidade cultural.

Assim, começa uma viagem pelas cinco regiões do Brasil em números que celebram as especificidades de cada cultura e toca em diferentes questões sociais. Nessas diferentes cenas, a cantora Paula Lima entoa, ao vivo, canções criadas pelo Olodum. No Recife, Paula Lima será substituída pela atriz e bailarina Glauce Canuto, pois estará na Europa para realizar show.
Segundo, para desenvolver o espetáculo, a equipe fez pesquisas aprofundadas para tratar com consistência do tema. Para tanto, contou, entre outros, com consultoria de ativistas do movimento negro e indígenas. Esta preocupação é palpável na montagem, que trata com leveza do tema sem abrir mão da consistência.

ALTERIDADE

Como eixos principais do espetáculo estão as culturas consideradas fundadoras da identidade brasileira: europeia, africana e indígena. Esses três pilares contam com números circenses criativos em malabares, tecido, acrobacias, entre outras modalidades. É louvável que as matrizes indígena e africana ganhem mais destaque e toquem em questões necessárias, com as participações de Milena, primeira personagem feminina negra da Turma da Mônica, e dos indígenas Papa-Capim e Jurema.

A dramaturgia aborda, por exemplo, as mazelas da escravidão e suas consequências na atualidade. Celebra, também, a beleza para além dos padrões eurocêntricos. Outro ponto muito importante é a pluralidade das representações. Papa-Capim, por exemplo, quer ser blogueiro e usa o tablet para criar conexões entre a sua cultura e as de outros povos. A necessidade por preservar as terras dos indígenas também entra em pauta no espetáculo.

Para além do texto, a diversidade está presente no elenco e em detalhes como os figurinos, idealizados por Carol Barreto, artista visual, estilista, ativista e professora do departamento de Estudos de Gênero e Femininos da Universidade Federal da Bahia. São mais de cem peças, todas confeccionadas no ateliê próprio em Salvador por um coletivo de mulheres, LGBTs e alunos estilistas.

“A diversidade é uma questão muito importante para a Mauricio de Sousa Produções e por isso nos pareceu essencial levar o tema, de forma leve, para o palco. Essa, inclusive, é uma política da empresa e estamos implementando um núcleo de diversidade para que todos os nossos produtos possam ser marcados pela pluralidade de representação”, afirmou Mauro.

Veterana dos palcos, Fafy Siqueira contou que não titubeou em aceitar o papel para participar do espetáculo pois sempre foi fã da Turma da Mônica. Para ela, é particularmente importante levar esses temas para as crianças, ajudando a formar uma geração mais consciente e menos preconceituosa. “No momento em que eu estava falando da cultura indígena na peça, me emocionei profundamente porque há muito pouco saíram notícias das atrocidades que estavam sendo cometidas, com invasão das terras deles e assassinatos. Então, é essencial que a gente esteja discutindo essas questões”, contou a atriz durante a entrevista ao JC, em São Paulo, no final de julho.

Mauro Sousa, filho de Maurício, reforçou ainda a dimensão do espetáculo, que mobiliza uma equipe de mais de 50 pessoas em turnê e fortalece uma cadeia de produção que dissemina cultura e gera emprego e renda. Ele apontou como fundamental a manutenção de mecanismos de incentivo à cultura, que possibilitam, entre outras coisas, a circulação em um país marcado por desigualdades regionais.

Como contrapartida social prevista na Lei Rouanet, a produção do espetáculo vai disponibilizar em todas as sessões 10% dos ingressos para ONGs, comunidades carentes e associação de moradores, como forma de ampliação de acesso a produções culturais. Organizações interessadas devem entrar em contato , por meio do e-mail [email protected].

* O jornalista viajou a São Paulo a convite da Opus Promoções e Mauricio de Sousa Produções

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