Não está fácil encontrar ânimo para, em vez de ir direto para casa, dar uma parada em algum lugar ou, ainda, deixar o conforto do lar sequinho e se meter por ruas alagadas. A exposição Vestígios de brasilidade, que o Santander Cultural Recife abre para visita pública até julho é um desses motivos de força maior, maior do que tudo. Se fôssemos pensar isoladamente nos argumentos que justificam a abertura deste parágrafo, poderíamos citar algumas obras de grandes artistas contemporâneos como Adriana Varejão e Beatriz Milhazes, que lá estarão, e também alguns modernistas famosos como Alfredo Volpi e Cícero Dias (que tem nesta mostra uma tela nunca antes vista em Pernambuco). No entanto - e aqui retomamos a ideia de algo superior que se sobrepõe à própria natureza individualista e imperiosa - o conceito que se esconde por trás do todo é ainda mais apetecível aos olhos e à mente, mais instigante.
O trabalho do carioca Marcelo Campos, professor Adjunto do Departamento de Teoria e História da Arte e coordenador da graduação em artes do Instituto de Artes da UERJ, nos pega delicadamente pelos dedos já a partir do título. Ao sugerir que vai nos ofertar “apenas” vestígios ele abdica da pretensão de entregar um pacote lacrado, com conteúdo delimitado. Mas nem de longe o curador se exime de uma tomada de posição: “Existe, sim, uma contemporaneidade com identidade brasileira”, defende Campos.
Como um detetive em busca de pistas, ou vestígios, Marcelo Campos dividiu a exploração em sete eixos temáticos, distribuídos em 57 obras de 42 artistas, começando com “Quarta-Feira de Cinzas” e terminando com “Casa”. Artistas de várias épocas estão presentes nesta grande reunião de brasilidade, mais ou menos explícita: Ana Elisa Igreja, Chelpa Ferro, Cildo Meireles, Luiz Zerbini, Guignard, Nelson Leirner, Mauro Piva, Carybé e os pernambucanos Roberto Lúcio, Cícero Dias e Marcelo Gomes (cineasta).