Em 2011, o SPA das Artes - evento promovido pela Secretaria de Cultura do Recife - comemora dez anos. Para celebrar o feito, caprichou na programação, que deve tomar conta de vários pontos da cidade entre os dias 11 e 18 deste mês. Foram distribuídos no total 20 prêmios para produção artística e mais um para exposição no Mamam do Pátio. O processo de seleção utilizado pelo SPA em 2011 é inédito no País. Cada artista que inscreveu a sua proposta indicou também o nome de duas pessoas para fazerem parte da comissão julgadora. Paulo Bruscky, Rodrigo Braga, Solon Ribeiro, Aslan Cabral e Marcio Shimabukuro foram os mais citados, e acabaram integrando o grupo que selecionou os prêmios. Dentro da modalidade Produção Artística, foram contemplados trabalhos que envolvem intervenções urbanas: desde a exibição de videoarte e fotografia até a ações coletivas, passando pelo lançamento de pequenas publicações e websites. As obras poderão ser vistas no Pátio de São Pedro, nas imediações do Parque Dona Lindu (apelidado de Spraia) e no Museu Murillo La Greca e seu entorno. Cada artista recebe uma bolsa de R$ 3 mil para montar o projeto. Veja a lista dos contemplados:
A Flor da Pele, de Rubiane Maia (Vitória-ES). Performance, da série: Quadrilogia das Cores # vermelho.
Usando uma roupa vermelha, a artista carregando um vaso com rosas vermelhas, que será estilhaçado. Depois, ela senta-se no chão, despetala as flores e come as pétalas sem o apoio das mãos, usando apenas a boca em contato com o vidro e o chão. A performance fala do feminino, da beleza, da sexualidade e da relação entre sofrimento e prazer.
Conferência ou como evitar um dilúvio, de Luísa Nóbrega (São Paulo-SP). Performance.
De pé, diante de um púlpito e de um microfone, a performer, depois de um dia em jejum e silêncio, inicia uma conferencia sobre “interstícios entre voz e palavra, o discurso verbal como a fala de um Outro, a expressividade e suas armadilhas”. Ao seu lado, estão 18 garrafas de água. Enquanto durar a performance, Luísa não pode parar de falar, nem de beber água, chegando a consequências extremas.
Conexão, de Bruno Faria (São Paulo-SP). Ação.
O projeto Conexão apresenta o caminho do artista do lugar em que mora (São Paulo) até a cidade onde nasceu (Recife). Ele fará o percurso de ônibus, fotografando todo o trajeto, numa tentativa de compreender de forma poética o percurso, as paisagens e as pessoas e as reflexões que a viagem acarreta.
Cromagonia, de Felipe Brait (São Paulo-SP). Ação.
Cromagonia consiste num projeto de intervenção urbana com a utilização de fumaças cenográficas coloridas e aplicação das mesmas no espaço público.
Dança na estrada-Baile en la carretera, do Coletivo Dança no Andar de Cima (Fortaleza-CE). Ações.
O carro de trabalho do grupo é transformado em uma espécie de trailer: carro-ateliê, laboratório ambulante, que abrigará ações e processos de trabalhos. O objetivo é realizar uma cartografia poética a partir do deslocamento entre as cidades e da passagem na cidade do Recife, durante o SPA.
Dízimo, de Sara Labranho (Belo Horizonte-MG). Vídeo.
O vídeo registra a ação de apagar a letra S na frase Deus é amor, criando um jogo de palavras e múltiplos entendimentos.
Embuás no La Greca, com Iezu Kaeru (Recife-PE). Instalação sonora.
O projeto pretende realizar uma ação coletiva de instalação sonora/performance musical numa intenção plástica, do grupo experimental Embuás interagindo com projeções de imagens do artista multimídia Iezu Kaeru.
Estrelas, de Fran Junqueira (Rio de Janeiro-RJ). Intevernção urbana.
A proposta é criar, com desenho, pintura e estêncil, silhuetas de móveis antigos em tamanho real com tinta fluorescente debaixo de viadutos e/ou marquises, espaços que muitas vezes são utilizados como casa por pessoas sem moradia fixa. Estas silhuetas serão constituídas de pequenas estrelas, aludindo aos adesivos de quartos infantis.
In Memoriam, de Antônio Lima (João Pessoa-PB). Intervenção escultórica.
O trabalho concentra-se na ideia de se apropriar espaços urbanos, trabalhando com o conceito de não-lugar, propondo uma reflexão sobre a utilização, o acesso, a saturação e a apropriação do espaço urbano, desvirtuando sua utilização convencional. A proposta consiste na produção de 18 lápides de cimento em tamanho natural como a inscrição “Não Tinha Onde Cair Morta” para serem expostas.
Intervenção urbana pelo ar, de Os Aparecidos Políticos (Fortaleza-CE). Intervenção urbana.
Os Aparecidos Políticos tem como proposta trabalhar a partir de uma perspectiva de relação entre a arte e política. O grupo se coloca naquilo que se entende por arte política ou arte ativista, num contexto de arte pública, utilizando mídias alternativas.
Jogos de re-ver Recife, de Thaíse Nardim (Palmas-TO). Ação.
A ação consiste na realização de uma visita guiada pelo centro histórico da cidade do Recife, na qual será proposto aos participantes que desenvolvam ações que os conduzam a modos diferentes de perceber a cidade.
Monumentos notáveis, de Duplicata17 (Goiania-GO). Ação colaborativa.
A dupla Wolney Fernandes e Manoela dos Anjos Afonso cria um escritório ficcional chamado Tabelionato de Ações Ordinárias, que tem como objetivo realizar e registrar pequenas incisões poéticas no cotidiano, convidando o público para participar.
Projeto escam(ação), de Ulisses Lociks (Maceió-AL).
O projeto consiste na construção de imagens em grande escala através da junção e sobreposição de um grande número de pequenas escamas de papel, que serão afixadas em um espaço pré-determinado. As imagens das escamas trazem referências estéticas ligadas à formação cultural brasileira.
Regra de três: pequeno estudo verborrágico, do Coletivo Catapulta (São Paulo-SP). Performance.
Três performers invadem o espaço público, cada qual realizando uma função distinta, ainda que intercambiável. Um deles se move sem parar, o outro fala num microfone e o terceiro pode ou não interagir com os dois primeiros, interferindo no trabalho apresentado.
Simuladores de solidão e tédio, de Fabiano Araruna (Rio de Janeiro-RJ).
O artista cria programas para dispositivos eletrônicos, que podem ser baixados gratuitamente, com a função de simular jogos e plataformas de redes sociais nos quais, ao contrário dos verdadeiros, é impossível qualquer forma de interação. O trabalho propõe a experiência de estar sozinho em casa em uma tarde onde não há nada para se fazer e não há qualquer companhia.
SPAinho – Edital de arte-relâmpago para não-artistas, de Moa Lago (Recife-PE). Ação
Proposta de abertura de um edital-relâmpago para “não-artistas”, a ser realizado em dois dias, no Pátio de São Pedro, convocando pessoas que nunca tenha participado de um projeto artístico a propor ações, performances, instalações, para serem apresentadas na hora, de improviso.
Sub(i)mersão, de Thelmo Cristovam (Olinda-PE). Residência artística/instalação sonora.
Para realizar a performance/ação/instalação sonora, o artista vai gravar eventos sonoros, pela manhã, sob as pontes do Recife durante toda a semana do SPA. À tarde, as gravações não editadas estarão acessíveis ao público. No último dia do SPA, o artista vai disponibilizar todos os áudios.
Sustentabilidade IV, de Geraldo Zamproni (Curitiba-PR). Veste nu, de Daniel Toledo (Rio de Janeiro-RJ). Performance. X, de Rubens Pileggi Sá (Rio de Janeiro-RJ). Ação. Prêmio Exposição MAMAM no Pátio: TranS(obre)por, de Marcelo Armani (Porto Alegre-RS). Instalação sonora.
A partir do clássico
Os artistas Daniel Toledo e Ana Hupe vestem macacões de algodão branco impressos dos dois lados com as imagens de seus corpos despidos. A ação promove uma inusitada reação das pessoas que passam e olham para corpos que parecem estar nus apesar de estarem vestidos.
“X”, marca feita em um território para designar um ponto exato onde algo acontece. O trabalho consiste em levar, para o Pátio de São Pedro, 80 sanduíches e 20 litros de refrigerante, à população de rua. Em troca, cada pessoa que receber o lanche terá de ficar sobre uma das duas linhas que se cruzam em forma de X, desenhadas no local.
TranS(obre)por é uma instalação sonora processual que tem por objetivo mapear e transportar para a galeria os sons existentes no ambiente urbano. Para isso, o artista percorre alguns locais, coletando fragmentos com o auxílio de um gravador digital e de um microfone de contato. Estes elementos são transportados, editados e sobrepostos. Os fios identificam, num mapa, o local onde o som foi captado.