Cavani Rosas seleciona locais para imortalizar em bico de pena

"Eu sempre gostei de desenhar arquitetura. Já fazia algumas coisas, mas foi evoluindo e eu estou gostando mais de fazer porque as coisas vão desaparecendo e eu quero registrar", diz o artista plástico Cavani Rosas. Ele entregou no fim do ano passado uma série de três desenhos em bico de pena retratando o Tribunal de Justiça de Pernambuco, pretende reproduzir também o Palácio do Campo das Princesas e articula para março deste ano um curso de desenho científico, que vai ministrar no Museu Murillo La Greca.

Integrante de alguns dos primeiros movimentos de preservação dos casarios recifenses, Cavani diz que hoje não tem mais exatamente a mesma preocupação: "Eu quero registrar. Não adianta ficar preocupado porque os tempos modernos vão transformar tudo mesmo e eu registro porque um dia alguém junta tudo isso e faz um livro", simplifica ele, dizendo que sua técnica ganhou ainda mais detalhismo depois que foi para São Paulo e começou a trabalhar com desenho científico, reproduzindo procedimentos cirúrgicos, animais e plantas em detalhes que dificilmente seriam captados pela fotografia.

O artista hoje divide seus projetos entre o Recife, São Paulo e Rio de Janeiro, onde passou este réveillon e está iniciando trabalho de registro de 60 estabelecimentos comerciais do Centro da cidade. Na capital fluminense, ele irá desenhar tudo o que ainda se preserva da arquitetura do interior de estabelecimentos comerciais como o Bar Luiz (acima). Uma de suas visitas será ao Restaurante Lamas, no Largo do Machado, famoso por ter recebido muitos políticos influentes na época que a cidade era Capital Federal. Cavani destaca, ainda, um cinema na Rua da Carioca, mas diz que podem chamar sua atenção gafieiras, barbearias e tudo mais que lembrar o Rio que está deixando de existir.

No Recife, além do trabalho iconográfico, Cavani tem passado bastante tempo na produtora Lunática, onde trabalha na animação de uma história em quadrinhos de sua autoria, que tem roteiro de Fred Navarro: Deixem Diana em paz. Além disso, está realizando trabalhos para os filmes Ex-mágico, de Maurício Nunes e Olímpio Costa, e Sob a pele (Pedro Sotero e Daniel Bandeira).

Na capital paulista, além de reproduzir procedimentos cirúrgicos e elementos da fauna e da flora, o artista replica locais como o da foto ao lado (ver último desenho da arte ao lado), que mostra uma vista do Ibirapuera, e dá continuidade ao seu trabalho de escultor e na área do desenho orgânico.

No Grande Recife, ele desenhou o Restaurante Leite, a Academia Pernambucana de Letras, a Ponte d'Uchôa, a Igreja da Jaqueira, a Escola de Belas Artes, o casario do Poço da Panela, várias ruas de Olinda, mas não cansa de retratar paisagens do nosso Estado. "Tenho um projeto de conseguir desenhar muita coisa do Bairro de São José antes que se acabe. Mas, recentemente, notei que as Graças, a não ser os Manguinhos, está desaparecendo muito velozmente", corre o artista contra o "progresso".