Rodolfo Mesquita é apontado como um dos melhores desenhistas de sua geração. Seu traço e suas figuras grotescas, trafegando entre o ridículo e o trágico, são marcantes e reconhecíveis num rápido relance. Artista avesso às badalações, ele volta a realizar uma exposição individual na Amparo 60 depois um hiato de nove anos - a última mostra foi Desenhos urgentes, em 2003. Nesta sua volta à galeria do Pina, Rodolfo aparece com pinturas sobre papel e MDF, a maioria realizadas entre 2009 e 2011. O vernissage acontece nesta quinta-feira (3/5), às 20h.
"Neste período entre 2003 e 2012, a obra de Rodolfo tem passado por algumas transformações. Um dos aspectos que me chamou a atenção foi a saída do texto. Antes havia vários tipos de textos, desde uma espécie de diagrama em que ele apontava coisas nas telas", afirma a curadora Clarissa Diniz, que já trabalhou com obras de Rodolfo em outra ocasião (a mostra Encarar-se aconteceu no Museu Murillo La Greca, em 2008, com pinturas dele e desenhos de Fernando Peres).
Clarissa avalia em seu texto curatorial que "o desaparecimento dos textos que ofereciam chaves de leitura de caráter habitualmente crítico e social; a paulatina ênfase sobre situações eminentemente corriqueiras (e, portanto, menos narrativas e/ou épicas); o surgimento de personagens menos socialmente demarcados (tantas vezes lidos como ‘idiotas’, mas, fundamentalmente, equivalendo a ‘qualquer um’); o crescente protagonismo do fundo diante da figura e, com isso, a complexificação da espacialidade na obra do artista são aspectos que evidenciam sua transformação. De modo geral, o artista esgota seus personagens e suas narrativas que, assim, diariamente desgarrados socialmente, tornam-se por outro lado, cada dia mais políticos".
FIGURA
Observando estas figuras pintadas nos últimos tempos por Rodolfo nota-se realmente que, mesmo não estando mais tão "socialmente demarcadas", elas não perderam sua expressividade. "Alguns faziam tipos. Desta vez botei uns peões, mas acho que são quase abstratos", afirma o artista, citando os seres representados em uma grande tela vertical exposta na Amparo 60. A cena lembra uma construção, mas com uma parte já desmoronando.
"Não queria cair também em algo muito abstrato, porque acho que desenhar e pintar já é uma abstração, é uma tremenda mediação", afirma o artista plástico. "São figuras agindo, fazendo qualquer coisa, não importa o quê", explica.
A matéria completa está no Caderno C desta quinta-feira (3/5), no Jornal do Commercio.