Barro

A casa de barro de Christina Machado

A artista inaugura mostra, hoje, na Galeria Janete Costa com trabalhos realizados com os pacientes do Hospital da Tamarineira

Beatriz Braga
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Beatriz Braga
Publicado em 01/09/2012 às 6:54
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Seu Luiz é um senhor “antigo”. É, como se acostumou a ser chamado, doido. Grita e agride enquanto os muros do Hospital Ulysses Pernambucano da Tamarineira ainda são a sua casa. Seu Luiz, no entanto, mesmo entre grades, já foi ao Rio e voltou várias vezes ao interior onde nasceu. A onipresença é, na verdade, transcendência. O ateliê – residente do Hospital – da artista plástica Christina Machado é a sua fuga, e o barro, o seu transporte. Lá, Seu Luiz se acalma e conversa. Assim, criou a maior coleção de obras entre os pacientes. Depois de quatro anos interagindo com os internos, a artista exibe o mundo de Luiz, de Fidel, de Gil e o dela próprio na mostra Minha cabeça nossa natureza. Dentro do hospital, artista virou paciente e os pacientes viram-se artistas. A exposição é inaugurada, nesta sábado (1), às 17h, na Galeria Janete Costa. 

Quando Christina levou seu ateliê para o hospital, em 2009, não imaginava o poder que o trabalho teria. Na sessão Instalação de sentimentos vivos estão objetos criados em argila pelos próprios pacientes. Cada objeto, uma história. Juntos, um mosaico lúcido.

"“É como uma ponte, a argila como elemento de união"”, conta Christina. A artista viu criar, naturalmente, a sua própria casa verde, como a do livro O alienista, em que Machado de Assis usa a metáfora de um hospital psiquiátrico para revelar a hipocrisia da sociedade. “

Na mostra, a artista também expõe sua coleção de máscaras. A partir de um molde de sua cabeça feito em gesso – utilizado no videoarte Tempo de carne e osso em 2004 –, Christina convidou a pacientes, amigos e artistas, a exemplo de Gil Vicente e Dantas Suassuna, a “fazer sua cabeça” em 60 réplicas. No final, a “brincadeira” se transformou em divã. “"Algumas peças já entravam em mim. O cara fez um olhar igual ao meu, outro colocou uma barba e fiquei igual ao meu filho. Coisas que tinham em mim e eu conheci com essas cabeças, feitas por outras pessoas”".

Depois da experiência, Christina produziu, este ano, quadros intitulados Meus eus, retratando a si mesmo. “Sou o que fazem de mim”, escreve em um deles.

Leia a matéria completa no Caderno C deste sábado (1). 

 

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