FESTAS

Romero de Andrade Lima reinventa o Natal em tom armorial

O artista plástico, que fez a ilustração especial do Jornal do Commercio desta terça (25), é um, dos seguidores do movimento teorizado por Ariano Suassuna

Beatriz Braga
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Beatriz Braga
Publicado em 25/12/2012 às 8:46
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Tira-se o homem branco quase rosa, de gorros vermelhos e botas pretas em pleno sol de dezembro. Tira-se, também, a neve falsa sobre os pinheiros. Romero de Andrade Lima tem uma outra ideia para o fim de ano dos nordestinos: Luiz Gonzaga sobre um presépio de ricos e pobres, de santos e bandidos. Para todos, um “Feliz Centésimo Natal”, no quadro ideal de um Recife pintado com as cores e o ritmo do Movimento Armorial.

A convite do JC, o artista plástico produziu a ilustração da capa de Natal do jornal deste ano (veja abaixo) que, especialmente em 2012, tem 100 anos de sanfona no lugar do “Jingle Bells”.

Ilustração de Romero Andrade Lima para a capa de Natal do JC -

 

“Ocorreu-me que a música dele está sendo a música do Natal. Luiz Gonzaga toca diariamente na rádio e fala-se nele diariamente no jornal. O que é uma característica do Recife. Você pega o tema com toda coragem, sem ter medo que ele se esgote. Essa coisa meio antropofágica da teoria dos modernistas”, diz. Apaixonado pelo Recife, Romero queria um natal, enfim, recifense.

Hoje, aos 56 anos, o artista não tem dúvidas que sua posição nas artes plásticas tem ligação com o ambiente familiar. Era na casa do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, casado com sua tia Zélia, que encontrava o mesmo interesse pela arte medieval que, quando criança, tinha na escola.

“Esse gosto dele veio a ser o que ele chamou de Movimento Armorial, que tem uma semelhança com a arte medieval exatamente porque essa também foi síntese de muitas etnias e culturas”, conta.

Foi na década de 70 que Ariano teorizou o movimento. A ideia era propor um reencontro entre a arte erudita e a popular, em uma visão sem preconceito. Romero bebeu dessa fonte, que teve seguidores como Francisco Brennand, Samico e Miguel dos Santos. O artista lembra, no entanto, que o movimento não está limitado a tipo de arte ou linhas geográficas.

 Nessa lista expandida, ele alcança Gonzaga, que foi aclamado pela classe média, mas buscou no popular as raízes de seu laboratório musical. Na mesma esteira, o artista tem um apego especial pela mexicana Frida Kahlo, a quem já dedicou três exposições e se prepara para apresentar mais uma em 2013, dessa vez em São Paulo.

“Ela também é armorial para mim. Acho extremamente nordestino o trabalho dela, em todos ps sentidos, na forma, da cor e nesse sentimento de afeição”.

Há 33 anos, Romero decidiu que viveria de arte. Hoje, quando não está no ateliê que divide com Cavani Rosas, está em casa, provavelmente imaginando a vida sobre uma tela branca.

“Trabalho todos os dias, todas as horas. Foi essa a única forma que eu consegui para viver de arte”. Entre todas suas paixões impressas em quadros, uma se sobressai: o Recife. “Toda história do Recife é ligada à cultura e à arte. Eu sou muito apaixonado pela cidade nesse sentido”.

No cenário perfeito para Romero, a cidade contaria com bolsas-artistas para impulsionar os novos talentos e um mundo de telas e tintas a sua frente, porque, seria essa a arte que não tem limites ou dependências. “As artes plásticas são auto-suficientes”. diz.  Para completar o quadro ideial, o artista anda numa intensa busca atrás da "nossa" árvore de natal. Uma que seja a cara do Nordeste, para substituir de vez os pinheiros e seus flocos de neve.

Leia a matéria completa no Caderno C desta terça (25).

 

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