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Bruno Vilela e Cristiano Lenhardt expõem na Amparo 60

Artistas estreiam suas novas individuais nesta quinta (27), em Boa Viagem, a partir das 19h

Renato Contente
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Renato Contente
Publicado em 27/06/2013 às 8:40
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Para o artista Bruno Vilela, um contato visual mais próximo com uma obra pode elucidar detalhes que fazem do ato de observar uma experiência de imersão. A constatação percorre os cinco grandes painéis que alinhavam a trama obscura de sua nova exposição Voodoo drama, com vernissagem dupla nesta sexta (28), às 19h, na galeria Amparo 60, em Boa Viagem. No mezanino do espaço, Cristiano Lenhardt, artista gaúcho radicado no Recife, estreia a instalação Planalto.

Vilela traz uma série de cenas convidativas não como promessa de conforto, mas como forma de sedução perturbadora. A essência da mostra foi conquistada através da tentativa de materializar, com óleo sobre tela, pesadelos íntimos e certa obsessão que o artista nutre pelo universo pop do horror. O nome para a mostra, aliás, vem da categorização que o site cinéfilo IMDB deu ao filme de zumbis A morta viva (EUA, 1943): “um drama de voodoo”.

Para construir uma mitologia pessoal, Bruno usa como cenários um envolvente mar ressacado (com as dimensões de 370cm x 200cm), uma floresta sombria e derivações dos dois, como um barco sobre um lago (cujo condutor tem olhos de luz) e uma moita mal iluminada por discreta auréola, em Anunciação. Para este último, o único nomeado da série, o artista fez um exercício de remoção e preenchimento sobre a tela homônima de Leonardo Da Vinci (1474), na qual o renascentista simulou o encontro entre Maria e o Anjo Gabriel: na releitura de Bruno, só restou a auréola do Serafim, que agora flutua sobre o breu de um matagal.

As situações obscuras da mostra poderiam ser cenário para os assassinatos das princesas e outras protagonistas de contos de fada que o artista simulou no ensaio de fotos Bibbdi bobbdi boo (2008), onde polemizou ao subverter o destino feliz das boas moças. Em relação ainda mais estreita com Voodoo drama estão os trabalhos mais recentes Ouroborus (2012) e Dia de festa é véspera de dia de luto(2013), mistos de desenho, pintura e intervenções sobre fotografias que tensionam vida e morte, espírito e matéria. “O novo trabalho está entre o homem e a natureza. É a ‘terceira coisa’ que surge da ação do homem no meio do ambiente selvagem”, sugere o artista.

A experiência na frente da obra é fundamental. Grandes massas de tinta, mudanças sutis de luz e uma paleta de cor reduzida nos obrigam a chegar perto para observar”, defende. Além dos painéis cinematográficos, a mostra ainda reúne duas telas pequenas com mais desdobramentos do fascínio do pernambucano pela escuridão. Também nessas, o espectador se vê diante de novas sutilezas de texturas e camadas de que só um contato visual mais íntimo permite vislumbrar. No mesmo evento, no andar superior da galeria, o multiartista Cristiano Lenhardt apresenta a individual Planalto, resultado do aprofundamento de sua pesquisa com formas geométricas.

A instalação reúne um conjunto de trabalhos que tem como objetivo exercitar o desenho na alternância entre o bidimensional e o tridimensional, expressadas em dobraduras de papel, desenhos, losangos de madeira e um vídeo que simula a luz em movimento. O interesse de Lenhardt em transitar entre dimensões distintas surgiu durante pesquisa no ateliê de gravura Guaianases, no Recife, e se solidificou durante residência artística em Gasworks, na Inglaterra. “No início, explorava o desenho nas dobras de papel: o modo como o papel ia, durante o ato da dobradura, ainda no ar, de bidimensional a tridimensional”, lembra.

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Obra sem título, da mostra "Voodoo drama", de Bruno Vilela - Divulgação
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Obra "Anunciação", da mostra "Voodoo drama", de Bruno Vilela - Divulgação
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Instalação "Planalto", de Cristiano Lenhardt - Divulgação

Leia a matéria na íntegra na versão impressa do Jornal do Commercio desta quinta (27), no Caderno C

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