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Exposição no CCBB terá 78 obras doadas à Rússia

Os cinco andares do CCBB no centro de São Paulo serão ocupados até 21 de abril pelas obras

da Agência Estado
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Publicado em 14/01/2014 às 7:55
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O empresário alemão Peter Ludwig (1925-1996) teve, nos anos 1960 um papel basilar na difusão da arte pop norte-americana na Europa. Industrial, dono de uma tradicional fábrica de chocolate (a Ludwig Schokolade), hoje pertencente ao conglomerado Krüger-Gruppe, Ludwig era um homem refinado, doutor em História da Arte e autor de uma tese sobre Picasso, do qual viria a ser um dos maiores colecionadores. 

É justamente com parte do acervo doado por ele em 1995 ao Museu Estatal Russo, de São Petersburgo, que será aberta, a partir do dia 25, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a primeira grande exposição do ano em São Paulo, comemorando o aniversário da cidade. Animado com o estrondoso sucesso das mostras anteriores na instituição - a dos impressionistas do Museu D’Orsay (325 mil visitantes) e dos renascentistas italianos (317 mil) -, o diretor do CCBB, Marcos Mantoan, promove, logo na inauguração, dia 25, uma virada para facilitar a vida do público mantendo a exposição aberta 24 horas.

Uma das curadoras da mostra Visões na Coleção Ludwig, ao lado dos russos Evgenia Petrova e Joseph Kiblitsky, a cubana Ania Rodríguez destaca o papel de Ludwig como colecionador de olhar culto e sintonizado com a arte de seu tempo. 

O alemão foi, segundo ela, um agente com forte influência sobre a produção cultural dos anos 1960 em diante, ao detectar tendências e os rumos da arte do pós-guerra. A forma que o pop Andy Warhol encontrou para homenagear o mecenas foi produzir um retrato seu em silk-screen, em 1980 (foto maior desta página).

“Fui testemunha do papel que Ludwig teve, por exemplo, em Cuba, nos anos 1990”, conta Ania Rodríguez. 

O barão do chocolate, determinado a incentivar a produção em países marcados pela repressão a artistas, comprou uma centena de obras de contemporâneos cubanos no começo dessa década, assumindo um papel fundamental ao subsidiar a quinta edição da Bienal de Havana, em 1994. Ao morrer, dois anos depois, aos 71 anos, sua coleção era estimada em 50 mil peças, entre objetos pré-colombianos, iluminuras medievais, obras fundamentais da vanguarda russa do início do século passado, pinturas de artistas pop, telas, esculturas e cerâmicas de Picasso (a terceira maior coleção do artista na Europa) e as primeiras obras dos neoexpressionistas alemães dos anos 1980.

ECLÉTICO - Os cinco andares do CCBB no centro de São Paulo serão ocupados até 21 de abril por 78 obras provenientes da Coleção Ludwig de São Petersburgo. É apenas uma das 12 instituições que levam o nome do magnata, nove delas na Europa. Além da Rússia, dois outros países, China e Cuba, ganharam parte desse valioso acervo. A primeira cidade a ser contemplada foi Colônia. 

Em 1976 foi criado o museu Wallraf-Richartz, para o qual Ludwig doou 350 obras, com a condição de ser construída na cidade uma outra instituição para abrigar sua coleção. Isso aconteceu em 1986. Em 1994, os dois museus foram separados. O Ludwig, na Bischofsgartenstrasse, ao lado da gótica Catedral de Colônia, foi enriquecido com as coleções do advogado Josef Haubrich (obras do modernismo clássico e do expressionismo alemão) e de Peter Ludwig (com todos os artistas pop que importam na história de Andy Warhol a Lichtenstein, mais a vanguarda russa, de Malevich a Rodchenko).

Além dos pioneiros do modernismo russo e dos representantes da arte pop americana, essa coleção foi crescendo à medida que Ludwig descobria um novo movimento. O acervo tem hiper-realistas (como Pistoletto), grafiteiros (Basquiat) e os principais nomes da arte alemã da segunda metade do século passado (de Beuys a Gerhard Richter).

SELEÇÃO - Foi difícil fazer a seleção das obras que estão no acervo do Museu Russo, admite a curadora Ania Rodríguez. Os curadores optaram por um percurso cronológico pela coleção, desde os traços maduros de Picasso que retomam o cubismo (na tela Grandes Cabeças, 1969) até a arte produzida na extinta União Soviética na época da perestroika (como o autorretrato de Vladimir Yankilevsky, que retrata um pintor mutilado pelo regime autoritário), passando pelo neoexpressionismo alemão (Baselitz, Lüpertz e Kiefer) e, naturalmente, pelos representantes do pop (há telas de Warhol, Jasper Johns, Lichtenstein e Rauschenberg, entre outros).

“Ludwig tinha um olhar excepcional para descobrir talentos, uma sensibilidade contemporânea que detectava as mudanças geopolíticas”, analisa a curadora Ania Rodríguez. A arte cubana, diz ela, começou a ser olhada de outro modo por críticos e historiadores depois da subvenção de Ludwig à Bienal de Havana. “Ele abriu perspectivas e territórios para artistas como Luis Gómez.”

O diretor do CCBB, Marcos Mantoan, destaca a diversidade de escolas e estilos representados na mostra, que deverá atrair, segundo sua expectativa, mais de 200 mil visitantes. “O que as outras exposições revelaram é que esse público é também diversificado, vindo de várias regiões da cidade e até de outros Estados”, diz Mantoan, que conseguiu uma outra vitória com essas mostras: a troca da iluminação das ruas vizinhas ao CCBB e maior segurança na região.

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