SÃO PAULO

12ª Bienal de Naïfs do Brasil é inaugurada em Piracicaba

Com o subtítulo "O santuário refletido no espelho", mostra reúne mais de 100 artistas e dialoga com a fotopintura

Eugênia Bezerra
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Eugênia Bezerra
Publicado em 09/08/2014 às 6:09
Ione Segatto/Divulgação
FOTO: Ione Segatto/Divulgação
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PIRACICABA (SP) - A Bienal de Naïfs do Brasil chega à 12ª edição com o subtítulo O santuário refletido no espelho, buscando seguir a ideia de "extrapolar os limites da estética tradicional e chamar a atenção do público para novos caminhos da produção de arte popular". A inauguração da mostra que é parte desta iniciativa promovida pelo Sesc, na quinta-feira (7/8), movimentou o Sesc Piracicaba (São Paulo), onde esta bienal nasceu.

Também escritor e editor independente, o curador desta edição, Diógenes Moura, afirmou que o artista naïf "sofisticadamente abre uma janela para si mesmo". "Digo isto porque acho que é algo que o artista naïf faz, e o contemporâneo também, só que de outras maneiras. O naïf despudoradamente revela uma certa intimidade. Há muitas cenas de casamento, do interior das casas, uma forte presença da religiosidade. Uma afirmação de ser brasileiro em sua realidade", avalia ele, que nasceu no Recife e mora há muitos anos em São Paulo.

Há muitos brasis na Bienal de Naïfs, não apenas porque o número de obras é grande (106) e as origens dos artistas são diversas (são 81, de 16 Estados brasileiros). O conjunto também é múltiplo em seus temas e técnicas. Há, por exemplo, desde a presença de motes como festas populares tradicionais aos recentes protestos que ocorrem pelo Brasil, mensagens contra a homofobia, a representação de cenas da vida doméstica, da agitação de uma Estação da Luz lotada (São Paulo), de consequências do êxodo rural ou da seca no interior paulista.

Sobre as técnicas e materiais, o visitante encontra pinturas, gravuras, esculturas. Também peças criadas com o reaproveitamento de materiais como caixas de fósforo, a exemplo de Brasileiros e brasileiras, do pernambucano Augusto Japiá (Paulista), que recebeu o Prêmio Destaque de Aquisição. Os bordados marcam presença em criações como o Varal de memórias, de Elaine Buzato (Sorocaba, SP), feito com um vestido, ou a Bolsa afro-sertaneja, de Socorro Isidório (Montes Claros, MG).

Limoeirense que vive com a família em São Bernardo do Campo, Henrique Hammler fazia outro tipo de pintura antes de se dedicar ao naïf. A mudança na obra dele tem forte ligação com uma experiência familiar. "Comecei a pintar estas cenas em 1993, época em que a minha mãe faleceu, em já morava em São Paulo", resume Henrique.

O artista foi visitar a mãe quando ela ainda estava doente. Durante a viagem de três dias, o ônibus fez uma parada em Itabuna. "Ele viu uma porção de casinhas, como uma plantação de parabólicas. Depois ele me contou: - Um dia vou pintar aquela cena", afirma a esposa de Henrique, Marisa Segato. "Desde então, já fiz 200 trabalhos com esta temática", completa ele, que dá aulas de arte na cidade do interior paulista.

Também morando fora do Estado natal, só que em Santana do Parnaíba, a pernambucana Marilene Gomes participa da bienal com a pintura que mostra a Estação da Luz repleta de gente. "Pinto muito coisa relacionada com a alegria de Pernambuco. Cenas do Carnaval, o forró, a dança do coco. Quando vim morar em São Paulo, a saudade do Nordeste me fazia pintar muito. As multidões me encantam", explica a artista.

Assim como eles, há outros pernambucanos participando desta edição: Nena Borges (Bezerros), J. Miguel (Bezerros), Paulo Perdigão (Recife) e Sandra Aguiar (Olinda).

"O que foi para mim uma surpresa é que havia pouco futebol este ano. Só duas obras, produzidas antes da Copa do Mundo. Em edições anteriores havia mais. Também há poucos trabalhos com humor. Ficam perguntas como: Entristecemos? Ou nos tornamos mais conscientes? A gente vive em um país devastado pela violência, pelo crack, que aparece em duas obras pelo menos. Também surgem cenas do cotidiano, a relação da arte com a religião, o sincretismo está muito presente. Alguns também falam sobre a devastação da natureza, mostram o antes e o depois nas paisagens. A situação séria em que se encontra o Rio Piracicaba. Cito como exemplo o trabalho de Roberto Boetger (RS), há uma narrativa ali. Eu poderia escrever mil livros sobre aquelas histórias que estão dentro daquela exposição", instiga Diógenes sobre algumas das reflexões despertadas pelo conjunto.

Paulo  Lima/Divulgação
"O santuário refletido no espelho" é o tema desta edição - Paulo Lima/Divulgação
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Catálogos produzidos pelo Sesc - Paulo Lima/Divulgação
Eugênia Bezerra/Especial para o JC Imagem
"Lendas e festas brasileiras", de Willi de Carvalho, de Belo Horizonte (MG), recebeu Menção Especial - Eugênia Bezerra/Especial para o JC Imagem
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Esquerda: "Transporte brasileiro", de Chico Silva, de Anápolis (GO), guache sobre papel de caderno - Paulo Lima/Divulgação
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Em primeiro plano, obras de Lúcia Neto, de São Paulo: "Bateu asas e voou" e "O pouso da pombinha" - Paulo Lima/Divulgação
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"Varal de memórias 2", de Elaine Buzato, de Sorocaba (SP) - Eugênia Bezerra/Especial para o JC Imagem
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Parte do público na abertura da exposição - Paulo Lima/Divulgação
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Mestre Júlio Santos e algumas das fotopinturas que fez com retratos dos artistas da Bienal - Paulo Lima/Divulgação
Fotopinturas da coleção particular do Mestre Júlio Santos também foram expostas -
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Direita:"O som", de Floriano, artista de Alagoinha (BA). No centro, atrás: "São Paulo-460", de Arieh - Paulo Lima/Divulgação
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Na frente: "Bumba meu boi", de Pinho, artista de Ribeirão Preto (SP), feita com papel reciclado - Paulo Lima/Divulgação
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Obra sem título de Cor Jesus, de Ouro Preto (MG) - Eugênia Bezerra/Especial para o JC Imagem
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Henrique Hammler, pernambucano que mora em São Bernardo do Campo, com a obra "Lá vem a cobra" (topo - Ione Segatto/Divulgação
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Em primeiro plano: "Minha cama, minha rede", de Gerson Lima, Salvador (BA) - Paulo Lima/Divulgação
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Silvia Maia, que mora na cidade de Embu das Artes (SP), com a obra "Congada" - Paulo Lima/Divulgação
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Díptico "Festa junina", de Terezinha Sordi, Ribeirão Preto (SP) - Paulo Lima/Divulgação
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Eugênia Bezerra
'A feira nordestina", de J. Miguel (Bezerros) - Eugênia Bezerra
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No centro: "Segredos da África", de Vilia Dias, Juiz de Fora (MG), que recebeu o Prêmio Incentivo - Paulo Lima/Divulgação
No lado direito: parte de "Totem", obra de Paulo Perdigão (Recife) criada com um galho de oitizeiro -
Isabella Matheus/Divulgação
"Totem", de Paulo Perdigão - Isabella Matheus/Divulgação
Em primeiro plano: Detalhe de "Molecagem", de Chico Crócomo, Piracicaba (SP) -
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"Brasileiras e brasileiros", de Augusto Japiá (PE) - Paulo Lima/Divulgação
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Detalhe da obra feita com caixas de fósforo, que recebeu na Bienal Naïfs o Prêmio Destaque Aquisição - Eugênia Bezerra/Especial para o JC Imagem
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"Dona Ritinha catadora de latinhas", de Sandra Aguiar (Olinda), recebeu o Prêmio Destaque Aquisição - Eugênia Bezerra/Especial para o JC Imagem
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"Os repentistas", de Nena Borges, artista de Bezerros que recebeu uma Menção Especial - Isabella Matheus/Divulgação
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"Estação Luz", de Marilene Gomes, que mora em Santana do Parnaíba (SP) - Isabella Matheus/Divulgação
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"Serenata", de Rosângela Politano, Socorro (SP) - Eugênia Bezerra/Especial para o JC Imagem
"Gêmeas" e "Navegantes", de Claudia Nên, Aracaju (SE), que conquistou o Prêmio Incentivo -
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Destaque aquisição: Eleição de homens-sapo-mola e "Sementes, plantio e colheita", de Denise Costa(PB - Paulo Lima/Divulgação
"Solte suas ideias", de Alemão, São Sebastião (SP). Caminhos", de Rosa Pereira, Socorro (SP) -
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"O baile das caveiras", do Mestre João do Carmo, Jaboticabal (SP) - Paulo Lima/Divulgação
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Direita: Duas pinturas da série "Futebol de fazenda", de Zéca Maria, de Ribeirão Preto (SP) - Paulo Lima/Divulgação
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Díptico "Ribeirinhos", de B. Castro, Jaboticabal (SP) - Paulo Lima/Divulgação
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A repórter viajou a convite do Sesc

O texto completo está no Caderno C deste sábado (9/8), no Jornal do Commercio.

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