Fotografia é muito mais do que a escrita com luz – resumir a atividade a isso seria como dizer que escrever é passar a caneta em um papel. Para refletir sobre a dimensão humana, antropológica e social das imagens, o Museu do Homem do Nordeste realiza, há seis anos, o evento Theória, com debates e exposições. Nesta terça (4/11), o evento dá o pontapé inicial de sua edição abordando a temática Brasil: Imagens Nômades.
A programação começa com um tributo ao fotógrafo Alexandre Severo, falecido este ano, feita pelo professor José Afonso Júnior, às 18h. Depois, às 19h, Fraya Frehse, professora da Universidade de São Paulo, faz conferência sobre a fotografia de rua do século 19. “O Theória é uma mobilização anual do olhar”, define Ciema Mello, coordenadora do evento. Segundo ela, num museu que em seu acervo ainda fala de um Nordeste antigo realizar eventos assim, com parcerias com fotógrafos e jornalistas, é uma oportunidade de atualizar essa visão.
Na sexta-feira, o Theória faz a abertura da exposição desta edição. Na mostra Sertões nômades, o evento celebra a fotografia de Severo com a série Sertanejos. Com parte do acervo do JC Imagem, ela mostra personagens inscritos no imaginário do Nordeste com elementos contemporâneos. Dois outros olhares se juntam ao dele: o do pernambucano Ricardo B. Labastier, do JC Imagem, e o da gaúcha Fernando Chemale, que mostra a Feira de São Cristovão, no Rio de Janeiro.
Labastier decidiu mostrar o nomadismo do Sertão por meio da água. Em Opara – termo usado pelos índios para definir o local como um rio-mar –, o fotógrafo pernambucano leva para a beira do mar elementos tradicionais do imaginário sobre o sertão, como ferraduras, sacos de feira e chifres. “Quando se fala em sertão eu penso em água, até por sua ausência. O nomadismo para o interior do Nordeste também sempre foi feito através dela”, conta.
O editor do JC Imagem Heudes Regis se junta à repórter do JC Adriana Guarda para comentar os deslocamentos contemporâneos para e do Recife, tema de uma matéria dos dois profissionais. “Nessas fotos tentei fugir do meu hábito, fazer imagens diferentes. Foi difícil buscar quadros menos retos, fotografias sem elementos nítidos, com pouca luz”, comenta Heudes.